De uns tempos pra cá, a cultura Sul-Coreana no Brasil está em franca ascensão e esse interesse crescente é evidenciado tanto no consumo de entretenimento quanto na demanda por produtos, desde cosméticos até alimentos. Na última década, a música pop sul-coreana se tornou um fenômeno de alcance global, com suas coreografias envolventes e canções eletrizantes. Eu mesmo, quanto estive em São Paulo na famosa Feira Coreana do Bom Retiro, que você pode conferir aqui, percebi como isso é levado a sério, principalmente por crianças e adolescentes.
E o que dizer, então, das produções audiovisuais coreanas? Elas, hoje, ocupam espaços nunca antes imaginados! Desde 2020, quando o filme “Parasita” tornou-se o primeiro longa-metragem em língua estrangeira a vencer o Oscar de melhor filme, passando pela série Squid Game (Round 6), que se tornou a atração mais vista da história da Netflix e, posteriormente, com a onda dos Doramas, essa evolução fica evidente. Quem aí não conhece uma dorameira de plantão? Eu mesmo tenho uma em casa…
Por definição, a palavra “dorama” deriva da pronúncia de “drama” em japonês. Embora sejam chamados de “novelas japonesas”, eles se assemelham mais a séries de TV.
Normalmente, são produções de apenas uma temporada, com começo, meio e fim, contendo cerca de 10 episódios com duração de uma hora cada. O elenco tende a ser mais enxuto, com poucos núcleos de personagens. Inicialmente, era raro encontrar doramas com mais de uma temporada, mas o sucesso no Ocidente está começando a mudar esse cenário.
Devido à popularidade, esse tipo de dramaturgia acabou sendo visto como uma ampla gama de produções asiáticas, incluindo os renomados K-dramas (doramas sul-coreanos), os C-dramas (doramas chineses), além dos t-dramas (doramas taiwaneses) e thai-dramas (doramas tailandeses). Mesmo que os mais populares sejam geralmente romances, é possível encontrar doramas de vários gêneros, como ação, comédia, suspense e até mesmo dramas médicos. (fonte)
A indústria do entretenimento coreana está, cada vez mais, alcançando diferentes tipos de pessoas. Como vimos, não só a música como também as novelas coreanas (doramas), têm ganhado muitos fãs no mundo inteiro. O Brasil, inclusive, é o terceiro país que mais consome k-dramas, ficando atrás apenas da Malásia e Tailândia. Através do k-pop e dos k-dramas, os brasileiros tiveram mais contato com a cultura coreana, e isso inclui a culinária local. Afinal, muitas iguarias diferentes aparecem nas novelas e despertam a nossa curiosidade.
A Coréia do Sul é a décima maior potência econômica do mundo, sendo sede de empresas conceituadas como Samsung, LG, KIA e Hyundai. É fato, então, que a Onda Coreana, também conhecida por Hallyu, está vivendo seu estágio global. Mas até chegar a isso, passou por diferentes fases de alcance regional e também de expansão além-Ásia.
O conceito de “Hallyu” surgiu na década de 1990, criado por jornalistas chineses que testemunharam o impacto da cultura sul-coreana na China. Esse fenômeno se espalhou rapidamente para outros países asiáticos e, posteriormente, para o resto do mundo, conquistando pessoas de todas as partes do globo. Esse processo foi dividido em diferentes etapas: a chamada “Primeira Onda” ou Hallyu 1.0 (trouxe um aumento significativo no total de exportações e as empresas coreanas evoluíram seus produtos), a “Segunda Onda” ou Hallyu 2.0 (trouxe a exportação de novos objetos culturais, como, por exemplo, o K-pop) e a “Terceira Onda” ou Hallyu 3.0 (abrange jogos eletrônicos, K-drama, a gastronomia (K-food), moda (K-fashion), turismo e o idioma coreano). (fonte)
Vale lembrar que no ano passado, 2023, celebrou-se os 60 anos da imigração de coreanos para o nosso país, que começou pouco depois do fim da guerra que dividiu a Coréia em dois países.
A Culinária da Coreia desenvolveu-se através de séculos de mudanças sociais e políticas. Com origem nos mitos, lendas e tradições agrícolas de nômades da península coreana e no sul da Manchúria. A cozinha coreana uniu uma complexa interação entre ambiente natural e tradições culturais.
A culinária coreana é baseada em arroz, tofu, vegetais, carnes e macarrões. As refeições tradicionais são conhecidas como “pequenos pratos” (반찬, banchan) que acompanham arroz de grãos curtos cozido a vapor. O kimchi é quase sempre servido em cada refeição. Os ingredientes mais utilizados incluem óleo de gergelim, doenjang (pasta de feijão fermentada), molho de soja, sal, alho, gengibre, flocos de pimenta, gochujang (pasta de pimentão vermelho fermentada) e repolho. (Wikipedia)
Alguns pratos e bebidas sempre aparecem nos k-dramas, como o Kimchi, Tteokbokki, Mandu, Bibimbap, Kimbap, Ramyeon, Soju. E, aproveitando que estou na vibe de viajar pelo mundo sem sair do Rio de Janeiro, fui atrás de um restaurante coreano e descobri um lugarzinho, escondido no terceiro piso do BARRA POINT (@barrapointshopping), um pequeno shopping localizado na porta de entrada da Ilha da Gigóia, na Barra da Tijuca.
Trata-se do HANGUK HOUSE (@hangukhouse), um restaurante que traz a culinária tradicional coreana. Me contaram que o lugar foi aberto para a Rio 2016, inicialmente de forma provisória, para atender aos coreanos que estavam aqui para as Olimpíadas, tornando-se o primeiro restaurante coreano da cidade. O que era pra ser temporário, no entanto, acabou fazendo tanto sucesso que eles se instalaram definitivamente no local.
Vale ressaltar que o restaurante foi aberto muito antes da Onda Coreana entrar com força em terras tupiniquins. E permaneceu ali, no mesmo lugar desde 2016, oferecendo a típica culinária coreana, tendo passado pelos estragos da pandemia e chegado até os dias de hoje muito bem, obrigado.
Com um pouco menos de pimenta e algumas substituições, o Hanguk passou a atrair mais clientes e virou referência quando o assunto é gastronomia coreana, respeitando as tradições de usar produtos sazonais em seus preparos, principalmente nas conservas. O cardápio conta histórias de alguns dos pratos, como o japchae, um macarrão transparente de batata-doce, temperado com óleo de gergelim, shoyo e vegetais, que foi feito pela primeira vez no início do século XVII, durante a Dinastia Joseon.
Os pratos da comida coreana têm história, foram desenvolvidos há milênios. São pratos que existem antes mesmo de o Brasil existir. Em geral, são mais saudáveis, coloridos, com muitas verduras e legumes . (fonte)
Pra começar os trabalhos, pedi um Kimbap, um enrolado de alga com arroz, ovo, verduras, presunto e carne, bastante semelhante ao sushi. Não à toa o chamam de “sushi coreano”. Ele se diferencia do famoso prato japonês por conta do recheio, já que não contém peixe cru, pelo sabor leve e pouco apimentado e por poder ser preparado de diversas formas.
Outro prato queridinho por aqui, muito popular no seu país de origem e que veio na esteira do sucesso dos K-Dramas e do K-pop, é o Topokki, também conhecido por Tteokbokki. Feito à base de massa de arroz, o tteok, mergulhado em um molho apimentado, ele lembra, na aparência, e só nela, um gnocchi italiano. É muito gostoso – tanto que eu trouxe a massa pronta lá das minhas andanças pela Feira do Bom Retiro pra fazer em casa…
E aí, de prato principal, como eu não podia experimentar todas as opções do cardápio, por sugestão optei pelo Dakgangjeong, um frango frito crocante com molho apimentado e adocicado, que veio com 5 acompanhamentos sazonais tradicionais, chamados de Banchan, e uma travessinha do famoso kimchi.
O Kimchi é consumido praticamente em todas as refeições pelos coreanos e também é utilizado para fazer outros pratos, como sopas, massas e o famoso arroz frito. Apesar de muitas pessoas chamarem o kimchi de conserva, ele não é, uma vez que a acelga, que é o vegetal mais usado para fazer esse prato, passa por um processo de fermentação que muda completamente seu sabor e sua textura; e esse processo de preparo não possui a finalidade de conservar os vegetais, já que o sabor vai alterando quanto mais o tempo passa. Eu mesmo já fiz kimchi algumas vezes…
Não poderia encerrar essa experiência sem o tradicional soju, bebida alcoólica, de origem sul coreana, resultante da fermentação de cereais como arroz, trigo e cevada e uma das bebidas destiladas mais consumidas no mundo! Apresenta teor alcoólico elevado e sabor suave com notas doces. Perfeita para ser tomada pura em pequenas doses (shots) e para fazer drinks com frutas da estação como limão, morango, uva, abacaxi e kiwi. Também combina bastante com cerveja, mistura conhecida como Somaek e, se for servida junto com coca-cola e cerveja, dá origem ao drink conhecido como Bomb.
Em geral, o principal ingrediente do Soju é o arroz, mas ele pode ser feito também a partir da destilação de cevada e batata-doce. Se comparado com o saquê, bebida japonesa fermentada e também obtida a partir do arroz, o Soju tem um aroma um pouco mais forte. Por isso, ao mesmo tempo em que é comum ouvir que saquê é um tipo de vinho, não é raro ver comparações entre a bebida coreana e vodca ou uísque. (fonte)
São várias as formas com que o somaek é servido. Eu experimentei duas delas – e filmei para vocês…
Fui uma segunda vez, pra experimentar novos pratos. Claro que, na extensão de um artigo como esse, não vai dar pra explorar todo o cardápio da casa, mas tão somente pincelar algumas coisas e, principalmente, despertar a curiosidade.
Para começar, optei pelo Mandu, uma massa recheada, sendo que pedi metade com carne suína e a outra metade com carne bovina, pra ter a experiência completa. O Mandu assemelha-se ao Guioza, preparado a partir de uma fina massa recheada com ingredientes como carne e vegetais, e em seguida cozido ou frito. Na cultura coreana, esse prato, frito ou até mesmo a sopa de Mandu, é tradicionalmente apreciado durante a celebração do Ano Novo, oferecendo diversas opções de recheios para agradar a cada paladar.
Depois pedi dois pratos, que vieram acompanhados dos bachans. O primeiro, um Bulgogi, que é carne bovina grelhada em molho de soja com vegetais e gergelim, e um Dolsot Bibimbap, um arroz mesclado com vegetais, shitake e carne bovina, molho gochujang e ovo frito. Vamos falar um pouquinho mais deles…
O Bulgogi (불고기), mais conhecido aqui entre nós como o “churrasco coreano”, é um prato típico e tornou-se bastante popular por aqui, por contas das séries e filmes coreanos. 불 bul vem de “fogo” e 고기 gogi de “carne”. tanto o prato quanto seu nome, “bulgogi”, veio e foi popularizado na Coreia do Sul juntamente com refugiados de Pyongyang (capital da região de Pyongan), após o fim da ocupação japonesa na coreia em 1945. É um prato formado por finas fatias (ou tiras) de cortes de carne, marinadas em uma mistura de vários ingredientes, como molho de soja, óleo de gergelim, alho, cebola, gengibre e açúcar. Para finalizar, a carne é grelhada. Comumente é servido com folhas de alface para que a pessoa embrulhe as tiras de carne, formando uma combinação perfeita.
Bibimbap é um prato típico coreano e talvez um dos pratos coreanos mais famosos a nível mundial. 비빔밥 significa literalmente “refeição misturada” ou “arroz misturado”. O bibimbap é servido numa recipiente redondo com arroz branco coberto por Namul 나물 (legumes salteados e temperados) e Gochujang고추장. Normalmente também é colocado um ovo e um pouco de carne (normalmente carne de vaca). O prato pode ser servido quente ou frio. Antes de comer todos os ingredientes têm de ser misturados, daí o nome bibimbap. O Dolsot bibimbap (돌솥 비빔밥) é o bibimbap servido numa tigela quente (dolsot significa panela quente).
Após a experiência, fui tomar um café no HALLYU COFFEE (@hallyucoffeerj), uma cafeteria onde você também pode adquirir produtos coreanos, como lamens, pimenta gochujang, bebidas coreanas, dentre diversos outros produtos, que também pertence ao mesmo grupo e fica logo ali do lado do restaurante, e conversar com a proprietária, que me contou um pouco de sua trajetória.
E bem ao lado da cafeteria, ainda tem um local de karaokê, mas é lógico que esse eu dispensei conhecer, já que não canto absolutamente nada e sou uma completa negação em K-pop… Mas para aqueles que curtem, certamente é uma atração interessante.
Acho que agora já dá pra você, que é dorameiro ou dorameira, entender um pouquinho sobre a gastronomia coreana, né? Quando aquele seu ator ou atriz favorita estiver em uma cena bebendo um soju ou comendo um bulgogi, você já saberá do que se trata. Afinal, é a partir da culinária de um país que é possível aprender um pouco de sua história, tradição e costumes.
No que pese haver ingredientes diferentes e um pouco mais complicados de se achar, hoje é ainda mais fácil do que antigamente e, portanto, não vale como desculpa pra não tentar fazer em casa. Eu mesmo já me aventurei algumas vezes pela culinária coreana, fazendo kimchi, topokki, entre outras iguarias.
E aqui a gente completa mais uma viagem. A título de curiosidade:
A história deste país asiático foi escrita por diversas invasões e períodos intensos de guerra, como a seguida da Segunda Guerra Mundial que resultou na divisão do território em Coreia do Sul e Coreia do Norte.
Períodos como esses fizeram a sociedade coreana aprender a valorizar a comida, criando uma espécie de regra de etiqueta não se desperdiçar comida. Seja em casa ou em restaurantes, não é bem vista a atitude de deixar comida sobrando no prato.
O povo coreano dá tanto valor à comida que esta também é uma forma de mostrar gratidão e reconhecimento. Na Coreia é muito comum que um bom gesto seja retribuído com comida ou que alguém mostre seu carinho e afeto pelo outro ao presenteá-lo com pratos da culinária ou idas a restaurantes.
Falando nos restaurantes, jantares de negócio ou como “happy hour” são práticas frequentes no país, mas a conta não costuma ser dividida entre os participantes, a tradição é de que o mais velho pague para todos. (fonte)
Fica aqui, então, o convite para que se conheça a culinária coreana. E para aqueles que, por acaso, temam encontrar uma comida muito apimentada, posso garantir que, pelo menos no HANGUK HOUSE, a pegada é (muito) mais leve. Até achei que poderiam pesar um pouco mais a mão…
E vamos nos preparar para a próxima viagem. Para onde será?
Surpresa…