“Na minha arte, se não há provocação, emoção,
não existe motivação – nesta ordem.”
Marcelo Miranda se descreve como artista plástico por uma opção incontrolável de querer colorir a vida. De poder ver o brilho dos olhos de alguém. Nascido e criado em Copacabana, no Rio de Janeiro, se deixou levar pelo seu talento somente quando foi morar em Niterói, município vizinho, onde conquistou espaço – e tempo – para desenvolver seu trabalho.
Como as artes plásticas entraram na sua vida?
Tudo começou ainda muito criança, eu ficava horas desligado viajando em meus desenhos. Várias aventuras perambulavam ali na minha imaginação.
Com o tempo, meus desenhos foram amadurecendo, mas sempre com a linguagem de aventura. Costumava ler muitas histórias em quadrinhos de super-heróis. Logo descobri dois fantásticos desenhistas – Boris Valejo e Frank Frazzeta -, e ali estava toda a síntese de minhas “viagens de aventuras”…
Passei a desenhar muito com tal linguagem. Algum tempo depois, comecei a fazer montagens de desenhos com fotos e a usar as técnicas de nanquim com bico de pena. No entanto, devido a caminhos da vida, fiquei afastado durante anos.
Por volta de 1997, resolvi pintar umas telas – coisa que eu jamais havia feito – para minha casa.
Por coincidências da vida – se é que existem, quando me mudei para outro bairro, encontrei um amigo de adolescência de Copacabana, que pintava quadros. Ao ver minhas telas, ele me incentivou a participar de salões. Não levei muito a sério, mas lá fui eu. Para minha surpresa, fui agraciado, logo no primeiro, com Menção Honrosa. Daí por diante, fui premiado em todos os salões dos quais participei.
Passei a comprar livros de arte para tentar entender e aprender. Foi nessa busca que me deparei com o filme de Jackson Pollock. Apesar de trágica, aquela “inquietação”, uma verdadeira montanha russa emocional pela qual ele passava, me abriu uma perspectiva nova. Comecei a procurar por expressionistas, tanto de “formas abstratas” como figurativas. Desta forma, venho montando e desmontando minhas inquietações.
Como é o seu processo de criação?
Depende do momento em que me encontro. Claro que sempre começa com o famoso duelo entre o artista e aquele momento que encara a tela em branco… Depois, penso em uma cor e suas nuances, suas complementares, no equilíbrio, harmonia… Nem sempre acerto de primeira. E nem de segunda. Mas há um amadurecimento durante a execução. Não é raro. Costuma ocorrer. Ao passar o olho em alguns trabalhos “concluídos”, me deparo com a sensação de que falta algo. E lá vou eu. Às vezes um detalhe daquela obra anteriormente “concluída” fica e o resto dela é totalmente recriado.
Você costuma pintar paisagens, principalmente cariocas. Por que essa predileção? É amor pela sua cidade?
Na verdade, o expressionismo abstrato é o predominante. Mas, no caso de pintar paisagens cariocas, apesar de já ter feito paisagens de outras cidades, é no Rio que me emociono. A variação de formas, cores e matizes é inebriante. Estas paisagens foram palcos de grandes acontecimentos para mim e quando pinto uma sempre sou remetido a tais momentos.
Que outros temas costumam aparecer em sua obra?
Gosto muito de pintar o corpo feminino. E aí faço até um paradigma com a paisagem carioca…Variação de formas, cheiro, gostos, cores e matizes. É lindo.
O que te motiva, te emociona e te provoca a pintar?
Na minha arte, se não há provocação, emoção, não existe motivação – nesta ordem. Um amigo me descreveu como Mercúrio – uma analogia ao mensageiro dos deuses – por eu ir de um extremo ao outro em fração de segundos. Só pinto as nuances, os cheiros, os gostos que me provocam e me emocionam de formas positivas. Tomo como exemplo uma série que fiz em virtude de um sonho que tive. Ao fundo da cena, tocava a música Le Chat Noir, do saxofonista suíço Philippe Chrétien. (https://www.youtube.com/watch?v=udIH-QSM418)
Você precisa estar sempre num determinado estado emocional para pintar ou vale sentir raiva, paixão, tédio, ansiedade etc?
Bem, não tenho sentimentos ruins quando pinto. Se os tenho não pinto. Como disse, tenho que estar tomado de paixão, pelo cheiro, pelo gosto, pela forma, pela lembrança, pelo som. Quando pinto, tenho sempre música ao fundo: Jazz, Blues, Lounge.
A ansiedade só acontece quando me vem a onda, a vibração. A ansiedade de passar para a tela a emoção mais fiel possível ao meu sentimento.
Quais são os projetos para este ano?
Pretendo voltar ao circuito de salões e expor mais as minhas obras.
E qual é o seu sonho profissional?
Ter meu trabalho reconhecido. Saber que ele emociona alguém é muito prazeroso. Principalmente quando esse trabalho é criado a partir de minhas próprias emoções.
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