Todos contra Israel ou a favor da vida?

Gaza Destruída. Foto: Reuters/Mahmoud Issa

 

Sempre me questionei sobre a Segunda Guerra Mundial: como deixaram que os judeus sofressem tanto nas mãos de Hitler? E hoje, infelizmente, tenho a resposta: cumplicidade com o mal! Porque não há outra explicação.

Em 2023, um grupo terrorista entrou em Israel e assassinou quase mil e duzentas pessoas — entre jovens, adultos, crianças e idosos. E, claro, não aprovamos esse ato diabólico. Aliás, não sei se é um ato diabólico, porque não sei se o diabo seria tão mau assim… tenho dúvidas.

Desde então, Israel tem guerreado em busca dos reféns sequestrados pelos terroristas, mas não utilizando da inteligência — como um dia fizeram os Estados Unidos após o atentado ao World Trade Center. Em vez disso, tem aniquilado crianças que nunca poderiam responder pelos atos terroristas. Israel tem cometido genocídio diante dos nossos olhos. E isso, para quem sente, dói. Não podemos nos calar diante dessa história que, um dia, irá para as páginas de um livro. E você? Como respondeu a esse crime contra a humanidade?

Ver crianças embaladas em panos brancos, sem vida, quando deveriam estar vivas, é monstruoso. E, como se não bastasse, a sensação de impotência nasce dentro de nós e nos toma por inteiro.

Eles estimaram 64.260 mortes por lesões traumáticas durante esse período — cerca de 41% a mais do que a contagem oficial do Ministério da Saúde Palestino. O estudo apontou que 59,1% eram mulheres, crianças e idosos. Ele não forneceu uma estimativa de combatentes palestinos entre os mortos.
De acordo com as autoridades de saúde palestinas, mais de 46 mil pessoas foram mortas na guerra de Gaza.
O conflito começou em 7 de outubro, depois que homens armados do Hamas atravessaram a fronteira com Israel, matando 1.200 pessoas e fazendo mais de 250 reféns, segundo registros israelenses.
https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/numero-de-mortos-em-gaza-e-maior-que-o-de-contagem-oficial-diz-estudo/

Ao longo de quase 18 meses de guerra, mais de 15.000 crianças foram mortas, e pelo menos 34.000 ficaram feridas. Além disso, cerca de um milhão de crianças foram forçadas a se deslocar repetidamente e perderam o acesso a serviços básicos.
Dados da UNICEF: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/pelo-menos-322-criancas-teriam-morrido-em-gaza-desde-quebra-do-cessar-fogo

E como você tem assistido a toda essa covardia?
Nós, da cultura — nós, artistas — não podemos aceitar. Porque atuamos a favor da vida, da evolução do ser. Somos obrigatoriamente contra qualquer tipo de violência à vida humana. Caso contrário, estamos longe do verdadeiro ofício artístico.

Na música, temos nossos ídolos que cantaram contra a ditadura, que ceifou vidas. No cinema, trazemos histórias de guerra para que isso não se repita. E no teatro, temos uma grande referência: Brecht, com a peça “Mãe Coragem”.

Escrita em 1939, é uma das nove peças que ele produziu na tentativa de conter o avanço do fascismo e do nazismo. Seguindo os princípios brechtianos do drama político, a peça não se situa em sua época, mas sim durante a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648). Ela retrata o destino de Anna Fierling, apelidada de “Mãe Coragem”, uma mascate que segue o exército sueco e está determinada a viver da guerra. Durante o curso da peça, ela perde todos os seus filhos — Queijinho, Eilif e Katrin — para a mesma guerra que a fez lucrar.

Resumindo: na guerra, ninguém lucra. Esse é o maior ensinamento do dramaturgo.

Bertolt Brecht foi perseguido pelo regime nazista de Hitler. Devido à sua postura anticapitalista e aos ideais comunistas, ele foi colocado em uma lista de opositores e forçado ao exílio logo após o incêndio do Reichstag, em 1933.

Defendemos a ideia da paz, como um dia cantou Lennon. É impossível ver tanta desgraça e seguirmos calados, sem cobrar das nossas autoridades um posicionamento contra esse genocídio.
Nos quatro cantos do mundo, pessoas com bons corações gritam “Free Palestine”, e temos que nos unir a elas. Ser indiferente a esse comportamento genocida é ser cruel. Porque não há nada mais estúpido do que matar de fome e sede — como Israel tem feito em Gaza.

Neste momento em que escrevo estas linhas, 09/06/2025, temos um ativista brasileiro, Thiago Ávila, sequestrado por Israel por estar ao lado de Greta (grande ativista) em um barco a caminho de Gaza, levando muletas, alimentos, remédios, leite específico para bebês que perderam suas mães, entre outras necessidades humanas — sem contar cartas de crianças de todo o mundo para os pequenos palestinos. Que mal havia nessa embarcação? Amor e esperança? Desde quando isso é um crime?

A atual expedição com o barco Madleen é a segunda da Flotilha da Liberdade, neste ano, a tentar alcançar Gaza. No mês passado, o barco Conscience foi bombardeado por drones israelenses na costa de Malta, pouco antes de zarpar com um grupo de ativistas e ajuda humanitária.
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/06/08/israel-avisa-que-barco-com-greta-e-ativista-brasileiro-nao-chegara-a-gaza.htm

Muitos brasileiros estão cobrando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma resposta. Muitos de nós desejamos enviar ajuda — e Thiago agora nos representa. Ele é um pouco da nossa consciência em relação ao povo palestino. Um verdadeiro bálsamo para nós, brasileiros. Uma representatividade de alma. É nele que está o coração brasileiro, a nossa vontade de defender a vida.

Nosso presidente já deixou claro que tem assistido a um crime de guerra, tanto para nós quanto para a França, país que visitou nos últimos dias.

Pessoas de vários países estão nas ruas, cobrando das autoridades uma resposta para esse genocídio. Mas tudo fica complexo. Entendemos que resolver por meio da paz seria o melhor caminho — e assim, as nações seguem aguardando o bom senso do líder de Israel (cujo nome não vale ser mencionado nesta página).

O que faz este espaço de arte e cultura se manifestar é a capacidade de não aceitar a destruição de um povo, o apagamento de uma cultura — justamente aquilo que defendemos neste espaço.

Queremos registrar, para a história, que somos contra a morte de civis. Somos contra esse genocídio. Entoamos “Imagine” em nossos corações. Sonhamos com essas crianças cantando em um idioma difícil de entender — mas queremos ouvir. Queremos ver as mães alimentando seus filhos em Gaza. Queremos ver os médicos atuando com um fardo menos pesado. Queremos ver a reconstrução de Gaza. Queremos ver o povo palestino livre.

Assistir, por meio das telas, a pessoas desesperadas por comida não pode ser um objetivo. Muito pelo contrário: isso deve ser combatido por todos que se julgam humanos!

Através das redes, dizem que haverá uma marcha humanitária, saindo do Egito até Gaza, na terceira semana de junho, na qual civis abrirão um corredor humanitário para os palestinos. Esperamos que dê certo. De coração, estaremos juntos — já que os líderes mundiais não se posicionam. Apenas alguns cortaram relações com Israel. Não há mais como nos calar, especialmente quando o próprio primo de Anne Frank se posicionou contra esse genocídio grotesco.

Oliver Elias, primo de Anne Frank, pede que judeus, alemães e a comunidade internacional, de maneira geral, condenem Israel e seu líder, Benjamin Netanyahu, pelo genocídio perpetrado em Gaza. Elias, nascido na Alemanha Ocidental em 1971, é ator e escritor, conhecido por seus trabalhos na televisão alemã.”

Anne Frank é a menina do diário, que se escondeu dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, num sótão. Seu diário é um dos livros mais vendidos do mundo — a literatura foi uma tentativa de mostrar à humanidade como a guerra sangra.

Não somos doutores em geopolítica, nem donos da verdade, mas somos a favor da vida — e, por ela, nos posicionamos, deixando este registro para o futuro.
É impossível dar as costas ou fingir que está tudo bem, quando, neste exato momento, 18 mil crianças foram assassinadas. Outras tantas estão à própria sorte, com sede e fome, sem saber de onde virá o próximo bombardeio…

 

 

Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

 

 

Author

Dramaturga, com textos contemplados em editais do governo do estado do Rio de Janeiro, Teatro Prudential e literatura no Sesi Firjan/RJ. Autora do texto Maria Bonita e a Peleja com o Sol apresentado na Funarj e Luz e Fogo, no edital da prefeitura para o projeto Paixão de Ler. Contemplada no edital de literatura Sesi Fiesp/Avenida Paulista, onde conta a História de Maria Felipa par Crianças em 2024. Curadora e idealizadora da Exposição Radio Negro em 2022 no MIS - Museu de Imagem e Som, duas passagens pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com montagem teatral e de dança. Contemplada com o projeto "A Menina Dança" para o público infantil para o SESC e Funarte (Retomada Cultural/2024). Formadora de plateia e incentivadora cultural da cidade.

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