
com César Manzolillo

O CAFÉ ESFRIANDO NA MESA
Era uma tarde dessas em que o Sol insiste em brilhar, ignorando as sombras que habitam dentro da gente. No canto da cafeteria, uma xícara de café fumegava. A mulher que a acompanhava olhava pela janela sem contemplar a paisagem. Seus olhos perdidos estavam fixos em algum ponto interno, distante do movimento da rua. Ela suspirou. Não era um suspiro dramático ou algo que pedisse atenção. Era um desses suspiros que a vida solta quando decide pesar demais nos ombros. A dor da existência não vinha de um grande trauma, de uma perda recente ou de uma tragédia. Era uma dor nascida do cotidiano, da repetição incessante de dias iguais. Um ciclo infinito de acordar, trabalhar, comer, dormir e repetir. Ao seu redor, outras pessoas pareciam travar batalhas invisíveis. O jovem na mesa ao lado, digitando no laptop, olhos que denunciavam noites maldormidas. O garçom sorria para todos, mas seus ombros caídos entregavam cansaço. A xícara diante dela era um símbolo: do tempo que passava sem aviso, de escolhas adiadas, de palavras que ficaram presas na garganta. Ela suspirou de novo e, dessa vez, pegou a xícara. O café estava frio, mas Sofia tomou assim mesmo. Às vezes, é isso que fazemos com a vida. Engolimos, fria ou quente, doce ou amarga, e seguimos em frente.

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Que beleza de texto! Lírico e,,ao mesmo tempo, forte e cru, como o Tempo que passa a nossa frente, inexorável. Parabéns!
Gostei muito do conto! A mulher protagonista representa cada um de nós, diante das inquietudes da vida. Parabéns!