O criador do menino de cabelo azul

1 - AlexandreBeckAlexandre Beck se considera uma pessoa com muitas dúvidas. Muitas!

E seus questionamentos ele coloca para fora no traço e na boca do seu personagem mais querido: o Armandinho, um moleque de cabelo azul e melhor amigo de um sapo. Cheio de atitude, veio ao mundo para espalhar amor, humor e reflexão.

Esse publicitário, agrônomo e ilustrador, pai de dois jovens, criou seu terceiro rebento em 2009, meio por acaso.

E o acaso virou um sucesso quando Armandinho ganhou uma página só dele no Facebook, atualmente com mais de 900 mil curtidas. Das tirinhas também já nasceu uma coleção com oito livros que reúnem as melhores passagens desse esperto menino.

Nada mau para um pirralho que ama os animais e foge do banho com o diabo da cruz!

 

Como nasceu o Armandinho?

Certamente das minhas muitas dúvidas. Comecei a fazer tiras em jornal em 2002. Na época, tinha outros personagens, e vivia colocando minhas questões naquele espaço. Um dia, em 2009, me pediram tiras pra ilustrar uma matéria sobre pais e filhos. Pelo tempo escasso, usei o desenho de um menino que tinha pronto e rapidamente desenhei pernas pra representar seus pais. O resultado agradou editores e leitores. Fui amadurecendo a ideia e, seis meses depois, troquei os personagens que eu fazia por este que veio a ser o Armandinho. Mudei um pouco a abordagem, mas continuo colocando minhas dúvidas nas tiras. Mas tenho dúvidas se é a melhor forma…

O Armandinho tem muito de você ou de seus filhos? Você se inspirou em algum conhecido para criá-lo?

Ele não foi inspirado em ninguém em particular. O Armandinho certamente tem muito dos meus filhos, do meu sobrinho Vicente e de muita gente. De mim, como autor, também, claro. Cada personagem carrega muito de mim. Muitos diálogos são os diálogos que tenho comigo mesmo.

 

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Como você encontra o equilíbrio entre a ingenuidade e o tom questionador e irônico do personagem?

Não sei qual seria a medida exata. Eu não procuro. Faço de acordo com meu espírito mesmo, o meu humor no momento. Se há um equilíbrio nelas, é o equilíbrio que procuro ter na vida. E é uma busca contínua.

Quais são os temas mais presentes nas suas tirinhas?

Creio que são muitos. Relacionamentos entre pais e filhos (sou filho e pai de dois jovens), cultura, hábitos, preconceitos, meio ambiente, direitos humanos e algum humor. Depende de como estou, o que está me incomodando ou preocupando no momento.

 

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O que é mais desafiador: ilustrar ou escrever?

Escrever. É o que conduz. E, às vezes, a gente escreve com desenhos, sem textos.

O quadrinho é uma forma de arte, mas ganha também, muitas vezes, um contorno crítico e provocador que extrapola seu formato, muito associado à pura diversão. O que você pensa sobre isso?

Vejo as tiras que faço como um canal de comunicação. Faço o que penso que deva fazer, sem me basear em teorias. Toco em assuntos difíceis, mas que julgo importantes de serem discutidos. Sou, com frequência, criticado por isso, mas faz parte. Prefiro que seja assim. Vejo com muitas ressalvas o termo entretenimento, tão associado a quadrinhos. Penso que já estamos entretidos demais.

Tem alguma tirinha predileta?

Gosto das tiras mais leves, mais puras, humanas. Com um tipo de humor talvez um tanto particular. Uma que gosto muito é onde o Armandinho está andando quando a mãe pergunta se ele já arrumou o quarto. Como não tem resposta, ela avisa que alguém vai ficar de castigo. Ele fala consigo mesmo: “tomara que seja o papai”.

 

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Você esperava o sucesso que Armandinho fez a partir da sua entrada no Facebook?

Também desconfio dessa palavra, “sucesso”… Está associada à fama e dinheiro (quando vou a escolas, crianças me respondem isso). Coloquei as tiras no facebook quando mudei de Santa Catarina para o Rio Grande do Sul, para mostrar aos meus amigos antes de mandar ao jornal. Não esperava que o personagem se tornasse conhecido. Do meu ponto de vista, vejo o “sucesso” do personagem nas discussões e debates que acontecem por causa dos temas levantados nas tiras. Há a oportunidade de diálogo, de aprendermos uns com os outros.

Quais são os seus planos para este ano?

O maior é voltar a morar em Santa Catarina, com tudo o que isso implica. Voltar a pintar, estar mais próximo de velhos amigos e da família. Do Armandinho, devem ser lançados mais dois livros.

O que o próprio Armandinho acha de toda essa exposição e fama?

Acho que ele não sabe.

E qual é o sonho mais secreto do Armandinho?

Precisaria perguntar pra ele. Não sei se ele tem… não sei se ele sabe. E se soubesse, acho que ele não contaria. Porque é secreto, né?

 

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Author

Jornalista, roteirista, mãe, poeta, editora, escrivinhadora, atriz. Mulher. Sou filha da PUC-Rio, formada em Comunicação Social com habilitação em jornalismo. Trabalhei em revistas sobre meio ambiente e educação. Fui parar na TV na produção do Globo Ecologia e logo estava participando da criação do Canal Futura, onde fiquei por mais de 7 anos. Trabalho na MultiRio, uma produtora de multimeios educativos da prefeitura do Rio de Janeiro, há 10 anos, atuando como roteirista e editora. Colaborei para os sites Opinião e Notícia e para o ArteCult escrevendo sobre Educação, Cultura, Cidadania, Meio Ambiente e fazendo várias entrevistas. Escrevi também para a Revista do Senac Educação Ambiental por cinco anos. Me formei em teatro pelas mãos de Bia Lessa. Fui dirigida por Alberto Renault e Roberto Bontempo. Conheci muita gente talentosa. Aprendi com muita gente boa. Fiz cursos livres de canto, de dança flamenca, de locução de rádio e de roteiro para TV e cinema. Sou uma leitora contumaz. E ótima ouvinte. Gosto de observar a vida e de dar pitaco em alguns assuntos os mais variados. Mãe de dois adolescentes, continuo aprendendo sobre a vida todos os dias. O humano me encanta. E me aterroriza também!