Patrícia Terra é uma jornalista, produtora de TV e assessora de imprensa que agora se aventura pela desafiadora arte da direção cinematográfica.
Mãe de dois jovens, ela é antenada e circula por muitos espaços. Trabalha com clientes tão diversificados como a Clínica Jorge Jaber, que trata a dependência química, e o Bar Semente, na Lapa, Rio de Janeiro, um dos redutos mais badalados da música brasileira.
Aliás, a paixão pela música é que a fez mergulhar, há cinco anos, em uma ideia que culmina com o lançamento, neste sábado, no Canal Brasil, do show Geração Semente, que reúne 70 músicos do quilate de Yamandu Costa, Teresa Cristina, Roberta Sá e o grupo Casuarina, entre muitos outros.
Como parte desse trabalho, está saindo do forno também o documentário Semente da Música Brasileira, dirigido e produzido por ela na raça. Com mais de 200 horas de material gravado e com 40 entrevistas, o objetivo de Patrícia é contar a história do pequeno palco do Semente como um espaço para grandes encontros musicais, numa verdadeira homenagem aos artistas que brilham na vasta e diversa constelação da MPB.
Fale do seu trabalho como jornalista e produtora de TV.
Comecei na profissão de jornalista como repórter, primeiro estagiando na Radio Nacional, depois na Editoria Rio da TV Globo. Durante anos, fui repórter na TV Manchete, no jornalismo, onde fiz muitas matérias da editoria de Arte e Cultura, assim como coberturas de fatos nacionais importantes, como a greve da CSN, e nos programas Mistério e Operação Resgate. Pedi demissão para atuar na reportagem do programa Pequenas Empresas, Grandes Negócios, da TV Globo. Passei a trabalhar como produtora quando ofereci uma pauta para o Globo Repórter e me convidaram para produzi-la – acabei fazendo outras edições do programa. Atuei ainda no programa Marcia Peltier Pesquisa, da Band, já como produtora. Quando o SBT Rio voltou ao ar, em 1999, assumi a coordenação de pauta e produção do jornal, onde fiquei por 11 anos. Pedi demissão para atuar em assessoria de imprensa, vídeos institucionais, marketing político e desenvolver meus projetos de documentários. Em 2014 e 2015, assumi a coordenação de produção e conteúdo do programa Observatório da Imprensa, com Alberto Dines, na TV Brasil, atividade que acumulava com as da minha empresa, a Interface Jornalismo, Publicidade e Comunicações.
Por que resolveu se envolver com assessoria de comunicação?
Desenvolvi habilidade de vender pautas como repórter enquanto fui coordenadora de pauta e produção. No SBT, eu sugeria, aprovava e produzia seis pautas por dia. Me acostumei a trabalhar com a corda no pescoço, com prazos curtos, e entregar resultados a cada dia. Pensei que poderia vender pautas diferentes para veículos diferentes. Com a vantagem de poder, muitas vezes, escolher o cliente. As tarefas de assessoria de imprensa me permitem horário flexível, apesar de me tomarem de surpresa a qualquer hora do dia ou da noite, mas isso a gente já sabia que iria acontecer desde a faculdade…
E como surgiu o Bar Semente na sua vida?
O Bar Semente surgiu quando comecei a frequentar a Lapa, em 2010. Fui dois dias seguidos – domingo e segunda – e fiquei muito impressionada com a energia da música do lugar: tão pequeno e com uma música tão maravilhosa, que aproximava as pessoas. Passei a ir ao Semente quase toda segunda, para ver o Zé Paulo Becker e o Semente Choro Jazz. Cada noite, uma surpresa, uma canja diferente. Pensei: como ninguém fez um documentário ainda contando a história deste bar e sua importância para a revitalização da Lapa?
Pedi a um amigo que me apresentasse à dona do lugar, a gaúcha Aline Brufato. Na cara e na coragem, eu vendi pra ela a ideia do documentário. Ela acreditou na minha capacidade de realização, virou minha parceira no projeto, me apresentando aos músicos e detalhando a história, além de atuar comigo colocando o projeto em leis de incentivo. Ela também me apresentou ao Yamandu Costa que topou assinar a direção musical do documentário Semente da Música Brasileira. Só me tornei assessora de imprensa da casa há dois anos, quando o Semente se mudou para a casa ao lado, um sobrado centenário, com mais espaço e conforto.
Teaser do doc:
Como foi sendo desenvolvido o projeto do documentário?
Através dos encontros naquele pequeno palco do Semente, se formaram parcerias e uma nova geração surgiu, de 1998 até os dias de hoje.
As parcerias que fui fazendo ao longo dos últimos 5 anos viabilizaram o projeto. O Cavi Borges, da Cavideo, entrou de parceiro para me ajudar a bancar o primeiro corte e, juntos, vendemos o projeto do filme para o Canal Brasil. A Clínica Jorge Jaber está entrando com dinheiro para que consigamos pagar os profissionais para a realização do filme e do DVD. Ainda precisamos de algum dinheiro para a finalização – correção de cor e áudio, computação gráfica, etc.
É uma devoção da minha parte. Até agora, não ganhei nenhum centavo pelo meu trabalho, que foi intenso, na produção e na direção. Mas a glória é conseguir realizar esse projeto.
O DVD é um subproduto desse projeto?
Eu não diria subproduto, mas, sim, parte do projeto. Ele foi gravado para gerar trilha para o documentário. Gravamos em dois dias, em janeiro de 2015, no Bar Semente. Foram 70 artistas tocando e cantando em 26 faixas musicais. Os autores cederam os direitos autorais para a obra, o que viabilizou o projeto do documentário, já que pagar pelos direitos autorais de um filme musical como este seria impossível. As faixas estão sendo usadas na edição do longa-metragem.
Quais são os desafios de assumir a direção de um filme?
Os maiores desafios passam pelo tamanho da obra. São mais de 200 horas de material bruto gravado, entre imagens em 5D, VHS, celular, mini-dv… Sou habituada a realizar trabalhos audiovisuais de 30 minutos, mas duas horas? Minha preocupação é a curva dramática, o ritmo, a ligação entre as músicas e, principalmente, emocionar. Quero passar para o público a emoção que senti ao descobrir esse segredo vivo.
Fiz mais de 40 entrevistas. Escolher quem falou melhor sobre cada assunto também foi complicado. Mas tenho a ajuda dos editores Christian Caselli, que fez o primeiro corte que levamos para o Canal Brasil aceitar ser coprodutor, e Paulo Henrique Fontenelle, que está montando o longa.
Por que música de bar é diferente?
A música do bar Semente é diferente. Como conta o Hugo Sukman, curador do Museu da Imagem e do Som, que apresenta o DVD na capa, tem um amigo que diz que entra num bar na Lapa e está tocando uma música do Cartola. Ele sai e entra em outro bar, e está tocando o final da mesma música. Isso é bom, porque a Lapa virou referência em qualidade quando se fala de samba. Mas o Semente é diferente. É um palco de inovação, de música autoral, de experimentação e encontro de músicos, que estão sempre muito perto do público, o que faz toda a diferença.
Não percam a estreia, no sábado, dia 30, do show DVD GERAÇÃO SEMENTE, no programa
FAIXA MUSICAL, no CANAL BRASIL, às 18h.
O BAR SEMENTE fica na Rua Evaristo da Veiga, nº 149 – Lapa, Rio de Janeiro
Patricia Terra: patriterra@gmail.com ou 21-99859-3662
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Doc Semente da Música Brasileira