Por Cristiana Lobo
O que faz um espírito talentoso e criativo quando o mundo ao redor passa por momentos difíceis? Produz a sua arte e indiretamente nos aponta novos caminhos. Foi o que fez o pintor, ilustrador, designer e quadrinista Vidi Descaves. Em setembro de 2020 ele se desafiou a criar uma nova arte por dia, durante um ano. O resultado será reunido no livro 3 da série Tastequiet e para isso conta com a ajuda de amigos e leitores por meio de financiamento coletivo no site Benfeitoria. O lançamento está previsto para maio, no Rio.
Cada livro da série tem uma capa lisa, de uma única cor e o título centralizado com letras pequenas, discreto mas repleto de conteúdo, como o autor. A capa do novo livro é marrom, uma referência à terra. Talvez uma influência do tempo em que ele passou elaborando as artes em um sítio perto de Friburgo e depois no sítio da família, em Niterói.
São 366 desenhos, sem nenhum texto. Um universo silencioso e atemporal, uma poesia visual em cores que remete à linguagem surrealista do sonho e do inconsciente, sem deixar de ter uma conexão com o presente que de alguma forma atravessa as criações. O resultado é abstrato, mas o processo, segundo Vidi, é resultado de leituras sobre filosofia e sobre o mundo em geral. Muitas vezes ele traduz nos desenhos questões como os pesos que a gente carrega, processo de vida e morte, vislumbramento, dúvidas, entre outras.
Esse ano, por causa do confinamento, ele teve mais tempo para focar no livro. A média é de um mês elaborando e reelaborando cada desenho.
“É um projeto que exige muito porque me proponho a me colocar em uma posição de criatividade total, fazer algo que eu nunca tenha visto“, comenta o autor.
As artes dos dois livros anteriores ilustravam muitas questões de relacionamentos. Este terceiro livro traduz vivências como tempo, confinamento, hierarquia x domínio, relação entre natureza e cidade (como uma influencia a outra), e outras que vieram à tona pelo contexto político e de pandemia.
Vidi começa o processo desenhando a lápis em cadernos feitos à mão. Os estudos que ele decide aproveitar ganham uma versão mais aprimorada em aquarela e nanquim. Ele sabe o que quis dizer com cada imagem, cada cor e elemento tem um significado, não são criações aleatórias, são fruto de muita pesquisa artística e conceitual. Mas ele não revela, prefere que cada leitor tenha a sua interpretação e dê asas à imaginação.
OBS: quem visitar o site do financiamento coletivo, verá um vídeo editado por ele e filmado pelo pai, o violinista Bruno Descaves. A irmã, a figurinista Luna Jatobá criou o figurino e as máscaras que Vidi usa. Ele não quis mostrar o rosto, prefere enfatizar a arte.
SERVIÇO
Financiamento Coletivo do Livro 3 Tastequiet
- Onde: Site Benfeitoria