De repente, o telefone tocou. Eu estava ali, tão entretido com minha labuta diária, quase soterrado de processos, que demorei a perceber que o aparelho tocava insistentemente. Ao pegá-lo, vi que se tratava de um número desconhecido… Ora, quem seria? Sobre o que poderiam querer falar comigo? Certamente, algum assunto sem importância, corriqueiro, trivial. Porém, ao atender, fui surpreendido com algo inesperado: um convite do Portal ArteCult para escrever sobre minha grande paixão, a gastronomia.
Inicialmente, fiquei sem palavras. Elas rapidamente fugiram de mim, deixaram-me mudo. Gaguejei, tateei no escuro, tropecei na ansiedade. Por fim, ainda sem saber se daria conta, resolvi aceitar o desafio…
Mas qual seria o tema do meu primeiro artigo? Ihhhh, vozes começaram a pipocar na minha cabeça: Ei, fale sobre algo novo, que tal gastronomia molecular? Ou sobre Food Design? Talvez, quem sabe, sobre receitas, preparos, truques, dicas, harmonizações… não, acho que não. Poderia, ainda, falar das novas de técnicas, antes inacessíveis e agora mais próximas do cozinheiro curioso, como o sous-vide. É, pode ser. A gama de assuntos é imensa e variada.
Mas aí me veio um insight: por que não me apresentar, nesse primeiro momento? Afinal de contas, isso é o que se espera de um ilustre desconhecido, principalmente quando ele invade um espaço – nesse caso, um espaço bastante especial – e passa a falar pelos cotovelos sobre um assunto tão mágico e apaixonante! E, de quebra, tocar no assunto dos realities de culinária, que andam tão em moda ultimamente… É isso! Bingo!
Mas vamos do início.
Sou Del Schimmelpfeng, vencedor da décima nona edição do reality “Jogo de Panelas”, quadro do programa “Mais Você”, atração da Rede Globo capitaneada por Ana Maria Braga.
Por ter cozinhado sempre, ainda que somente em casa para familiares e amigos, resolvi me inscrever no site do programa. Já havia tido uma experiência frustrada, pois participei da seletiva para uma edição do “Masterchef”, reality de culinária da Band, mas não passei de fase, certamente pelo fato de ser muito tímido e ter enorme dificuldade de enfrentar as câmeras. Ainda assim, insisti, resolvi arriscar novamente e, para minha surpresa, fui selecionado.
Em um intervalo curto de tempo, tive que encaminhar uma proposta de tema do jantar e um cardápio composto de entrada, prato principal e sobremesa. Aqui, uma primeira dificuldade: como faço as coisas, na cozinha, por intuição, tive que mensurar ingredientes, refazer os pratos numa madrugada e configurá-los em formato de receita. Ufa, deu trabalho! Mas, felizmente, deu certo…
Para o jantar que organizei, ofereci pratos inspirados na saga “Star Wars”. Como entrada, um tartar de salmão, que batizei de “Tartoinne”, planeta natal de Luke Skywalker, personagem principal da trilogia clássica; o prato principal, “Gamorreano na cova de Rancor”, era um filé mignon suíno com purê de batata doce; E, para finalizar, a “Estrela da Morte”, uma maçã recheada. Na final do reality, ainda elaborei um “Cuscuz da Roça”, prato que Ana Maria gostou muito.
O mais difícil de toda essa empreitada, além de enfrentar as câmeras, foi lidar com o tempo, já que todas as atividades eram cronometradas. Eu teria quatro horas para preparar os pratos e, ainda, decorar a casa com o tema escolhido. Não é nada fácil… Sabe o que é olhar e não ver? Pois é, funciona bem assim. Eu estava na minha cozinha, com o meu equipamento, mas não conseguia ver nada e, além da pressão do relógio correndo, havia comentários do pessoal da técnica: olha, o tempo tá acabando… Já se passaram x horas… Faltam só x minutos… Affff, não ajudava muito e apenas piorava a situação! Por isso, a minha enorme surpresa com a vitória no “Jogo de Panelas”, já que tive a sensação de que tinha errado tudo – por certo, a edição me ajudou um pouquinho…
O fenômeno dos realities de culinária na televisão brasileira é recente. De repente, houve uma invasão de um sem-número de competições, sejam elas entre amadores, profissionais, crianças, casais, dentre outros. Famílias inteiras, prostradas em frente ao aparelho de TV, assistindo provas inusitadas, bastante diferentes daquela a que estamos acostumados, gerando situações de tensão dentro da cozinha, torcendo para este ou aquele cozinheiro e suas histórias pessoais, analisando pratos e preparos, dando pitacos de chef. E isto se transformou, realmente, em uma nova mania.
A explosão desse tipo de programação, apesar de ter trazido grande interesse pela gastronomia e conhecimento de técnicas e nomenclaturas, antes restrito aos profissionais do ramo, gerou um pequeno efeito colateral: mostrou uma indevida “imagem” da profissão de chef de cozinha ou de dono de restaurante, cuja realidade é bastante distante do glamoroso mundo apresentado na TV.
Não, não há muito glamour em uma cozinha de restaurante. Há, sim, trabalho árduo, incansável. Muito, mas MUITO trabalho.
Há que se fazer contato com fornecedores, fazer pedidos do que está em falta, pesquisar sobre novos equipamentos e produtos, fazer planilhas, comandar inúmeros funcionários, ver escala de trabalho, tudo isso sob o calor insuportável de uma cozinha de restaurante… Alguém já teve a curiosidade de visitar uma? O vai-e-vem, a correria, esbarrões, gritos, as comandas saltitando no balcão. E mais: chef não folga. Ele possui uma jornada de trabalho insana… Mas se você não é o chef, a regra é que se comece de baixo, limpando sacos e sacos de batata, cortando toneladas de cebola… Não, definitivamente não temos o brilho que a TV nos mostra. Temos suor… E a felicidade de fazer o que se gosta.
Bom, é isso.
A partir de agora, espero contribuir e passar para vocês um pouquinho desse amor incondicional que tenho pela gastronomia e por todas as suas formas de manifestação. Descobriremos – sempre juntos! – pratos novos e inusitados, experimentaremos as inovações do mundo da cozinha e brincaremos, como crianças levadas, com a construção dos sabores.
Assim como ter participado do “Jogo de Panelas” foi incrível, algo que levarei para a minha vida inteira, a experiência de compartilhar um assunto que me fala tão próximo do coração é algo indescritível!
Espero que curtam, tanto quanto eu!
Tenho tido a felicidade de comer vários quitutes do Del. E sempre nos surpreende mais. A-do-ro. Quero sempre mais.
Texto deliciosamente escrito, digno de quem escolhe as palavras tão bem quanto escolhe os melhores ingredientes! No aguardo do prato principal depois desta entrada, parabéns.
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