Eu me preparava pra trabalhar no laptop quando meu filho entra no quarto e anuncia, tal qual um arauto da desgraça: a internet parou.
_ Ih, filho, vai lá na sala ver se a empregada esbarrou em algum fio, ela acabou de limpar por lá.
Dez minutos depois:
– Mãe, tentei tudo, acho que vou ligar pro pai.
Três minutos depois:
– O pai disse que o problema é da internet fora daqui de casa. Temos que ligar pra Oi.
Liguei. Depois de discar 1, discar 5, discar 8, saber o valor da minha fatura, confirmar meus dados e anotar o protocolo número 201655478903345612945339, finalmente consigo ser atendida por uma humana gente boa e paciente, a Laís:
– Em que posso ajudá-la?
– Minha internet parou de funcionar.
– Quando?
– Tem uns 15 minutos.
– A senhora tem um celular para que eu possa ligar?
– Pra quê?
– Vou precisar que a senhora faça alguns procedimentos na linha fixa… – me sentindo um médico prestes a abrir a barriga de um enfermo, passei meu celular. Ela ligou:
– A senhora pode me dizer qual a marca e o modelo do modem?
– Oi?
– A marca e o modelo do modem. Estão escritos no aparelho… – meu filho escolheu esse momento para entrar no banho e me abandonou à minha própria sorte. Lá fui eu descobrir a primeira pista da gincana que se seguiria. Achei o modem, achei a marca e o modelo, lendo tudo o que estava escrito nele. Laís continua:
– Que luzes estão acesas? – lembrando daquela piada do português, respondi:
– A do power está acesa. A do computadorzinho desenhado está piscando. A do modem está acesa e a da internet está apagada.
– Ok. Agora, a senhora encontre a caixinha do modem conectada à parede, na tomada do telefone.
– Oi?
– É uma caixinha que tem duas saídas: uma para o telefone fixo e outra para o modem.
– Laís, você vai ter que esperar agora, porque isso fica atrás da mesa, que tem o tamanho de uma canoa e pesa uma tonelada mesmo com rodinha. Vou deixar no viva voz, ok?
– Ok… – pensando na cara de paisagem que Laís deveria estar fazendo, comecei a arrastar a mesa da parede. Ela tem uns 2,5 metros de comprimento e quase 1 metro de profundidade. Não me perguntem por quê. Presente herdado a gente agradece. Retirei monitor, caixas de som e os milhares de objetos que meu maridinho querido adora espalhar pela larga superfície e me debrucei com dificuldade para achar a tomada do telefone com a tal caixinha. Sem não antes me horrorizar com a poeira acumulada ali atrás, papeizinhos amarelados há muito perdidos e – olha a minha caneta do cinemax ali! Foquei de volta na missão.
– Achei! – devo ter gritado a ponto de ter assustado Laís. Mas ela pareceu ignorar.
– Agora, a senhora desconecte o fio da parede, retire o fio do modem da caixinha e o ligue diretamente na parede.
Obediente, me estiquei para tentar desconectar o raio do plug da parede. Vocês já tentaram desconectar um raio de plug de telefone da parede que está lá, imexível, há uns 5 anos? Depois de segundos apreensivos, já suando, resfolegando, com medo de Laís desligar, consigo! Mas deixo cair!
– Porra! – começo a xingar meu filho querido, ainda no banho. – Peraí, Laís, que o fio caiu no chão. – Ela nem responde. Com a ajuda de uma tesoura, apanhei o fio lenta e cirurgicamente, para não cortá-lo. Retirei o fio do modem da caixinha e o reconectei na parede direto. – Pronto! Modem ligado! – exclamei, me sentindo vitoriosa e ofegante.
– Agora, diga se a luz da internet na caixa do modem acendeu.
– Não! – minha pequena alegria se esvaiu.
– Ok. Vou pedir agora pra senhora estar fazendo outro procedimento. – ai, Jesus, pensei. – A senhora abra a internet e digite 192.832.1.1.
– Pronto.
– Apareceu uma caixa com login e senha?
– Sim. – neste momento, meu filho chega, limpo e cheiroso, e murmura: eu já fiz isso. De repente, a página some. A mensagem “não é possível abrir a conexão com a internet” ao lado daquele dinossaurozinho (que eu nunca entendi!) surge. – Ih, não, Laís. Sumiu!
– Ok. Qual é o status no ícone da internet no seu monitor? – olho interrogativamente para o meu super filho e ele aponta.
– Sem conexão com a internet.
– Ok. A senhora tem outros modems particulares na casa? Se tiver, vou pedir que desligue, bem como aparelhos de wi-fi.
– Tem um só do wi-fi. Desligado.
– Ok. Eu vou pedir para a senhora estar fazendo outro procedimento. – mas agora meu filho já está ali. Ele que faça o procedimento. Sentei. – A senhora desconecte todos os fios do modem, espere 10 segundos e reconecte. Mas deixe o cabo de energia, não desligue o modem. – Meu filho retira dois fios. Esperamos, mudos de expectativa. Ele reconecta. Eu vou narrando.
– Acendeu o power. Está piscando o modem. Mas a internet está apagada.
– Ok. Então, agora, vou pedir que a senhora desconecte o fio do modem que o liga ao computador e inverta.
– Oi?
– A senhora deve reconectar o cabo com as pontas trocadas.
– Laís, querida, leva a mal, não, mas o gabinete está embutido na mesa de mil quilos, com uma floresta de fios emaranhados atrás. Isso não vai dar pra fazer!
– Ok. Peço que a senhora aguarde na linha enquanto eu vou estar verificando com o suporte técnico.
– Ufa! Pensei que ela fosse pedir que eu desse 3 pulinhos pra São Longuinho e bebesse água de cabeça pra baixo! Que novela!!! – murmuro pro meu filho calmamente sentado no chão ao meu lado. Dali a pouco, Laís volta:
– Dona Patrícia, eu acionei o suporte técnico que vai estar verificando o problema, ok? Em até 48 horas acreditamos que ele seja solucionado. Mais alguma coisa em que posso ajudar?
– Laís, leva a mal, não, mas ficar 2 dias sem internet em casa não dá!
– É o procedimento, senhora.
– Não tem um número de protocolo para que eu possa acompanhar isso pelo 4G do meu celular?
– A senhora pode anotar a O.S. que eu abri? O número é 3465983670092113945632.
Quase aos risos nervosos – pra quê um protocolo tem que ter tanto número?!!, mão tremendo, me despedi da simpática Laís. Eu e meu filho nos olhamos diante da zona que ficou o escritório.
– Filho, reconecta o telefone fixo aí atrás, por favor. – dei as dicas e em segundos o comprido braço dele já tinha colocado tudo no lugar. Eu ia me retirando quando ele grita:
– Ei, mãe! Temos internet!!
Felizes, aliviados, cansados da gincana, nos abraçamos. Apenas mais uma crise doméstica superada…