– Vi você na tevê ontem!
– Ah, obrigado!
– É verdade aquele prêmio?
– Sim, é.
– Eles pagam mesmo?
– Vão pagar, sim.
– Sempre quis viajar no foguete!
– Na nave da Xuxa, você quis dizer?
– No foguete! “Sim!”… “Não!”…
– Ah, Domingo no Parque!
– “Você troca uma bicicleta por uma barra de chiclete?” Sim! “Você troca uma barra de chiclete por um jogo da Estrela?” Não!
– Pena que o Silvio morreu.
– Pena… É bacana lá no foguete?
– Er…não entrei num foguete. Era uma cabine.
– Verdade. Você ficou isolado mesmo?
– Sim.
– Não deram cola de nada? Nadinha?
– Claro que não.
– E seu amigo no palco? Que mão ruim! Perdeu muito na última rodada.
– Sorte, né?
– “Ô louco, meu”! Ah, não, agora é “loucura, loucura, loucura!”.
– Verdade.
– Cem mil? Dá pra fazer uma festa!
– É dinheiro do projeto.
– Um pouquinho sobra, né, não? Pra um churrasquinho de comemoração. Cervejinha no gelo. Pagodinho. As meninas merecem.
– Meninas?
– Do projeto!
– As atrizes! São atrizes. É uma temporada teatral.
– “Pé na areia, caipirinha, água de coco, cervejinha”. Imagina só!
– Com licença, meu horário de almoço já terminou. Foi um prazer.
– Vai dizer que tem horário? Sendo rico?
– Não sou rico.
– Cem paus?
– Não deixam ninguém rico.
– “Abelardo Barbosa, está com tudo e não está prosa”! Sabe quanto ganho? Salário mí-ni-mo!
– Bem, o dinheiro não é meu.
– Rico, sim. Só rico esbanja cem paus em figurino e purpurina. Espetáculo, projeto… Melhor comprar uma casa pra essas meninas!
– Com licença…
– Quanto cada uma ganhou? Uns cinco mil?
– O senhor poderia deixar eu passar, por favor?
– Se estiver precisando de um ator, eu aprendo direitinho. Sempre fui bom de aprender coisa diferente.
– Muito, muito atrasado mesmo.
– Sucesso já subiu à cabeça, né? “Pegue seu banquinho e saia de fininho”.
(A crônica desta semana é uma homenagem desta autora aos programas de auditório que, há décadas, têm entretido as famílias, principalmente aos domingos. Cresci com tantos na tevê: Silvio Santos, Chacrinha, Raul Gil, Flávio Cavalcanti, Moacir Franco, Airton e Lolita Rodrigues… Ao saber da partida de Silvio, há poucos dias, percebi que, apesar de não assistir a seu programa desde adulta, sua existência remetia às memórias da casa materna e à ilusão de um mundo mais seguro, que se tem quando achamos que não há problema que colo familiar não resolva. Um abraço especial a Luciano Huck, que deu oportunidade ao grupo de sapateado Gingers, que integro, de participar de seu programa para tentar ganhar o patrocínio para seu maior sonho. Agarramos a oportunidade com unhas, dentes e muita alegria. Ele ganhou nossa gratidão eterna.)
Confira as colunas do Projeto AC Verso & Prosa:
com César Manzolillo
Que crônica suave,.como nos domingos que assistia os programas de auditório. Como me fez bem. Senti uma alegria imensa. Lendo sua crônica, a minha mente rebobinou o filme da infância, lembrando de cada homenageado. Parabéns pelas Gingers! Parabéns pela apresentação do programa no Luciano Huck.
Na nossa infância, eram muitos programas, né? Também sinto saudade daquele tempo…