Sobre a traição à Iza

 

Perai! Como assim? A Iza?! Tal fato só deixa claro como ninguém está incólume à boizada. Nem Iza. Nem eu. No entanto, é impossível não avaliar a sorte do homem que consegue ser cônjuge daquele exemplo de talento e presença. Nem falo muito de sua óbvia beleza, o que para muitos é o que deveria entrar em alguma contabilidade matrimonial, só que não seguirei por essa tônica.

Iza é a justificativa do mulherão moderno. Trabalha, tem talento de sobra, é inteligente, não se subjuga, é dona de uma carreira icônica, porém quis viver o que todos temos direito a querer: uma família. Escolher alguém para ter um filho é de uma responsabilidade absurda. No processo de gravidez, ela descobre uma traição. Com print – esse termo emprestado que quer dizer cópia de tela de algum aparelho em que haja mensagens. Sei que todos hoje conhecem o significado de print e de traição, talvez não conheçam o de Iza.

Iza é dessas mulheres que já mudaram a história. Imagina relacionar-se com um indivíduo com tamanho poder de alma a ponto de mudar o rumo das coisas? Na verdade, hoje em dia, todas as mulheres são históricas, Evaristo Conceição, Paola Oliveira, Rosa Amanda Strauzz, Roseana Murray, minha esposa Juliana, todas são históricas. Se eu não colocar minha sogra e minha mãe aqui, acho que tomo um catiripapo. Inclusive, até as mulheres retrógradas são históricas, pois expõem a profundidade da misoginia social e de como hoje a busca pelo fim do machismo, por uma sociedade de reais igualdades – ainda engatinhamos nisso  – se torna um mister. Há o livro de outro mulherão, Djamila Ribeiro, que expõe sobre lugar de fala. Imagino o quanto Iza não esteja negociando com sentimentos. Em um vídeo, ela expõe que não sabia o quanto era amada e se sentiu acolhida ao expor a questão. Seu agora ex-marido, exposto ao escrutínio coletivo, hoje deve se arrepender. Cuidar da família, não viver a festa do nascimento – uma das melhores partes de ser pai – acompanhar em tudo, posso dizer o quanto é maravilhoso.

Pensando em Djamila, coloco-me também em meu lugar de fala. De escrita. Li muito sobre a imaturidade dos atuais jogadores  de futebol. Há quase 100 anos eles são alçados a deuses e não a homens comuns. Nós, os comuns, temos a sorte de conseguir uma mulher, essa deusa mística, que sobrevoa nosso pensamento e perfaz nossa vida de lucidez e caminho. Mulher é o inverso de pirambeira. O ex-marido de Iza a traiu com uma pirambeira. Em alguns lugares, pirambeira não se refere a mulheres ruins, mas a barrancos. Se cair, vai se dar mal. Nós, os comuns, donos de uma barriguinha, de rugas, queda acentuada de cabelo e de outra feíce que nos coloca em nosso devido lugar de esquisito, exótico, troço, quando tem a sorte de um relacionamento, de um namoro, de um casamento, filhos, se deve à supremacia da mulher. Tive alguma sorte 3 vezes. Meus filhos nasceram parecidos comigo, mas lindos. Essa é a sorte maior, ser pai de filhos lindos. Milagre. Como é a vida desses deuses do futebol? Há de se ter uma noção vendo que não são homens mesmo, são talentosos meninos mimados. Iza se encantou por um menino mimado. Algo que não a desmerece, apenas expõe as entranhas do amor mais puro e tradicional. Iza traída é um Brasil que não se propõe mais a esses dessabores. Porém, seu didatismo talvez seja maior e será constantemente revisitado. Vamos ver o que nos reserva o tempo e a grandeza de Iza, uma gigante cada dia maior.

MÁRCIO CALIXTO
Professor e Escritor

Márcio Calixto. Foto: Divulgação.


Coluna de Márcio Calixto

 

Author

Professor e escritor. Lançou em 2013 seu primeiro romance, A Árvore que Chora Milagres, pela editora Multifoco. Participou do grupo literário Bagatelas, responsável por uma revolução na internet na primeira década do século XXI, e das oficinas literárias de Antônio Torres na UERJ, com quem aprendeu a arte de “rabiscar papel”. Criou junto com amigos da faculdade o Trema Literatura e atualmente comanda o blog Pictorescos. Tem como prática cotidiana escrever uma página e ler dez. Pai de dois filhos, convicto morador do Rio de Janeiro, do bairro de Engenho de Dentro. Um típico suburbano. Mas em seu subúrbio encontrou o Rock e o Heavy Metal. Foi primeiro do desenho e agora é das palavras, com as quais gosta de pintar histórias.