Pentacon 50mm f/1.8: A lente mais subestimada da história?

Começarei meu textículo com um fato que me aconteceu semana passada. Estava a flanar pelas ruas de São Sebastião, capturando instantâneos com minha Canonzinha “point ‘n shoot” quando caí sobre uma moça que estava sentada em um banco. Ou seja, o normal de todos os dias. A grande coincidência é que a moça era minha conhecida de longa data, pois havíamos estudado juntos e juntos fizemos nosso primeiro estágio no qual conspirávamos para sequestrar o museu e desviá-lo para Cuba. Bons tempos.

Papo vai papo, papo vem, perguntei-lhe a respeito de sua amiga que, por sinal, vinha a ser a minha namorada daquela época. Incrédulo, quase perdi o chão quando ela me disse que essa minha antiga namorada havia casado e tinha dois filhos cursando faculdade. Eu fiquei indignadíssimo! Que diabos de mundo era esse em que eu saio vinte e sete anos para comprar cigarro e quando volto a pessoa já tem uma família?! Enfim…

Bom, e o que isso tem a ver com o texto de hoje? Absolutamente nada. Como sempre. A vida é aleatória na maioria das vezes. Mas serve para que vocês entendam que quando eu ficar um tempinho sem postar algo em minha coluna é que, provavelmente, fui comprar cigarros. Embora não fume… Hábitos são difíceis de se tirar.

Eu tinha começado uma série sobre três lentes extremamente parecidas em sua concepção e, de certa forma, interligadas em suas histórias, porém que apresentam características muito próprias e, todas elas belíssimas. São elas a Meyer Oreston 50/1.8 e as Zeiss Pancolar 50 f/2 e f/1.8. Hoje falarei sobre a Pentacon 50/1.8.

Em tese a Pentacon 50/1.8 é exatamente a mesma e famosa Meyer Optik Gorlitz 50/1.8. Evolução direta da famosa Meyer Optik Gorlitz Oreston 50mm f/1.8, a lente perdeu o nome e sobrenome chics quando, tendo sido absorvida pela VEB Pentacon, passou a vir somente com o nome Pentacon seguido da distância focal e da abertura máxima, assim como todas as outras lentes da, agora extinta, Meyer Optik Gorlitz.

Talvez essa simples mudança de nome tenha condenado uma lente tão boa quanto a original e, possivelmente, até melhor, ao ostracismo. A ser considerada uma lente de segunda linha, algo que está, mas muito longe da realidade.

Possuindo o mesmíssimo design óptico de seis elementos em quatro grupos da Oreston e tendo sido fabricada nos mounts M42 e Praktica B Mount, a lente evoluiu o projeto da original em três aspectos principais:

O primeiro foi a adoção do Multi Coating, conseguindo melhorar, com isso, a resistência a flares e o contraste, além de acender um pouco as já belas cores características do vidro Meyer. A segunda coisa foi a adoção de uma utilíssima chave seletora auto/manual, coisa que faltava a Oreston. E a terceira coisa foi a alteração nas lâminas do diafragma que, ainda que continuassem a ser seis, estas saíram do formato em “L” e agora eram mais convencionais, arredondadas, o que trouxe, de certa forma, uma assinatura própria à sua imagem.

Ainda poderíamos enumerar uma quarta “evolução” se considerarmos a versão Electric, que nada mais era que a mesmíssima lente que, trazendo três conectores e um sistema de leitura de abertura primitivo, estreava na Praktica LLC, e era capaz de realizar a medição TTL com a lente totalmente aberta, se esta fosse a versão Electric ou a medição interrompida, se fosse a versão normal. Apenas isso.

Pesando honestos 195g, a lente possui rosca para filtro de 49mm e anéis de foco e abertura bem posicionados, de bom tamanho e de funcionamento leve e agradável.

Assim como a Oreston, a lente também focava em excelentes 33cm, superando sua concorrente famosa, a Zeiss Pancolar, em dois centímetros. Observando que foi a Zeiss quem teria, digamos, se inspirado na fórmula óptica da Oreston para criar a sua segunda versão da Pancolar 50mm, a de f/1.8, e não o oposto, como dizem por aí, lembrando que a Oreston chegou primeiro, em 1960 e a Pancolar 50/1.8 surgiu somente quatro anos depois, em 1964.

Em sua versão inicial, a Pentacon 50/1.8 era exatamente igual a Oreston da série final, apenas mudando o nome, sendo que a versão Electric inicial também possuía as mesmas características. Em ambas havia um aro de metal na parte anterior e, posteriormente, em 1976, o corpo sofreu uma plástica para torná-lo mais moderno e a lente passou a vir toda em laca preta com a inscrição Multi Coating em vermelho, inicialmente, passando a vir, dois anos mais tarde, com letras brancas, sendo esta a versão mais comum da lente e que foi produzida até 1990. Todas possuindo a mesmíssima fórmula óptica. Tudo igual.

Sendo uma lente soberba, superlativa em todos os quesitos, possui o clássico bokeh de bolhas da sabão das Meyer, evidentemente mais controlado se comparado às Trioplan, bem como cores lindas e radiantes, acaba sendo uma escolha certa para retratos delicados e bonitos, conseguindo, graças à sua MDF de rasos 33cm quase que rivalizar com lentes macro, dando à Pentacon 50/1.8 uma versatilidade fabulosa. É simplesmente inacreditável como é que uma lente com tantos excelentes atributos seja tão subestimada, devendo, com absoluta certeza, fazer parte da coleção daquele tipo de fotógrafo que realmente sabe o que tem nas mãos e como utilizá-la da melhor forma.

Aproveito o ensejo e, antes de descer para comprar cigarros, agradeço de coração a todas(os) minhas(meus) leitoras(es) pelo carinho de lerem as minhas sábias e inquestionáveis palavras, repletas de um inenarrável saber sobre humano, praticamente semidivinal, que proferi no decorrer deste ano, ano este que foi bastante duro conosco, sobreviventes de Covids tresloucadas, economias arruinadas, políticas alucinadas e todos os etc e etc que hão em nosso querido e louquíssimo Pindorama. Desejo um feliz final de ano a todos, boas festas e um 2022 repleto de sonhos realizados, promessas cumpridas, amores correspondidos, bocas beijadas, sorrisos abertos, ares respirados, encontros adorados, amigos queridos, famílias amadas, reencontros felizes, dindim no bolso, fotos batidas e paz… muita paz desejada… Obrigado por ler.

VITOR OLIVEIRA

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Author

Vitor Oliveira é dono de uma visão poética sobre a vida e o mundo que o permeia. Fotógrafo experiente e autodidata, fotografa desde os 10 anos de idade influenciado por seu avô, o pintor paisagista Altamiro Oliveira, de quem, além da pintura clássica, o influenciou no desenho e na literatura, arte que exerce escrevendo romances ambientados no submundo de uma São Sebastião do Rio de Janeiro do final do Séc XIX e começo do Séc XX que não mais existe. Pesquisador de métodos, técnicas e equipamentos fotográficos e colecionador, Vitor Oliveira fotografa principalmente em película, por considerar que, após quase 200 anos de evolução desta forma de arte, esta ainda oferece os melhores resultados, ao depurar a técnica artística, quase que alquimicamente. Sendo um dos únicos fotógrafos de nível mundial a participar, usando filme, no maior concurso fotográfico do mundo, o Sony World Photography Awards, da World Photography Organization, Vitor Oliveira inaugura seu Canal Analógico Lógico!, no YouTube, através do qual procura compartilhar um pouco de uma aprendizagem que nunca finda. Hare Hare! Canal Analógico Lógico! : https://youtube.com/channel/UCom1NVVBUDI2AMxfk3q8CpA Video de abertura: https://youtu.be/N_cuYPi6b4M

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