Nosso convidado de hoje do AC – Encontros Literários é um escritor que joga nas onze. Certo, admito que a frase é meio clichê. Mas, com certeza, define bem Luís Pimentel. Duvida? Então leia a entrevista exclusiva que preparamos pra você :
ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?
Luís Pimetel: Por acaso. Não tive formação de leitor na infância nem na primeira juventude, pois minha família é muito carente e, em nossa casa, não havia livros. Comecei a ler tarde, quando conheci a biblioteca pública da cidade onde morava, Feira de Santana. Comecei a ler (literatura) por volta dos 15 anos e só comecei a escrever uns quatro anos depois, quando conheci amigos que frequentavam um grupo literário na cidade, e isto me serviu de estímulo.
ArteCult: Um baiano que vive há muito tempo no Rio de Janeiro. O que ainda resta da Bahia dentro de você?
LP: Muito coisa, pois a minha literatura é feita de memória e de saudades, especialmente memórias de infância. Vez em quando revisito a Bahia num conto que escrevo, num poema, num livro infantojuvenil. Recentemente, a visitei, em inspiração, para escrever a última obra que publiquei, este ano, uma novela histórica inspirada na famosa Conjuração dos Búzios, ocorrida na Bahia em 1789. Chama-se Esconjuro! e foi lançada pela Pallas Editora.

Esconjuro! Novela histórica lançada em 2020. Foto: Divulgação.
AC: Você é autor de biografias de Wilson Batista e Luiz Gonzaga. Que qualidades um bom biógrafo precisa ter?
LP: Essas duas biografias foram escritas em parceria com outros autores. Depois, escrevi mais duas sozinho (Luiz Gonzaga e Ary Barroso) para a editora Moderna. Era um projeto (chamado Mestres da Música no Brasil) voltado ao público jovem, estudantes. Mas acho que não me animarei a voltar a fazê-las; dá muito trabalho e me toma o tempo que prefiro destinado à ficção.
AC: Além de escritor, você também é jornalista. Como concilia as duas atividades?
LP: A atividade jornalística hoje está bem devagar, restringindo-se à publicação de uma crônica ou outra, de pequenas colaborações. Mas no tempo em que vivi intensamente o dia a dia das redações, procurava separar os dois trabalhos com rigor: uma era a paixão; o outro, o ganha-pão. Um precisava do outro para o meu equilíbrio.
AC: Roteirista da Escolinha do Professor Raimundo. Acredito que muitos dos seus leitores não conhecem esse seu lado. Que tal a experiência?
LP: Foi uma experiência importante. Garantiu o sustento e alguma vibração criativa durante um período. Trabalhei em duas fases na Escolinha; na última, até o final do programa. Depois, ainda fiquei uns dois anos no Zorra Total, mas saí e retornei aos jornais. Venho da imprensa de humor, porque comecei na imprensa colaborando com O Pasquim, trabalhei na revista MAD, editei Bundas e Opasquim21 e até hoje gosto de colaborar em publicações humorísticas, como o jornal Acho +Humor.
AC: Bloqueio criativo: mito ou verdade?
LP: Acho que ele existe, sim. Mas precisa ser enfrentado com determinação, vontade, sede criativa e projetos. Ter projetos literários é muito importante, mesmo que não venhamos a executá-los.
AC: Você tem o hábito de escrever todos os dias? Como é sua rotina de escritor?
LP: Não, pois nem sempre posso. Mas tento escrever com frequência e ter sempre algum texto em andamento. Isso nos obriga a trabalhar.
AC: Falando em narrativas curtas agora. Como nasce um conto? E um livro de contos?
LP: Nasce das formas mais variadas, pelos mais diferentes empurrões criativos. O livro nasce quando sentimos que está na hora de reunir essas narrativas.

A coletânea de contos Aquela música foi lançada em 2017. Foto: Divulgação.
AC: Em 2020, você lançou seu segundo romance, Alguém vai ter que pagar por isso. Fale sobre ele.
LP: Trata-se do meu primeiro texto literário que nasce mais da indignação do que da contemplação ou da inspiração. Inteiramente calcado na violência urbana, acompanha a luta de indivíduos tentando se equilibrar entre opressões e desespero. Como só foi finalizado no primeiro semestre de 2020, para lançamento no fim do ano, consigo entrar um pouco na pandemia e dedico o romance às nossas primeiras vítimas.

O romance Alguém vai ter que pagar por isso foi lançado em 2020. Foto: Divulgação.
AC: Sei que seu envolvimento com a música também é forte. Fale sobre isso.
LP: A paixão pela música é antiga, paixão de infância. Escrevi bastante sobre música em jornal, fiz livros sobre música, editei publicações sobre o assunto e hoje me arrisco até como letrista, tenho vários parceiros musicais.
AC: Você tem várias obras publicadas em diversos gêneros. Algum carinho especial por alguma delas?
LP: Talvez seja o conto onde me sinta mais confortável…
AC: Você já declarou que ¨escrever para gente pequena é mais gostoso ainda, porque o retorno é quase sempre muito sincero e direto¨. Fale de sua relação com o público infantil.
LP: É uma relação longa também. Meu primeiro livro publicado foi um infantojuvenil, e tenho mais de 50 títulos no gênero, por variadas editoras.

As roupas do papai foram embora, livro infantil lançado em 2010. Foto: Divulgação.
AC: Você está trabalhando em algum projeto atualmente? O que vem por aí nos próximos meses?
LP: Estou sempre trabalhando em vários projetos ao mesmo tempo. No momento, em um juvenil, um volume de contos, outro de poesia, e começando lentamente um romance. Mas não sei quando serão finalizados ou publicados. Lancei livros no ano passado e este ano também.
AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?
LP: Meu conselho não é nada original, repito o que muitos costumam recomendar: leiam bastante e não tenham pressa de publicar.
AC: Para finalizar, deixe aqui uma amostra do seu trabalho.
LP: Deixo um poema, recém-acabado, sobre esses tempos terríveis:
Sobrevivemos?
Um filme que não sabemos como nem quando
acaba, se é que acaba. Não lembramos como
começa. Nem onde estávamos enquanto a tela
escurecia.Um filme passado e presente. Sem qualquer futuro.
Que é todo horror. E que assistimos passivamente
enquanto trememos na sala vazia, em som e fúria
ou dor e ausências, o inferno por dentro.Um filme onde sangra a flor.
Filme-pesadelo que interrompe sonhos;
filme-labareda que incendeia troncos;
Filme-tempestade que apaga brasas.Um filme que não sabemos por inteiro
porque morremos no fim. Mesmo quando
sobrevivemos.
E ATENÇÃO! ACOMPANHE, EM NOSSO CANAL NO YOUTUBE, A LIVE COM O ESCRITOR LUÍS PIMENTEL:
Até a próxima!

César Manzolillo – Colunista do canal LITERATURA
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