Rock Brasil 40 anos: celebração ao Rock e à retomada artística da cidade

Por Cristiana Lobo

A penúltima noite do festival Rock Brasil 40 Anos, que celebra os 40 anos do rock brasileiro na Marina da Glória, foi a prova de que um evento alternativo ao Carnaval funciona, é muito bem-vindo e poderia inclusive se tornar parte do nosso calendário. Nada por lá lembrava a folia da Sapucaí ou de alguns blocos que ferviam em paralelo, exceto algumas raras moças com resquício de purpurina na maquiagem.

A primeira atração da noite foi o show de Léo Jaime, recebido pelo público com um coro afetuoso de “Parabéns pra Você” por ser o dia do seu aniversário. Visivelmente grato pelo carinho, ele dançou, cantou e relembrou sucessos da carreira que marcaram nossas memórias afetivas como Sonia, Rock Estrela, As Sete Vampiras, O Pobre entre outros, além de alguns hits internacionais como Should I Stay or Should I Go? (The Clash). Com o carisma de sempre, arrebatou a todos e recebeu no final do show outro coro de parabéns pelo aniversário. Ele também destacou a alegria de dividir o palco pela primeira vez com o filho David Jaime, que tocou guitarra.

Em seguida, Humberto Gessinger fez um passeio pelos 40 anos de sucesso com boa parte das clássicas canções dos Engenheiros do Havaí e algumas músicas do seu trabalho solo, lançado oficialmente em 2012, com o álbum Insular. Um dos principais compositores de sua geração, em entrevista para o Canal Brasil logo após o show, ele reforçou a importância de criar uma linguagem musical autêntica. Sua fala refletiu sua trajetória musical marcada pela exploração de novas sonoridades e pela valorização da cultura de sua terra natal, o Rio Grande do Sul. No show de ontem, o baterista Rafael Bisogno subiu ao palco vestido com a pilcha e com um tambor bombo leguero – elementos típicos dos eventos de tradição gaúcha.

A banda CeLEEbration fez uma homenagem à trajetória da cantora Rita Lee, que acaba de se recuperar de um grave câncer de pulmão. Liderada por seu filho Beto Lee, a banda destacou os principais hits da Rainha do Rock pela voz de Débora Reis. Assistir ao show deu saudades das inesquecíveis performances da cantora, que está escrevendo um livro sobre a fase de superação.

“Depois de dois anos de pandemia, a gente vai poder apresentar esse show aqui no Rio, que foi um lugar que sempre recebeu minha mãe de braços abertos. Ela ganhou cidadania carioca, temos família aqui. Eu tenho um vínculo com o Rio de Janeiro, é basicamente tocar em casa”, comentou Beto ainda no camarim minutos antes do show.

A apresentação da banda Capital Inicial foi a última e uma das mais emocionantes da noite. Duas palavras usadas pelo vocalista Dinho definem a sensação: catártico e terapêutico. Foi exatamente isso. Tanto ele quanto a plateia estavam em comunhão e visivelmente felizes pelo simbolismo da noite. Uma celebração que foi muito além do rock dos anos 80 e significou também um salve à volta das apresentações presenciais do grupo e à saída do período de confinamento. Tudo isso brindado com uma noite quente típica de verão mesmo em pleno outono e uma grande lua minguante abençoando a todos.

O público em sua maioria era formado por pessoas que viveram sua juventude nos anos 80 e sabiam as letras de todas as músicas, o que garantiu uma plateia participativa e emocionada, muito bem conduzida pelo carisma e energia de Dinho. Ele soube criar um clima tão estimulante e positivo que conseguiu tirar o sono de quem já estava cansado em torno das 03h da madrugada. Quando ele cantou a clássica “Que País é esse?“, a plateia reagiu com um coro “Fora Bolsonaro“.

Dinho lembrou que a banda também comemora 40 anos em 2022 e comentou “todos que pisaram nesse palco hoje são grandes amigos meus, um privilégio estar aqui!” Ele também lembrou de homenagear quem deixou saudades, cantando alguns sucessos de Renato Russo e emocionando ainda mais a plateia. No final, pediu que as luzes do palco fossem apagadas e todos ligassem as lanternas dos celulares “vamos deixar só os celulares e a lua!” Pediu, fazendo do público uma constelação e criando uma noite memorável como o nosso rock dos anos 80 merece. Palmas para os músicos e para a produção sempre impecável de Peck Mecenas.