Vamos continuar nossas aventuras pelas Terras Altas da Mantiqueira e, agora, trazendo um pouquinho sobre a Estância Hidromineral de PASSA QUATRO (@passaquatrooficial), município situado no sul do Estado de Minas Gerais, distante pouco mais de 10 km de Itanhandu. Antes, porém, vamos saber um pouco da sua história:
Remonta ao tempo da bandeira de Fernão Dias Paes Leme em 1674 a origem dessa cidade encravada na Serra da Mantiqueira no sul do Estado de Minas Gerais. Situada logo após um marco geográfico bastante notável na Serra, a Garganta do Embaú, por onde passou a expedição liderada por aquele bandeirante, teve sua localização descrita em documentos que dão origem ao nome da cidade. Consta também expedições de Jacques Felix, fundador de Taubaté, e seu filho de mesmo nome, em expedições anteriores, datadas de 1646, pela região que podem ter dado origem ao povoamento mais antigo. Este caminho ficou conhecido, mais tarde, como Caminho Velho da Estrada Real. No caminho descrito por André João Antonil, consta o nome do Ribeirão do Passatrinta, logo após a descida da serra da Amantiqueira, mas segundo nota de Andrée Mansuy Diniz Silva, o nome atual desse afluente do Rio Verde é Passaquatro, ou Passa Quatro.
A região começou a ser povoada mais ativamente na segunda metade do século XIX após ser elevado a Distrito em 1854, servindo de parada para quem atravessava a Mantiqueira e se dirigia à cidade de Pouso Alto pela Estrada Real (Caminho Velho). Em 1884, a antiga Estrada de Ferro Minas-Rio, construída pelos ingleses, contribuiu decisivamente para aumentar o povoamento e desenvolvimento da região, tendo tido em sua inauguração a presença do governante de então, o Imperador D. Pedro II. Em 1888 é separado de Pouso Alto e emancipado como município de Passa Quatro pela Lei 3.657 de 1° de setembro, passando esse dia a ser feriado municipal em comemoração do Dia da Cidade.
A cidade teve como autor de seu projeto inicial de saneamento e coleta pluvial o engenheiro sanitarista Paulo de Frontin, que hoje dá nome uma das praças da cidade, localizada no largo da estação ferroviária.
Em 1912 a cidade abrigou uma expedição científica internacional que veio estudar a ocorrência de um eclipse solar. Na ocasião, cientistas de diversos países, chefiados pelo astrônomo Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional, compareceram junto com uma comitiva presidencial, onde estava o Marechal Hermes da Fonseca, presidente da república. O fenômeno foi pouco observado devido às más condições atmosféricas naquele dia.
Foi palco de dois episódios militares do século XX, as revoluções de 1930 e 1932 (em tal Revolução, atuou como médico no hospital municipal o futuro presidente Juscelino Kubitschek. Em 1941 foi considerada Estância Hidromineral pelas propriedades medicinais de várias de suas fontes de águas óligo-minerais, radioativas na fonte, principalmente devido à grande concentração de radônio e torônio. (https://www.passaquatro.mg.gov.br/sobre-passa-quatro-historia.php)
Declarada Estancia Hidromineral desde 1941, PASSA QUATRO possui, além de fontes de água espalhadas nas praças de cidade, atrações que vão do passeio de Maria Fumaça Baldwin de 1929 que leva ao Túnel da Mantiqueira – uma passagem de quase um quilômetro de extensão sob a Garganta do Embaú, entre Passa Quatro e Cruzeiro (SP), ponto de montanhas entre Minas Gerais e São Paulo em que transformou-se em campo de uma guerra civil em 1932, com batalhas que duraram de 9 de julho a 2 de outubro daquele ano, entre os paulistas, que não aceitavam o golpe de Getúlio Vargas, responsável pela derrubada do presidente Washington Luiz, e os mineiros, que se alinharam com o governo federal provisório – ao casario colonial e, também, à natureza privilegiada, salpicada por cachoeiras, florestas, parques e picos. Dos tempos em que morei em Itanhandu, da infância até meus dezoito anos, muitas vezes fui em festas e bailes e tenho boas recordações da cidade.
PASSA QUATRO, por conta dos grandes hotéis que ali se instalaram, ganhou um apelo turístico ainda maior do que suas cidades vizinhas e hoje conta com inúmeros eventos que agitam toda a redondeza e encontram-se cristalizados no roteiro cultural da Serra da Mantiqueira. Além disso, a cidade oferece muitos outros atrativos, como a Gruta das Andorinhas, o Campo do Muro, o Quilombo, a Floresta Nacional do Pinho, a Serra do Cantagalo e a Toca do Lobo.
Na Expedição CAMINHOS DO QUEIJO de ITANHANDU que organizei e que foi objeto de um artigo para o ARTECULT, visitei a QUEIJARIA SANTO ANTONIO (@queijaria_santo_antonio), que produz queijos artesanais – e autorais – muito interessantes. Além dela, também tive contato com outra queijaria que, para minha surpresa, dentre os produtos de seu portfólio, encontram-se queijos especiais, como o Raclette e o Tete de Moine. Trata-se da QUEIJARIA SPANIOL.
Raclette (em português: ‘pequeno rodo’) designa uma preparação culinária de queijo assemelhada ao fondue, típico da Suíça. Normalmente, a raclette é preparada em um recipiente específico, conhecido como aparelho de raclette, que ajuda a derreter o queijo e acomodar as batatas e os pães.
Posteriormente, Raclette passou a designar também o queijo utilizado nessa preparação. É um tipo de queijo de consistência média feito à base de leite de vaca cru. É originário do cantão do Valais, na Suíça, mas, atualmente, queijos pasteurizados para raclette são fabricados em vários cantões da Suíça, bem como em diversas regiões da França (Auvergne, Savoie, Franche-Comté e Bretagne), no Québec e na Austrália.
Avenida Donna Anna da Motta Paes, 75, Fundos Tabuão, Passa Quatro – MG, 37460-000 – @queijariaspaniol
Já o queijo Tête de Moine, literalmente “cabeça de monge”, é um queijo de forma cilíndrica, de pasta semidura e uma consistência muito fina que lhe permite fundir-se na boca. Este queijo não deve ser cortado, antes é raspado em finas rosetas com um fatiador próprio, que vem com manivela.
Dentre os eventos, vale citar o PASSA QUATRO GASTRONOMIA, maior festival gastronômico do sul de Minas Gerais, realizado desde 2010 pela Prefeitura do município, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Desenvolvimento Econômico (SETURP4) e que se tornou uma forte tradição, trazendo cada vez mais visitantes a cada ano. Tive a oportunidade de conhecer o Festival nessa sua edição 2024, que aconteceu entre os dias 5 e 14 de julho na Praça de Eventos de Passa Quatro, onde 17 cozinhas de restaurantes da cidade e um empório de produtos locais estiveram presentes para representar as particularidades da tão acolhedora culinária mineira.
Por sorte, estava na região na época da realização do festival deste ano (2024) e tive a oportunidade de visitá-lo, experimentando alguns dos pratos disponibilizados.
Vale ressaltar que a 14º edição do PASSA QUATRO GASTRONOMIA teve como tema o bioma da Mata Atlântica, buscando a valorização da cultura e dos costumes da região do Sul de Minas.
Bom, depois de toda essa pincelada sobre o município de PASSA QUATRO, que nos ajuda a contextualizar toda a riqueza e possibilidades da região, resolvi encerrar esse artigo do jeito que eu gosto, cozinhando. Há algum tempo, tive contato com um produto, comercializado na cidade, que descobri ter sido uma criação local e que possui status de prato típico.
Eu encontrei, garimpando o Youtube, um vídeo que conta a história da iguaria. O empório KAPORANGA (@kaporanga), que é mencionado no vídeo, fica meio escondidinho, no começo da estradinha que leva à Floresta Nacional de Passa Quatro – Pinho – Antigo IBAMA – ICMBIO, mas é um lugar bem agradável, projetado com muito bom gosto. Ali, como em diversos outros locais do entorno, é possível encontrar o produto, pra levar pra casa e fazer um delicioso almoço de domingo…
É claro que não deixaria de fazer a minha versão com esse produto maravilhoso – além de lindíssimo, visualmente. Seguindo a recomendação, deixei o feijão de molho, de um dia para o outro, descartando a água.
Levei os grãos para uma panela de pressão – sim, é possível fazer em uma panela comum, no fogão à lenha, mas demandaria tempo. Se ficaria mais gostoso? Sim, com certeza. Mas optei por fazer algo mais rápido, já que era um almoço de família e todos os participantes já estavam por demais inquietos e impacientes. A fome é algo que mexe com a gente…
Junto com o feijão, acrescentei batata, abóbora, cebola, cenoura e pimenta dedo de moça e de cheiro, completando com um caldo de legumes que já havia preparado com antecedência.
Enquanto o feijão ia pro fogo, preparei um pouco de quiabo grelhado pra se juntar à salada de couve, ao arroz e à farofa. E peguei as carnes – bacon, linguiça calabresa, paio, lombo defumado – e fui passando elas pela frigideira, com um pouco de banha de porco. Claro que dei uma aferventada nelas, e aquelas que necessitaram de dessalga, eu antecipei o processo. Quando todas as carnes estavam douradas, reservei.
Com o feijão pronto, verti tudo para uma panela maior, separando os legumes e a pimenta de cheiro. Juntei as carnes que havia reservado.
Peguei um pouco do caldo e processei juntamente com os legumes e pimenta reservados, e essa mistura adicionei à panela. O caldo ficou grosso, denso e muito saboroso! Se eu tivesse me lembrado de colher umas folhas de ora-pro-nóbis, essa era a hora de acrescentar…
E aí, depois de finalizar com cheiro verde, foi só servir. Claro que, na hora, nem me lembrei de tirar fotos e a única que consegui, não mostrou a mesa completa – faltou o quiabo e aquele típico torresminho mineiro…
Espero ter despertado curiosidade em todos vocês. Como disse, e já reiterei, a Serra da Mantiqueira oferece incríveis opções de turismo ecológico, gastronômico e de aventura, tratando-se de um tesouro natural brasileiro para turismo de natureza, que merece ser explorado. Que tal acrescentar esse pedaço de paraíso em suas próximas férias?
Fica a dica.