Sobre peso na consciência

Coluna de Márcio Calixto

Sobre peso na consciência

 

Liguei para nosso editor. Já afirmei aqui mesmo o doce de ser humano que ele é. Para os mais íntimos, ele suplanta o poder de um irmão, de um pai. Sabem de sua afeição aguerrida e intromissa nesse mundo de cultura. É um legado maravilhoso.

Estava dirigindo, local onde ultimamente muito de meus textos têm se gestado. Por vezes, anoto uma ideia ou outra, decoro parágrafos, dito algo para o gravador. Para os que me conhecem, sabem o quão workaholic sou, por ser produto de uma geração educada a achar o ócio um perigo, um exercício à inutilidade, dessa vez, dirigindo, me veio um peso na consciência.

Mandei mensagem para Raphael. “Querido, que peso na consciência, por que nunca pensei em abrir uma editora contigo?”. Não sei há quanto tempo eu contribuo para o Artecult. Por causa da minha realidade como professor e meu apego à tecnologia, escrever era ter um momento a parte, diante de uma tela e escrever. Hoje, com o bendito caderninho, tenho escrito à caneta, como antigamente. A chave virou.

Passei a pensar no site, no grupo, nos colegas que aqui estão, os que já passaram. Por que não dediquei toda a minha energia ativa que hoje destino a projetos diversos ao site ou às ideias que aqui podem ser colocados? Volto-me a não me perdoar, a me julgar profundamente. Chego a parar o carro. Fazer tal aqui no Rio de Janeiro é de uma ingenuidade atroz. Tenho, ao longo desses anos, direcionado muita energia a projetos lindos, sociais, mas que me colocam em um segundo plano. Isso nunca foi um problema. Porém, e esse peso na consciência? Por que não me dedicar apenas à produção cultural? Vou concentrar minhas forças aqui. A esse espaço que tanto me acolheu e que agora tem de ser alvo profundo de meu amor.

Perdoe-me, editor, por só ter percebido agora.

 

MÁRCIO CALIXTO
Professor e Escritor

Márcio Calixto. Foto: Divulgação.



Coluna de Márcio Calixto

 


Author

Professor e escritor. Lançou em 2013 seu primeiro romance, A Árvore que Chora Milagres, pela editora Multifoco. Participou do grupo literário Bagatelas, responsável por uma revolução na internet na primeira década do século XXI, e das oficinas literárias de Antônio Torres na UERJ, com quem aprendeu a arte de “rabiscar papel”. Criou junto com amigos da faculdade o Trema Literatura. Tem como prática cotidiana escrever uma página e ler dez. Pai de 3 filhos, convicto carioca suburbano bibliófilo residente em Jacarepaguá. Um subúrbio de samba, blues e Heavy Metal. Foi primeiro do desenho e agora é das palavras, com as quais gosta de pintar histórias.

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