Sobre os Olhos do Cachorro
Observo-me no cachorro
Há ranhuras naquele pelo
Que nos faz parecer
Sós.
Ele observa meu charuto
Deseja-o
Vem ao meu encontro
Pergunta-me se pode
Compartilho.
Ele me devolve o charuto
Pergunta-me o que leio
O que escrevo
“Por quê?”
Não sei respondê-lo
Ele traga uma vez mais do charuto
Entrego-lhe meu livro
“Conheço”
O folheia
Tinha intimidade com a obra
Pergunto do que mais gosta
“Do conto chamado Zadig”
Reconheço o gosto
Fumo do charuto
Ele volta à sua labuta de revirar lixos
E eu no livro
Ao conto
Ao charuto
Aos cacos de alguma dignidade
Permissiva