BACURAU: Um dos melhores filmes do cinema nacional da última década

Bacurau. Foto: Victor Jucá.

 

Bacurau da Vitrine Filmes, uma das produções mais aguardadas do ano chega hoje, 29/08, aos cinemas brasileiros e traz uma história avassaladora, grandiosa, importante e torna-se um marco no atual cenário do cinema nacional, igualando, em termos de qualidade de produção, em diversos quesitos às produções hollywoodianas. Com direção impecável do Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornellas, o áudio visual brasileiro resiste! Bacurau mostrou a que veio, um filme para ficar e ecoar em nossas mentes. Confira a nossa crítica sem spoiler a seguir.

A trama é interessante. Pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro, chamado ‘Bacurau”, descobrem que a sua comunidade não consta mais em qualquer mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez. Quando carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Plínio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa.

A dupla de diretores sabe muito bem o que quer entregar com “Bacurau” e ao fazer uma mescla de clássicos do cinema, bebem de fontes como Tarantino, Glauber Rocha, Fred Zinneman, filmes de faroeste nacionais com cenas que abusam da cor vermelha (simbolizando o sangue) e as cores do sertão semiárido, não deixando de trazer é claro conotações e referência a cultura nordestina e regional, pois a cidade fictícia de Bacurau se situa no oeste de Pernambuco. Sendo assim, este resultado conota-se como uma reinvenção do gênero de como entregar um produto excecionalmente novo à nossa indústria cinematográfica, provocando reações diferentes em cada um dos seus telespectadores. Vale ressaltar que o apelo social apresentado no filme – que demorou cerca de 10 anos desde a sua concepção para ser concretizado –  nunca foi tão atual e se correlaciona com o atual cenário que nós brasileiros e o mundo está passando, tornando a experiência não só sensorial como extremamente real.

Bacurau funciona como um blockbuster para os que buscam um filme qualquer de muita ação, como também um produto com diversas camadas complexas e sociais que merecem ser detalhadas e estudadas a cada frame, “apaixonante” e “visceralmente” pode-se dizer.

Os elementos que compõe a produção são muito bem pensados e entregue de forma dosada para que o telespectador possa vivenciar aquela história fictícia tendo a experiência mais enriquecedora possível, sua sonoplastia se alinha perfeitamente à mixagem de som e é digna de produções grandiosas, a exemplo disso os próprios diretores pediram para que as salas que projetassem Bacurau aumentassem o volume +1 e, na sessão que estivemos, as pessoas se assustavam com os barulhos de tiros, algo similar presenciamos nas exibições de “Dunkirk” produção grandiosa do cineasta Christopher Nolan. Outros elementos interessantes são o enquadramento, os planos sequências e uma ótima fotografia, todos estes fatores extremamente bem pensados, potencializando assim a qualidade da história.

Apesar de, a priori, Teresa parecer ser tratada como protagonista, a trama envereda para buscar um DNA da cidade em si. Todas as suas estruturas são apresentadas mais claramente quando a própria chega a cidade, quando o professor vai mostrar o mapa feito ainda sob desenhos e quando vemos o seu museu. Bacurau transborda a resistência de populações deixadas sempre de lado por parte do poder público, possivelmente naquele universo (o longa se passa alguns anos no futuro) e no nosso. Prostitutas, transexuais, negros, mulheres, pobres, pessoas mais velhas, professores, militantes… todos possuem um lugar especial guardado em Bacurau, pelas marcas históricas de luta do ambiente – a cena na qual é pedido para deixar uma mancha de sangue na parede representa bem isso. A encenação retrata bem mais sobre a essência de todos ali, lutando ante uma ameaça complexa, mas já enfrentada diversas vezes por esses grupos: a morte.

Em relação às atuações, Bacurau entrega outro deleite, podemos assim dizer. E o que nos faz conectarmos ainda mais a essa grande obra é a empatia, simpatia e riqueza de seus personagens, onde cada uma tem sua importância, seu momento de brilhar, nem que seja apenas mencionando uma única frase, dignos de gritos de euforia da plateia na sessão diante de uma das principais cenas do longa. Mas, aqui temos verdadeiro shows nesse quesito: a icônica Sônia Braga, que interpreta a médica “Domingas”, mais uma vez repetindo sua parceria com Kleber, faz o que sabe melhor fazer, atua primorosamente, um espetáculo. Além dela temos os atores Silvero Pereira (Lunga), Karine Teles (Forasteira), Barbara Colen (Teresa), Udo Kier (Michael) e demais, todos estão fantásticos em seus respectivos personagens.

CONFIRA O TRAILER

 

 

 

 

Por fim, Bacurau chega para se colocar como um divisor de águas no atual cenário áudio visual brasileiro, o filme está nesse momento sendo aclamado pelo público, premiado por diversos festivais de cinema mundo afora e a crítica só tece elogios a esta obra de muita originalidade, resultado da entrega e esforço de uma equipe primorosa e talentosa. Quem ganha somos nós que fomos agraciados com uma grande obra-prima do cinema brasileiro, por sua magistralidade, temática e importância!

Um Viva a Bacurau! Um Viva a Paz!

NOTA : 9,5

LUAN RIBEIRO

 

 

 

 

 

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Author

Luan Ribeiro, natural de Mata de São João, Bahia, é como um "protagonista" que decidiu viver em meio aos grandes filmes. Especialista em comunicação, segue guiado pelo seu amor às histórias épicas e sagas cinematográficas, Luan é o criador do @CinemaeCompanhia no Instagram, que ganhou destaque como a editoria do Canal de mesmo nome no Portal ArteCult.com. Para ele, assistir a um filme é como entrar em um multiverso, uma oportunidade de se teletransportar para galáxias distantes ou enfrentar dragões, tudo enquanto escapa da rotina. Luan é um verdadeiro "rato de cinema", acompanhando as estreias como um Jedi em busca do equilíbrio entre a fantasia e a crítica afiada. A cada visita às telonas, ele analisa o enredo, as performances e, claro, traz aquele toque geek que só um verdadeiro fã de cultura pop pode oferecer. Pelo CINEMA & COMPANHIA, ele não só compartilha críticas e curiosidades como também realiza entrevistas dignas de tapete vermelho, sempre com um olhar atento para valorizar o Cinema Nacional e suas produções heroicas. Instagram.com/CinemaeCompanhia E-mail: luancribeiro@icloud.com

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