“Bridgerton”, uma das séries favoritas da Netflix, possui impecáveis os cenários, figurinos, direção de arte. Acompanho os episódios com atenção, embora tenha uma ou outra crítica a fazer. A série é leve, para divertir, usa a licença poética de uma corte com uma rainha negra, nobres negros e brancos, e possui cenas sensuais ousadas.
Na terceira temporada, o foco está no casal Colin Bridgerton e Penelope Featherington. Apesar de achar brusca a transformação de amizade em grande amor, por Colin, assim como sua aceitação do ofício da mulher, a ponto não só de reconciliar-se com a ideia mas, num estalo, pular da ojeriza ao orgulho, como todo o público, eram esses os resultados que eu também esperava.
Uma passagem merece especial destaque, pela delicadeza e pelo poder emanado: a nudez de Penelope na cena da primeira relação íntima do casal.
A cena começa com ela diante do espelho, sendo despida pelo noivo. A atriz empresta à personagem seu corpo: baixa estatura, sobrepeso, seios fartos à mostra, a pele muito branca. Depois o casal se deita e a vemos inteira: braços, barriga, um corpo real. Uma cena muito sensual.
Não deveríamos ter que destacar mas é importante destacarmos: Nicola Coughlan, a atriz, é uma mulher linda, com rosto de boneca, pele de porcelana. Tem quase 40 anos e faz, na série, uma personagem adolescente, tamanho é o frescor da sua aparência. Li que a nudez foi sua escolha, após a primeira cena íntima do casal, numa carruagem, ter gerado uma enxurrada de comentários ofensivos, por “haters” e pessoas que fazem o chamado “body-shaming”, pelas redes sociais.
Nicola Coughlan, nesse gesto corajoso, abriu mentes, aqueceu corações, tirou da margem a beleza que foge ao padrão. Uma ousadia sem estardalhaço nem grito de guerra, sem ranço nem ódio, como a fala do seus detratores. Ao contrário: seu corpo nu estava a serviço de uma cena de amor, um amor “de vida inteira”, cultivado pela personagem desde que a conhecemos, na primeira temporada.
Há tempos, as propagandas voltaram sua atenção para o público feminino que deseja verem representados corpos reais, como o seu, na tela. Há, hoje, modelos “plus size” e modelos maduros e da terceira idade. O universo midiático tem procurado aproximar-se com um número cada vez maior de mulheres que exigem representatividade.
Ainda assim, estamos longe de presenciar, habitualmente, cenas eróticas protagonizadas por atrizes como Nicola Coughlan alimentando fantasias românticas. Como sua personagem, muitas jovens se sentem invisíveis ou dispensáveis. Por isso, tão importante que “Bridgerton”, direcionada a um público mais jovem, com seu enredo romântico e simples, abarque todas as fantasias, afinal, a todos é permitido sonhar.
A atriz disse numa entrevista:
“Eu me senti linda naquele momento e pensei: quando eu tiver 80 anos, quero olhar para trás e lembrar como eu estava incrivelmente atraente!”.
Assim como ela, todas nós.
DICA DA SEMANA:
Para os fãs do escritor Machado de Assis, uma boa notícia! O Rio de Janeiro tem um roteiro que refaz os passos do escritor pelas ruas da cidade, antiga capital do país. A Rota Literária Machado de Assis é resultado da parceria entre as plataformas “Que Mais Tem Lá?” e “Ouça a Cidade”. No roteiro da rota, lugares machadianos no centro histórico do Rio viram personagens para contar passagens da vida e da obra do escritor. As vozes das gravações foram geradas por IA (inteligência artificial) e são estas as paradas do caminho: Academia Brasileira de Letras, Praça Poeta Manuel Bandeira, Tribunal de Contas do Município, Rua Evaristo da Veiga, Teatro João Caetano, Real Gabinete Português, Confeitaria Colombo, Rua do Ouvidor, Capitu Bar. (informações retiradas de @catacralivre)
Para mais informações, acesse: www.embraturlab.com.br/rotas-literárias
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com César Manzolillo