POETRIX: Conheça a linguagem poética genuinamente brasileira e que faz 26 anos hoje!

Poetrix , fundada pelo escritor bahiano Goulart Gomes, nasceu como uma linguagem literária minimalista e já possui longa trajetória

O Poetrix , que hoje completa 26 anos, se consolidou como um gênero literário singular: minimalista, intenso, breve — mas capaz de expressar vastas emoções em formas reduzidas. Mais que estilo ou movimento, é uma linguagem poética que enfatiza a síntese, o título significativo, o ritmo e o silêncio entre as palavras. A Academia Internacional Poetrix (AIP) hoje coordena, promove e preserva essa tradição, convocando novos autores para explorarem seus limites.

O Poetrix foi criado pelo escritor baiano Goulart Gomes em 26/09/1999, com o lançamento do livro Trix – Poemetos Tropi-Kais, durante a III Bienal do Livro da Bahia. Nesse mesmo momento foi redigido o I Manifesto Poetrix.
Em 2000, surgiu o Movimento Internacional Poetrix (MIP), que expandiu o gênero para diversos estados do Brasil e também para Portugal, Argentina, Estados Unidos, Venezuela, Colômbia, Itália e Espanha. O MIP realizou antologias, concursos literários e incentivou a produção criativa até 2020, quando deu lugar à Academia Internacional Poetrix (AIP), fundada oficialmente em 1º de julho de 2020.

O que é o Poetrix

O Poetrix é definido como um poema em até 30 sílabas métricas, escrito em uma única estrofe com três versos (terceto), acompanhado obrigatoriamente de um título. O título, longe de ser mero detalhe, é parte essencial do poema, funcionando como elemento de diálogo e ampliação de sentidos.
Há também derivações chamadas de Duplix, Triplix, Multiplix, que envolvem múltiplos Poetrix em diálogo ou a participação de vários autores

Academia Internacional Poetrix (AIP)

A AIP é a instituição responsável por preservar e divulgar o gênero. Sua atuação inclui:

• Estabelecer diretrizes para a escrita do Poetrix.
• Organizar concursos literários internacionais.
• Publicar antologias e revistas dedicadas ao gênero.
• Reunir escritores em cadeiras acadêmicas, como Goulart Gomes (Cadeira 1), Lílian Maial, Aila Magalhães, Angela Ferreira, Antonio Carlos Menezes, entre outros.

Características literárias

O Poetrix valoriza a concisão, a polissemia e a lapidação da linguagem. Cada palavra deve carregar intensidade e ressonância.

• Síntese: brevidade como recurso estético.
• Título: elemento integrante do poema.
• Intertextualidade e metáforas: ampliam o sentido além da forma breve.
• Estética visual: apresentação clara, sem ornamentos supérfluos.

Publicações e Concursos

O Poetrix conta com uma série de antologias históricas, como Antologia Poetrix 1 (2002) e outras que dialogam com elementos da natureza (Água, Fogo, Terra), chegando até Antologia Poetrix 7 – [R]Existir (2020), produzida durante a pandemia.
Entre 2001 e 2018, o MIP realizou oito Concursos Internacionais de Poetrix. A AIP segue promovendo novas edições, como o Concurso Internacional de Poetrix de 2024.

Publicações Recentes

Entre os novos lançamentos, destaca-se o livro infantil “Um, Dois, Trix…Poetrix!”, da escritora Lílian Maial, que será lançado em 27 de setembro. A obra busca introduzir crianças ao universo do Poetrix de forma lúdica, criativa e acessível, marcando um passo importante na popularização da linguagem junto ao público infantil.

Entrevista com o Fundador

Goulart Gomes. Foto: Divulgação

Em entrevista, Goulart Gomes destaca que o Poetrix nasceu da necessidade de romper padrões e propor uma poesia mais sintética e ao mesmo tempo profunda.

“A brevidade não significa limitação, mas intensidade. Cada Poetrix é como uma centelha que pode incendiar múltiplos sentidos”, afirma.

Confira abaixo nossa entrevista :

1. Raphael Gomide(ArteCult): Como nasceu a ideia do Poetrix e qual foi sua inspiração inicial para criar essa nova forma literária?

Goulart Gomes: Primeiramente, muito grato por esta entrevista. Em 1999 eu estava prestes a publicar um livro do que eu considerava haikais. Então, em conversa com o escritor amazonense Aníbal Beça, ele me demoveu desta ideia, argumentando que os meus tercetos não eram haikais, e sugerindo que eu os chamasse do que quisesse. Assim, resolvi chamá-los de poetrix (de poe, poesia, e trix, três), em uma licença poética que associa o sufixo “ix” à ideia de contemporaneidade e rapidez. Dessa forma surgiu “Trix Poemetos Tropi-kais”, o primeiro livro de poetrix publicado.

Goulart Gomes. Foto: Divulgação.

2. Quais são as principais diferenças entre o Poetrix e outras formas de poesia breve, como o haicai?

R: O poetrix tem um conceito bastante específico que é o de um terceto com um máximo de 30 sílabas métricas, com título. Após a “explosão” do poetrix começaram a ser divulgados muitos “haikais modernos”, que fogem às características do haikai tradicional. Portanto, as diferenciações que passo a citar são em comparação do poetrix com o haikai tradicional: a) o haikai não tem título, no poetrix o título é obrigatório; b) o haikai tem kigo (emoção relacionada às estações do ano), o poetrix não tem; c) o haikai tem 17 sílabas, o poetrix tem ATÉ 30 sílabas, sem considerar o título; d) o haikai é contemplativo e habitualmente rural, vinculado à natureza, o poetrix é minimalista, geralmente urbano, contemporâneo; e) o haikai dispensa metáforas, no poetrix elas são essenciais. Enfim, o haikai é uma pérola, o poetrix é uma pílula.

3. De que maneira a Academia Internacional Poetrix tem contribuído para difundir essa linguagem literária no Brasil e no mundo?

R: A AIP, criada em 2020, dá continuidade ao que foi iniciado, em 2000, pelo Movimento Internacional Poetrix. Ela é responsável pela manutenção das páginas nas redes sociais, pela realização de premiações de poetrix (como os concursos e o “Jabutrix”, destinado a livros publicados), realização de cursos e oficinas, publicação da revista AIP (para textos acadêmicos sobre o poetrix), encontros de autores, atribuição do certificado de Mérito Poetrix, interações com outras associações literárias, dentre outras atividades. É um trabalho imenso, feito com muita dedicação por todos que dela participam.

4. O que mais te surpreendeu na forma como os poetas adotaram e expandiram o Poetrix ao longo dos anos?

Goulart Gomes com a Agenda 2025 Poetrix. Foto: Divulgação.

R: O poetrix já nasceu com um bom número de praticantes. Inicialmente criamos um grupo no extinto Yahoogrupos. Em poucos meses já existiam 300 autores, de todo o Brasil, no grupo. Todos eles escreviam tercetos que não eram haikais, e se aliaram à proposta do poetrix. Inicialmente o poetrix foi muito criticado pelos adeptos do “poemão”. Mas a sua forma concisa se mostrou muito adequada para a dinâmica de mensagens breves utilizadas nas redes sociais. Confesso que não fiquei surpreendido com a sua rápida expansão. O poetrix é fruto do seu tempo, atendeu a um anseio latente de muitos escritores e rapidamente se expandiu. Apenas em uma plataforma de autores, na internet, existem 300.000 poetrix publicados!

5. Como você vê o lançamento de “Um, Dois, Trix… Poetrix!” de Lilian Maial no universo infantil? Que impacto acredita que o Poetrix pode ter para as novas gerações?

UM, DOIS, TRIX… POETRIX! de Lilian Maial

R: O poetrix tem sido muito utilizado no âmbito educacional, em escolas de norte a sul do país, como instrumento para um primeiro contato de jovens e adolescentes com a leitura e prática literária. Habitualmente recebo relatos de professoras (es) descrevendo os resultados de suas experiências em sala de aula. Exemplos de poetrix já surgem em diversos livros escolares. Ainda assim, 25 anos depois, não havia sido publicado um livro de poetrix exclusivamente infantis, ricamente ilustrado. Daí a importância deste livro de Lílian Maial, que certamente trará novas perspectivas tanto no âmbito educacional, quanto na formação de novos leitores. Acredito que ela, uma das mais brilhantes poetrixtas, desde as origens do poetrix, sendo carinhosamente chama da de “imperatrix”, está dando início a um novo momento na nossa história literária.

6. Existe algum plano para ampliar ainda mais o Poetrix em áreas como teatro, música ou artes visuais?

R: Não há um plano determinado para este objetivo, mas o poetrix é um “vírus” que contamina e está em constante mutação, a exemplo das várias formas múltiplas do poetrix (como o grafitrix e o duplix) que surgiram ao longo dos anos. Já ouvi algumas vinhetas produzidas a partir de poetrix, como forma de música experimental minimalista. Então, não será surpresa se viermos a contemplar o poetrix em outras formas de expressão cultural.

7. Como você enxerga o futuro do Poetrix: como uma forma consolidada dentro da literatura mundial ou como um movimento em constante mutação?

R: Como em qualquer área de conhecimento, é difícil prever o futuro. Já existiram propostas culturais, nas diversas áreas artísticas, que foram um tremendo sucesso em determinadas épocas, e que hoje estão esquecidas. Toda obra artística é fruto do seu tempo. É verdade que algumas se tornam “eternas”, porque abordam questões ou apresentam personagens que transcendem os séculos, como o Dom Quixote, de Cervantes. Então, não podemos assegurar uma “consolidação”. Por ter esta caraterística mutante, adaptativa, creio que o poetrix ainda será praticado por muitos anos.

Concurso Literário de POETRIX – AIP 2025

E hoje também saiu o resultado do Concurso Literário de Poetrix “Anthero Monteiro AIP 2025”

Confira os resultados!

Impacto Cultural

O Poetrix atrai tanto escritores iniciantes quanto veteranos, criando um espaço de intercâmbio literário e criativo que ultrapassa fronteiras. Sua forma concisa o torna especialmente útil em oficinas literárias, educação e ambientes digitais. O gênero demonstra flexibilidade: pode ser explorado em livros adultos, infantis, projetos colaborativos e até em experimentações multimídia.

O Poetrix é hoje uma linguagem literária reconhecida, com mais de duas décadas de existência, e encontra na Academia Internacional Poetrix sua força de continuidade. Ao mesmo tempo em que resgata a tradição poética, o gênero aponta para novas possibilidades de síntese e experimentação, garantindo seu lugar na literatura contemporânea.

Comemoração dos 25 nos do Poetrix, durante a Bienal de São Paulo no ano passado