Claufe Rodrigues se apresenta afirmando que seu nome não é inventado. Nascido em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, ele completa 60 anos neste mês de junho. Nesse meio tempo, se tornou poeta, jornalista, professor, repórter de TV, empresário, produtor cultural, compositor, cineasta, e afirma que não sabe onde isso vai parar.
Tem 11 livros publicados, entre poesia e romance. Perdeu a conta de quantas reportagens sobre literatura fez para canais de TV como Canal Brasil, Canal Futura e GloboNews, fora diversos programas especiais e documentários.
Além de estar à frente de um talk show mensal chamado Palavrão Literatura, junto com a escritora e cantora Mônica Montone, banda e elenco de convidados, Claufe começou a rodar seu primeiro longa-metragem, o documentário Faz Sol Lá Sim, sobre a tradição musical em Marechal Deodoro, Alagoas.
Você se formou em jornalismo, mas sempre se envolveu com poesia. É uma grande paixão?
Eu me envolvi com jornalismo para poder viver de escrever, que é o que eu mais gosto de fazer. A poesia antecede tudo em minha vida. Ela me levou por mundos – concretos e abstratos – inimagináveis. Devo tudo à poesia, por isso procuro promovê-la em todas as oportunidades que a vida me oferece. Não obstante, nos últimos anos, tenho sentido muita necessidade de experimentar novos gêneros. Daí ter escrito dois romances , Roman-se, em 2001, e Cachorras, em 2014, e ter me dedicado à música (composição e apresentação) e ao cinema. Tudo vem impregnado de poesia, mas não quero jamais abandonar o gênero – sei que quando você abandona a poesia, a poesia também te abandona.
Você chegou a formar o grupo Camaleões para espalhar poesia por aí, nos 1980. Como foi essa experiência?
Outro dia, o Pedro Bial (jornalista e apresentador, um dos Camaleões; o outro é o Luiz Petry) comentou que, graças ao grupo, seremos eternamente jovens. Na verdade, tínhamos muito medo de chegar aos 30 anos sem ter realizado nada de relevante, então, foram três anos incríveis. Fazíamos apresentações sempre com casa cheia. Abrimos shows de rock para multidões e a poesia virou moda, deixou de ser maldita para ser bendita.
Como foi dirigir o primeiro programa de TV totalmente dedicado à poesia, o Palavrão, no Canal Brasil. Que desafios você encarou nesse projeto?
Foi uma loucura! Como não dispúnhamos de muita verba, gravávamos quatro ou cinco programas de cada vez. Para mim, foi uma grande novidade, porque os programas eram gravados ao vivo, com três câmeras. Mas gravávamos num pequeno teatro, e com público, o que deixava o clima leve e divertido.
Essa semente gerou outro projeto, mais recente, o Palavrão Literatura. Fale um pouco sobre ele.
O Palavrão Literatura é o nosso laboratório de criação, onde desenvolvemos nossas aptidões musicais… Eu e minha parceira, Mônica Montone, com a banda formada por Sergio Serra (guitarra), Décio Daniel (bateria) e Marcelo Barreto (baixo), testamos nosso repertório de acordo com o tema do mês, que muda a cada edição – a última foi “Loucura”, com o poeta e compositor Pablo Pessanha como convidado. A partir daí, convidamos atores, escritores, críticos literários e músicos para compor um elenco harmônico.
Você também faz, há anos, o programa GloboNews Literatura. Como tem sido essa vivência, de conhecer tantos artistas pelo Brasil?
Eu trabalho como repórter e editor do programa há uns dez anos, e nesse período conheci e entrevistei centenas de escritores. É ótimo para mim, pessoal e profissionalmente, porque depois de tanto tempo trabalhando como jornalista, estou dentro da minha especialidade. E é bom também para o meu trabalho como escritor, porque me obrigo a estar sempre antenado sobre o meio literário e me sinto desafiado o tempo todo a melhorar e melhorar e melhorar.
Fale do documentário “Faz Sol Lá Sim”, sobre a veia musical da cidade de Marechal Deodoro, em Alagoas. Como nasceu esse projeto?
Há cerca de dois anos, participando pela segunda vez da Flimar, a Festa Literária de Marechal Deodoro, fiquei sabendo dessa magia que permeia a cidade, que tem cinco filarmônicas – duas delas centenárias – com orquestras e escolas que funcionam como celeiro de músicos para as bandas – marciais ou não – de todo o país. Tive a ideia e fui à luta.
Com tantas conquistas e projetos feitos, você é um profissional realizado?
Não! Estou satisfeito. Quando olho em retrospectiva, vejo o quanto já realizei nesses quase 60 anos de vida. Mas tenho ainda muito livro a escrever, muitos filmes a realizar, discos a produzir, músicas e poemas a criar. E a falta de tempo pra dar conta de tudo isso me angustia muito, sem dúvida nenhuma. Mas é uma angústia produtiva.
Palavrão Literatura: https://www.facebook.com/palavraoliteratura/?fref=ts
Globonews Literatura: http://g1.globo.com/globo-news/literatura/videos/