Paraty supera Rio e Salvador e vira o destino mais buscado na Consciência Negra


Por Álvaro Tàllarico

Paraty em foto de Alvaro Tallarico

Paraty em foto de Alvaro Tallarico

 

Paraty vira o destino mais buscado na Consciência Negra

 

Paraty. Tenho muito carinho por essa cidade, a qual já me proporcionou tantas histórias. Vou contar uma mais abaixo. Mas, enquanto isso, digo que a joia da Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro acaba de confirmar mais uma vez seu protagonismo no calendário turístico brasileiro. Segundo dados divulgados pela Civitatis, plataforma global de atividades turísticas, a cidade fluminense foi o destino nacional mais reservado pelos brasileiros no feriado da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. O levantamento revela que o free tour pelo centro histórico foi a atividade mais procurada, reforçando o apelo do conjunto formado por construções coloniais preservadas, gastronomia em alta e praias que seguem entre as mais bonitas do país.

O desempenho expressivo fez Paraty ultrapassar destinos tradicionalmente disputados, como Rio de Janeiro e Salvador, que completam o top 3 nacional. Em seguida aparece Penha, impulsionada pelo Beto Carrero World, e Recife fecha o ranking. Já no cenário internacional, Buenos Aires retomou a liderança entre as cidades preferidas dos brasileiros durante feriados prolongados, seguida por Paris, Roma, Nova York e Santiago.

 

Top 5 – Destinos Internacionais

  1. Buenos Aires (Argentina)
  2. Paris (França)
  3. Roma (Itália)
  4. Nova York (Estados Unidos)
  5. Santiago do Chile (Chile)

 

Top 5 – Destinos Nacionais

  1. Paraty (RJ)
  2. Rio de Janeiro (RJ)
  3. Salvador (BA)
  4. Penha (SC)
  5. Recife (PE)

 

A atração por Paraty, no entanto, vai além da beleza natural ou da arquitetura singular. A cidade consolida-se como um polo cultural vibrante, capaz de unir história, literatura, música, gastronomia e afeto num mesmo território. E esse magnetismo se reflete tanto nas estatísticas quanto nas vivências reais de quem circula por suas ruas de pedra. Como já fiz tantas vezes…

Lembranças de Paraty: Tempestade, falta de luz e poesia

A Festa Literária Internacional de Paraty, a famosa FLIP, é um marco no Brasil e me traz muitas boas memórias de Paraty. Em 2023, por exemplo, cheguei por lá na quarta, dia 22 de novembro, e ainda arrumavam as coisas as tantas casas de editoras e afins. Peguei algumas programações e anotei o que gostaria de ver. São muitas rodas de conversa sobre literatura, artes, música e tudo mais onde a palavra é a heroína. É viciante esse evento. Tem uma efervescência cultural única. Já foi mais elitista, mas não conheci nessa época. Hoje em dia há toda uma alternatividade, muito simbolizada pela FLIPEI, a área dos independentes, e locais especiais e mágicos como a Casa Poéticas Negras.

Naquela quarta, o sol era quente e o suor escorria pelo meu corpo enquanto caminhava nas difíceis ruas de pedras. Aqueles que arriscam saltos altos sofrem, e correm perigo real de vida. Eu estava com meu chinelo clássico. Porém, a previsão era de chuva, que chegou na quinta-feira com força a partir da tarde. Antes da água descer com vontade, almocei num a quilo e encontrei, sem querer querendo, um local que buscava desde o dia anterior: a Casa Poéticas Negras. Fui recebido por um ambiente cheio e pulsante, com crianças, artes africanas, vestimentas étnicas e a descoberta de uma feijoada vegana que provaria horas depois. Acontecia a conversa “Infância e vivências afroreferenciadas” com Sidnei Nogueira, Luciana Itanifè e Priscila Obaci. As falas de Sidnei e seu livro que bebe direto na tradição da oralidade emocionaram.

Paraty em foto de Alvaro Tallarico

Paraty em foto de Alvaro Tallarico

 

Em seguida, tive uma aula incrível através do escritor Amauri Queiroz em um bate-papo cujo tema era “Educação, literatura e cultura para uma sociedade mais inclusiva”. Ele explicou como Tiradentes foi algo inventado e como nos falta uma educação de História mais apurada, em especial sobre a escravidão, a independência e o legado que nos restou. Ao seu lado, o poeta baiano Nelson Maca invocava orixás com rimas precisas, enquanto Iya Marta Sales trazia uma aura pacífica. Contudo, a chuva ainda iria piorar e traria problemas para a cidade.

Conversei com Amauri e Nelson e saí com seus respectivos livros autografados. Com o passar do tempo, e o não passar da chuva, resolvi experimentar a feijoada vegana. Veio muita comida, caprichada e saborosa. Foi então que finalmente, rolou uma trégua do céu e voltei para a minha caminhada. Encontrei a Casa Urutau e troquei algumas palavras em inglês com uma indiana que buscava opções vegetarianas. E acabei esbarrando com João Luis de Souza, o responsável pelo famoso Corujão da Poesia. Ele procurava a Casa Utopia. Achei, e fomos juntos. Ele me disse que faria um sarau às 19h30.

Foi nesse momento que tudo ficou escuro. A cidade se apagou. A chuva apertava e a luz se acabava. Começaram a reclamar da ENEL. Mas João disse que o Sarau tinha que acontecer. O jovem Bernard arrumou duas velas, todos se reuniram, tendo João sentado no centro como um rei, um mestre de cerimônias, um griô.

Ali conheci escritores, poetas, artistas, declamei minha letra “Preto de Azul” e ouvi histórias diversas. A graça da FLIP é exatamente esse tipo de confluência que acontece entre destino, coragem e poesia.

Ao redor das velas, perto de um beco, foi uma noite feliz e utópica, como um sonho bem vivido, potentemente dito.

Literariamente bendito.

Uma linda mulher e Pablo Neruda em Paraty (foto: Alvaro Tallarico)

Uma linda mulher e Pablo Neruda em Paraty (foto: Alvaro Tallarico)

 

 

Álvaro Tàllarico

 

 

 

 

 

 

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Author

Alvaro Tallarico é jornalista cultural formado pela UERJ, especializado em cobrir música, cinema e eventos culturais. Atua como colunista no Diário do Rio e repórter no FutebolBR, além de ser locutor na Rádio Catedral FM 106,7. Criador e editor do portal Vivente Andante, ganhador do Edital Cultura Presente nas Redes, já entrevistou personalidades do cinema, teatro e música, e participou de grandes eventos. Tem mais de 100 episódios no Podcast Vivente Andante e segue com o podcast Álvaro Tàllarico Entrevista no Spotify. Vencedor de Melhor Trilha Sonora Original com o filme "O Preto de Azul" no Festival Bananeiras de Cinema.

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