Garranchos sobre o amor em folhas, enquanto espero você. Porque não vem, jogo-os na tela do computador. O que calo se estampa no mundo.
Desejo que me leia mas não tenho certeza se prestará atenção ao que digo. Mesmo que seus olhos vistam minhas palavras com interesse, continuo náufraga, à espera de uma direção. Remo pelas esquinas onde não o encontro. Avanço para o oceano.
Não o ouço gritar da praia nem seguir a correnteza. Você não vem em minha direção. Nada vem. Estou solta entre as ondas, acompanhando o movimento dos peixes ao redor do meu bote. Se me fazem companhia ou se espreitam minha morte, quem se importa?
Fujo do redemoinho. Você não me deixou, fui eu que joguei a canoa ao mar. Nada lhe disse da angústia nem do ardor desses dias em que as tardes queimam a pele como sol de meio-dia. Não uso bloqueador. Hidrato o sentimento e deixo os raios emoldurarem, sob a proteção do biquíni, pedaços de mim que sua língua tocou.
Pulo na água. Lavo sua saliva, sua lembrança, o cheiro do seu perfume que ficou na minha pele. Estou na foto da sua proteção de tela. Sou o ponto claro na imensidão azul. Você não vê. Estou ao lado dos seus arquivos, fora das pastas, na área de trabalho.
Se envio um e-mail ou abro um chat, você ignora. Pensamentos em ondas impedem meu silêncio. Vêm e vão. Quebram na areia, recolhem-se, voltam. Você desliga sem reiniciar. Sem chances. Sem áudio nem câmera. Joga na lixeira as declarações vãs, estéreis, não lidas.
Náufraga permaneço. No mar, não se criam raízes. Tudo abaixo e em torno é desconhecido. Me mantenho à superfície. Tenho medo de imergir. Os ventos empurram numa direção. A correnteza mede forças. Não saio do lugar. Não alcanço destinos.
Prendo as palavras interrompidas, numa garrafa. Lanço-as ao mar. Seguirão, quero crer, até onde se possam ouvir seus ecos. Esperarão ser libertas por um coração que lhes aponte o amanhecer.
Estou cercada pelo universo. Fragatas cruzam o ar sobre mim. Mergulham no mar, levando o alimento no bico. São riscos velozes desenhados no céu. As asas saem pesadas e frescas. Voam.
Tenho os lábios rachados de sol, os cabelos ressecados pelo sal, o peito ofegante do esforço para manter-me à tona. Disparo sinalizadores para que saibam: estou ali. Ainda remo. Antes de a noite descer, já terei chegado à margem.
Admirando o movimento das aves, não consigo deixar de pensar: como faço para ser leve e voar?