ele andava por aí, se ajeitando ao ventos, sem se preocupar com passado ou futuro; tudo o que tinha era um presente ausente de nada, sem bolsos para guardar lembranças, sem setas para guiar seu caminho, ele seguia, uma direção infinita para que o nunca se acabasse e que todos sobrevivessem, essa era a sua missão, era o que tinha e o que podia fazer, andar pelas ruas, solitário como um cão, vazio e faminto, sem muito jeito, sem muitas palavras, sem poder parar, sem querer pensar, afinal ele era o guardião de tudo e de todos e ele tinha que prosseguir, se alguém ali tinha que continuar sua vigília era ele, que ficava ao relento, que comia sobras, que bebia a chuva, que vasculhava o lixo, que não se importava, que não tinha escolha, pois ele era o escolhido e quando tudo acabasse ele ainda iria estar ali para catar os restos, ver o que sobrou e recomeçar de novo, e renomear as coisas, e olhar em volta; quando acontecesse, ele ia sentar naquele banco da praça e olhar à sua volta, pra todo aquele horror, pro que tinha restado, e ia querer chorar, mas agora não era hora de pensar sobre isso, ele não podia parar, nem evitar, nem avisar, nem mudar o caminho das coisas; por isso caminhava, não se importava quando o evitavam, saíam de perto, sentiam seu cheiro fétido, ele era o escolhido, era isso o que importava, e ele estava lá.
Author
Cristina Teixeira, bacharel em direito pela PUC–RIO e jornalista pela Bristh Association, tornou-se especialista em dramaturgia pelo Royal Court Theatre – Inglaterra.
Professora convidada da Tate Modern e do Actor´s Centre e Diretora de Literatura do Blue Elephant Theatre iniciou a programação de peças contemporâneas, incentivando a leitura e a criação de novos textos dramatúrgicos.
Suas peças foram apresentadas em vários festivais europeus inclusive o Edimburgh Fest 2005 com indicação para o prêmio Guildhall de melhor autor.
Através da Longshotscreenwriting Company, produziu e dirigiu filmes experimentais no seu estúdio em Brixton, entre eles, “Why God Made the Movies”, premiado como ‘o curta mais assistido no 3 BTV’ – Londres – 2000.
Em 2009 seu conto”Mistery” foi escolhido pelos artistas da”Thether” para participar da instalação “Murder in the Kremlin” na “Wasp Room Gallery”- Birmigham – UK.
Reality Theatre, gênero criado por Cristina Teixeira para o desenvolvimento da trilogia Runners, encantou o publico e crítica por seis meses no Teatro Solar de Botafogo ao ter a sua primeira parte encenada –Rio de Janeiro- 2010.
O seu primeiro romance “O reino do homen de um olho só” foi lançado na livraria Argumento do Leblon. – Rio de Janeiro, dia 6 de novembro- 2012.