Com texto e elenco premiado, o espetáculo de Curitiba faz cinco apresentações no Teatro Cacilda Becker
2024 chegou, e a Batalhão Cia de Teatro chega ao Rio de Janeiro para curta temporada do espetáculo premiado Retilíneo. Entre os dias 31 de janeiro a 4 de fevereiro, um dos grupos de teatro negro de Curitiba ocupa o Teatro Cacilda Becker.
O espetáculo fez sua estreia na 16ª edição do Festival de Teatro de Pinhais (PR), onde levou o prêmio de melhor dramaturgia da mostra profissional. Em novembro de 2023, realizou em Curitiba uma temporada com onze apresentações, o que rendeu ao grupo três indicações na 40ª edição do Prêmio Gralha Azul de Teatro, sendo o de melhor dramaturgia, melhor atriz para Isabel Oliveira e melhor espetáculo.
Retilíneo foi escrito pelo ator, diretor e dramaturgo Carlos Canarin em 2019 durante o Núcleo de Dramaturgia do Sesi/PR. O trabalho foi finalista do I Prêmio Literário Maria Firmina dos Reis e vencedor da I Mostra de Textos Breves do Coletivo A Digna de São Paulo. Em cena na temporada do Rio de Janeiro estarão os vencedores do I Prêmio Pretas Potências (Pretahub/Minc) Isabel Oliveira e Carlos Canarin, completam o elenco Henrique Augusto e Kelle Bastos.
A peça conta a história do genocídio negro brasileiro, desde a chegada dos escravizadores europeus no continente africano até os dias atuais, perpassando por temas como a violência policial e o encarceramento em massa da população negra. O espetáculo é dividido em quatro linhas narrativas, onde uma menina africana observa a chegada das naus portuguesas; um homem escravizado sendo vendido em um mercado público; uma mãe longe dos seus filhos e um rapaz que anda pelas ruas de madrugada.
“Durante todo o processo comecei a puxar algumas memórias de criança, da relação com minha mãe, que desde sempre falava que eu era um menino negro em Porto Alegre, no sul do Brasil, em uma capital “branca”, mas que apesar disso a cultura negra fervia e ferve e está em todos os cantos, seja na arquitetura, nos costumes, nas palavras e na religião. E no processo de escrita utilizei essas memórias, usei autoficção, manipulei essas memórias, criando e emprestando isso para outros personagens. “Retilíneo” é um texto que fala sobre o genocídio do povo negro, que começa desde a escravização com a chegada dos portugueses na África, e na mercantilização e desumanização desses corpos, que segundo Abdias Nascimento no livro “O genocídio do negro brasileiro”, é um processo que acontece desde quando africanas e africanos foram sequestrados da África, e que continua nos dias atuais. “Retilíneo” vem muito desse lugar, de memória, de um lugar que é meu e que se mistura no coletivo da população negra”, falou Carlos Canarin.
Elenco
A atriz Isabel Oliveira teve o primeiro contato com “Retilíneo” em 2019, onde participou da leitura dramática do texto ainda nas ações do Núcleo do SESI. Atriz experiente, levou em 2023 os prêmios Pretas Potências na categoria Artes Cênicas e o de Melhor Intérprete no 16º Festival de Teatro de Pinhais, pelo espetáculo “Memórias Duma Baobá”. Ainda, em novembro do ano passado, foi indicada a melhor atriz pelo espetáculo Retilíneo no 40º Prêmio Gralha Azul de Teatro.
“O texto do Carlos, chegou na minha mão em um momento muito importante, onde eu comecei a entender que eu precisava falar das nossas questões na cena, eu estou no teatro há quase 30 anos e naquele momento eu me dei conta que eu sabia muita coisa de teatro, que eu sabia fazer muitas personagens escritas e realizadas por pessoas brancas. E estar no elenco de ‘Retilíneo’ tem sido muito importante, levando essa sensibilidade das mães pretas no espaço da cena. Estou muito orgulhosa de fazer parte desse processo”, disse Isabel Oliveira.
Kelle Bastos, atriz e arte-educadora, começou a sua carreira ainda na adolescência. Graduada em licenciatura em teatro, desenvolve pesquisa sobre o teatro negro e a educação antirracista, e falou do sentimento de fazer parte do elenco:
“Falar de ‘Retilíneo’, é falar sobre potência e sobre aquilombamento. Estar no elenco tem sido um aprendizado constante. Poder falar sobre as nossas questões que atravessam os nossos corpos negros é um ato político e revolucionário. Além disso, ‘Retilíneo’ fala de poéticas, de afetos e memória, é um projeto sonhado junto e está sendo realizado com pessoas que sonham e acreditam em um novo futuro”, comentou Kelle Bastos.
Henrique Augusto, é o mais novo no elenco, ator e pesquisador de atuação e escrita negra contemporânea brasileira, teve o primeiro contato com Retilíneo como público, durante a temporada que aconteceu em 2023 em Curitiba.
“É uma honra estar no elenco, que tive o primeiro contato durante a temporada que aconteceu em Curitiba, e foi uma experiência linda e inesquecível. Um espetáculo tão certeiro com mensagens tão importantes. E depois lendo texto é impossível não se sentir tocado, pois somos conectados com questões íntimas, como pessoa negra no mundo”, falou Henrique Augusto.
Carlos Canarin, dramaturgo e diretor de Retilíneo, também está em cena. Ele falou dos desafios de estar no palco e das expectativas da curta temporada no Teatro Cacilda Becker.
“Estar em cena é um reencontro meu com esse texto que está encharcado de minhas próprias escrevivências, como um homem negro a partir de uma outra perspectiva que é a continuação do processo que começa na escrita, mas que termina somente quando é traduzida em corpo, voz e encontro com o público. E estar no Rio de Janeiro é uma ótima oportunidade para encontramos outros públicos. A cidade do Rio também nos oferece outros olhares e experiências, afinal estamos falando de uma localidade por onde vários e várias de nossos e nossas ancestrais passaram”, finalizou Carlos Canarin.
A curta temporada de Retilíneo acontece de 31 de janeiro a 04 de fevereiro no Teatro Cacilda Becker.
Oficina de Dramaturgia e Roda de Conversa:
Além das sessões do espetáculo, a companhia realizará duas ações formativas, a oficina Dramaturgia das Encruzilhadas nos dias 30/01 e 01/02, com Carlos Canarin, teórico-prática, sobre dramaturgia negra brasileira, das 14h00 às 17h00. A Batalhão Cia de Teatro, também realizará uma roda de Conversa “A presença negra no teatro brasileiro”, com elenco e convidados, das 15h00 às 17h00. As atividades formativas são gratuitas e abertas ao público em geral.
Ficha Técnica:
Dramaturgia e direção: Carlos Canarin / Assistente de direção: Isabel Oliveira Elenco: Carlos Canarin, Isabel Oliveira, Kelle Bastos e Henrique Pinho / Cenografia: Wilison França / Figurino: Beatriz Alves / Costura: Marli, Nere Soares / Iluminação: Rafael Araújo e Vini Sant / Operação de luz: Everson Silva / Sonoplastia: Carlos Canarin Preparação corporal: Marcella Perbiche / Preparação vocal: L. Mazzarotto / Maquiagem: Clara Jansson / Operação de som: Diogo Marcelo / Registros visuais: Paulo Silveira / Material gráfico: João John / Direção de produção: Vanessa Ricardo e Diogo Marcelo / Assessoria de imprensa: Vanessa Ricardo / Produção: Batalhão Cia de Teatro / Apoio: Fundação Nacional das Artes (FUNARTE), Ministério da Cultura e Governo Federal.
Agradecimentos: Garalhufa Escola de Atuação, Mariana Venâncio, Olga Nenevê e Eduardo Giacomini.
SERVIÇO
Retilíneo
Onde: Teatro Cacilda Becker – Rua do Catete, 338 – Catete – Rio de Janeiro
Quando: 31 de janeiro a 4 de fevereiro de quarta a domingo às 19h00
Ingressos: R$50,00 e R$25,00 (meia entrada)
*Ingressos à venda na bilheteria ou pelo Sympla no link: https://www.sympla.com.br/evento/retilineo-temporada-no-teatro-cacilda-becker-rj/2293235?_gl=1*2lgo2m*_ga*ODM0OTUzODk5LjE2NDYxNTE4MzI.*_ga_KXH10SQTZF*MTcwMzg2MjQ3MS41LjEuMTcwMzg2MjQ4Ni4wLjAuMA