Coluna de Chris Herrmann
Imagem: Shutterstock
O horizonte é esse silêncio que nos observa primeiro, como se soubesse daquilo que ainda não ousamos sentir.
MAR E HORIZONTE
o mar sempre a ensinou a caminhar
mesmo quando não havia chão
: só essa linha tênue onde a pele encontra
um silêncio em ondas que não termina.
ela encostava os pensamentos nas marés,
procurando um sentido que nunca vinha
inteiro, mas vinha vivo, como um sopro
salgado que devolve o nome
a quem quase o perdeu.
e ali, na dobra líquida do infinito,
ela descobriu que todo começo
tem o formato exato
de um amanhecer bonito.
HORIZONTE PERDIDO
havia um horizonte que ela carregava
por dentro [discreto, aberto, tenso],
como quem esconde um mapa amarelado
num bolso do coração.
um dia, o vento virou o mundo de lado
e o caminho se dobrou em ruído,
quebrando a bússola que a guiava.
por instinto, ela seguiu as luzes tortas,
as trilhas imprecisas, os acasos do tempo.
e só depois percebeu:
o horizonte que julgava perdido
sempre esteve ali, imóvel, calmo,
esperando o instante de ser
redescoberto e erguido.
VOCÊ FOI MEU HORIZONTE
eu caminhava até você
como quem segue uma claridade íntima,
dessas que não se explicam
: apenas acontecem.
você era a linha tênue
onde meu medo repousava
e minha esperança ganhava rosto.
mas horizontes também se movem,
e o seu fugiu devagar, quase sem som,
até virar ausência no espelho da tarde.
mesmo assim, ainda guardo em mim
o contorno do que foi promessa,
um eco suave que insiste em ser começo
que não cabe no adeus.

Autora: CHRIS HERRMANN
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