com César Manzolillo
UMA COISA HORRÍVEL
Acho que fiz uma coisa horrível.
Assim começava a mensagem de áudio que Priscila enviou a Sofia, sua melhor amiga, tão logo saiu da casa de Rodrigo. Ainda no jardim, antes de alcançar o portão, lembrou-se do que a mãe vivia repetindo: “mulher decente chega virgem ao altar”, “sexo fora do casamento é pecado e não agrada a Deus”. Não sabe direito como tudo pôde acontecer. Ela e Rodrigo estudavam juntos desde o jardim de infância. Estavam sozinhos na casa dele preparando um trabalho de ciências sobre anfíbios. Ele foi se aproximando, tocou suavemente seu braço, falou palavras carinhosas em seu ouvido, roubou um beijo…
Priscila foi aprovada em terceiro lugar no vestibular de Educação Física. A partir de março, passaria a estudar numa das melhores universidades do país. Na segunda semana de aula, festa de recepção dos calouros. Vicente, aluno do sexto período, se aproxima dela. Numa área mal-iluminada perto da piscina, ele pega na mão dela com delicadeza e fala baixinho palavras carinhosas em seu ouvido. Tenta lhe roubar um beijo, mas Priscila resiste. Ele não desiste e faz nova investida. Agora mete a mão embaixo da saia dela e berra palavras ofensivas. Derruba a jovem e sufoca seu grito… Priscila se desvencilha e empurra Vicente. Ele bate a cabeça no chão, uma pequena poça de sangue surge perto da testa. Já fora clube, Priscila saca o telefone e liga pra Sofia. Assim que a amiga atende, diz:
Acho que fiz uma coisa horrível…
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com César Manzolillo
Ao que parece, há duas vítimas aqui.
Não deixa de ser uma fragilidade nossa quando um trauma deixa engatilhado para o futuro uma reação violenta, aguardando que ocasião semelhante se repita.
Sempre tive medo de fazer um mal a alguém de forma inesperada, num susto, ou mesmo numa legítima defesa que acarretasse resultados mais gravosos. Tento sempre pensar antes e medir bem os meus atos. Ótimo conto. Abs!