“O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queiroz, foi um livro proibidíssimo, em meados do século 20, mas todas as famílias o tinham e o mantinham escondido, disfarçado, nas estantes. Era citado, vez por outra, em conversas adultas, e suscitava muita curiosidade. O que poderia conter aquela capa envolta em papel pardo?, perguntei-me, ao perceber o movimento estranho na casa; mãe e tias aos cochichos, irmã, mal saída da adolescência, questionada, dedos apontados. Fora apanhada com os olhos grudados, a respiração suspensa, o objeto interdito aberto à frente.
Até o surgimento do rádio – depois o cinema, a TV e, recentemente, a internet -, todo o conhecimento era disseminado no papel, fosse em livros, revistas, apostilas, folhetos, enciclopédias…
O sexo, que deveria ser ato tão corriqueiro aos seres humanos como comer, dormir e andar, foi “demonizado” para que dele se fizesse comércio, com a santa colaboração da Igreja e dos moralistas em nome da família – a mesma que possuía escondido o tal Padre Amaro.
Esse tema sempre esteve nos papéis. Desde o milenar “Kama Sutra”, passando pelos famosos “catecismos”, do incomparável Carlos Zéfiro, ou nos textos impressionantes do Marquês de Sade, e mesmo em romances melosos dos livros de bolso, como os de Barbara Cartland, permitidos, com ressalvas, às jovens em plena puberdade.
Por séculos sendo fonte de saber da qual todos bebiam (de acordo com seus interesses), o livro, ainda hoje e apesar da tecnologia, oferece “fenômenos literários”. É a aposta em um nicho, como o “50 tons”, e outras descrições que procuram chocar para fazer frente ao explícito, cada vez mais explicito, virtualmente.
A mestra do sexo no papel, no Brasil, a meu juízo, chama-se Hilda Hilst. Aquela que conhecemos como uma simpática senhorinha, mas que, entre páginas, diz coisas como: “O moço falou que quando ele voltar vai trazer umas meias furadinhas pretas pra eu botar. Eu pedi pra ele trazer meias cor-de-rosa porque eu gosto muito de cor-de-rosa e se ele trazer eu disse que vou lamber o piupiu dele bastante tempo, mesmo sem chocolate. Ele disse que eu era uma putinha muito linda.” (in “O caderno Rosa de Lori Lamby”)
Seja na literatura ou não, o sexo é uma discussão longa, complexa e, na maioria das vezes, evitada. Não é simples descrever uma relação sexual. Com detalhes, resvala no pornográfico; de forma lírica, pode chegar ao piegas. Se o público é jovem, diante de tamanho déficit no ensino sobre sexo e doenças sexualmente transmissíveis, em casa ou nas escolas, as informações precisam ser cuidadosas, o que dificulta a liberdade artística.
Garimpar bons títulos continua a ser complicado. Assim como nas relações reais, mesmo hoje, com quebras de tabus, liberdade na informação, disseminação maciça sobre o assunto, que vão dos quadrinhos aos clássicos, evitamos o assunto, e muitos têm vergonha de assumir certas leituras, se o assunto extrapola o romance pudico.
Este tema é inesgotável e merece outras abordagens. No entanto, quero aguçar as curiosidades. A cena descrita com perfeição, aquela que nos toca no ponto certo depende, claro, da libido de cada um. No meu caso, elejo uma em especial. Está no livro “Marcelino”, de Godofredo de Oliveira Neto. Sensibilidade, sensualidade e, o que se espera em uma transa, muito tesão.
Não vou entregar o número da página, nem do capítulo. O livro todo é uma experiência que o leitor merece viver.
Se você está à procura de prazer, pratique leitura…