PEDRO NOLETO E SUA ARTE: um novo olhar sobre a ressignificação

Quando olhamos para trás, para um passado ainda bem recente, somos surpreendidos com o impacto de alguns dados. Por exemplo, se a expectativa média de vida, em 1940, era de apenas 45,5 anos, hoje ela já está próxima dos oitenta anos, tanto aqui no Brasil como nos países do topo da pirâmide. E esse aumento, por certo, veio acompanhado de mudanças profundas na concepção que se tinha acerca do que seria “velhice”.

Se antes ela era entendida como o fim de tudo, a época da decadência física, da invalidez, da falta de produtividade, do isolamento afetivo e da solidão, ela agora passa a ter um novo contorno, delineado por esse incremento “de vida”, passando a significar maior tempo à realização pessoal, ao desenvolvimento de novos hábitos e capacidades, insights e a descoberta de habilidades e hobbies diversos.

E não são poucos os exemplos de pessoas que se descobriram nesse momento tão especial: Cora Coralina teve seu primeiro livro publicado quando já tinha 76 anos de idade; Ray Kroc fundou o McDonald´s, uma das maiores cadeias de fast-food do mundo, aos 52 anos; José Saramago, ganhador do prêmio Nobel de Literatura, publicou diversas obras antes de o romance Memorial do Convento, lançado em 1982, chamar a atenção do público e da crítica, com 60 anos e seu Ensaio sobre a Cegueira foi publicado quando ele tinha 73 anos; nossa Palmirinha, cozinheira conhecida pela simpatia e carisma, teve seu primeiro programa própio aos 68 anos.

E por aí vai…

E nessa esteira, das pessoas que se reinventam com o tempo, encontramos o artista plástico PEDRO NOLETO SOARES.

Originário de Carolina, pequena cidade do sul do Maranhão, às margens do Rio Tocantins e porta de entrada do Parque Nacional da Chapada das Mesas, teve uma infância bastante rica de experiências e que lhe daria o embasamento necessário – teórico e prático – para suas obras.

Ainda adolescente, aportou no Rio de Janeiro com o objetivo de continuar seus estudos. É possível imaginar, com facilidade, as enormes dificuldades enfrentadas por alguém vindo de um interior tão distante e de realidade tão diversa! Ainda assim, cursou Engenharia Química e fez mestrado em Engenharia Ambiental em LEEDS, Inglaterra, como bolsista do Conselho Britânico.

De volta ao Rio de Janeiro trabalhou na antiga FEEMA, hoje Instituto Estadual do Meio Ambiente e, em seguida, na Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro. Paralelamente foi professor do Quadro Auxiliar da PUC-RIO na cadeira de Engenharia Ambiental.

Aposentou-se.

E aí começaram os questionamentos, comuns nessa chamada “terceira idade”: o que fazer de agora em diante? Como prosseguir? Há tempo, ainda, para fazer mais coisas? Afinal, se a vida “esticou”, porque não podemos, da mesma forma, “esticar” nosso fogo criativo?

Sim, podemos. E a arte pode ser o caminho…

Segundo a Wikipédia: Arte (do termo latino ars, significando técnica e/ou habilidade) pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como: arquitetura, desenho, escultura, pintura, escrita, música, dança, teatro e cinema, em suas variadas combinações. O processo criativo se dá a partir da percepção com o intuito de expressar emoções e ideias, objetivando um significado único e diferente para cada obra.”

E PEDRO NOLETO que, desde pequeno, sempre teve uma queda por trabalhos manuais, descobriu-se artista plástico. Tornou-se marceneiro amador e passou a trabalhar com objetos fora de uso, transformando-os em peças utilitárias ou escultóricas, num processo denominado RESSIGNIFICAÇÃO.

Ressignificar é um verbo transitivo que caracteriza a ação de atribuir um novo significado a algo ou alguém. Nesse caso, é conferir nova vida a objetos esquecidos. E é exatamente isso que o artista propõe: uma nova visão sobre tudo aquilo que nos cerca.

(Luminária laranja, criada com peça industrial desconhecida, provavelmente uma ventoinha)

E, para que se tenha uma ideia da abrangência desse conceito e sua aplicação, viajaremos aleatoriamente, por algumas das suas obras, sem ordem cronológica.

Tudo, para o artista, tem significado. Em suas viagens, passou a coletar elementos que, de alguma forma, trouxessem a possibilidade de ganharem uma nova vida – tal qual seu autor, ao encaminhar-se pela via da arte.

E foi assim, por exemplo, com elementos da natureza, como vemos a seguir:

KRAKATOA (tronco de madeira) – 2021

ARS NATURAE (madeira, granito, suculenta) – 2018

AMAZÔNIA EM CHAMAS (trinco de madeira e disco de serra) – 2019

FRUTO SELVAGEM (madeira de uma cachoeira e nó de madeira) – 2021

E nesse processo de RESSIGNIFICAÇÃO, viu a possibilidade de transformar elementos descartados em algo que tivesse utilidade. E suas luminárias são exemplos claros – sem qualquer trocadilho – do uso dessa concepção. Veremos alguns exemplos delas:

2005

2011

2016

2020

2017

Mas PEDRO NOLETO também nos traz peças para reflexão, quase como se fosse um pequeno ensaio filosófico esperando ser decifrado e entendido pelo espectador. Vale dar uma olhada atenta nas duas obras que compõem o conjunto IN-PERMANÊNCIA.

Na primeira obra, IN-PERMANÊNCIA 1 (2016), temos a madeira representando a finitude da vida humana e o metal, representando a vida como conceito filosófico, unidos.

Já na IN-PERMANÊNCIA 2 (2020), o autor traz os mesmos elementos, porém, com significação diversa: a madeira, nesse caso, continua representando a finitude da vida humana, porém o granito representa a perenidade da vida, estando ambos distanciados.

Em diversos outros exemplares de sua arte, PEDRO NOLETO exala criatividade na utilização dos materiais, elevando o conceito da RESSIGNIFICAÇÃO a um outro patamar.

OPOSTOS (ferro, madeira e massaranduba) – 2016

SEM TÍTULO (massaranduba e cano de ferro)

ARS NATURAE 3 (ferro e cimento) – 2016

CUBO ILUMINADO (madeira e extintor de incêndio) – 2020

CONSTRUÇÃO (madeira, cimento e fio de prumo) – 2005

PÁSSARO (âncora, granito e esfera de aço) – 2002

SEM TÍTULO (peça industrial desconhecida, cimento e alumínio) – 2017

TENSÃO (rosca sem fim, madeira e bola de malabar) – 2008

Como alguém que se mantém em atividade e em pleno vigor mesmo quando boa parte das pessoas já pensa em “dar aquela parada”, por certo o TEMPO não poderia deixar de ser tema presente em suas obras. E ele dele se apropria, com maestria, criando sua série de pêndulos:

PÊNDULO 1 (calhas pvc, fio de aço e esfera de aço) – 1999

PÊNDULO 2 (ferro e cimento) – 2008

PÊNDULO 3 (ferro e cimento) – 2015

O artista, sempre seguindo sua linha de criação, ainda nos traz uma infinidade de peças únicas, de grande beleza, que vão desde o imponente CICLOPE INTERGALÁTICO (2020), de 1,44m de altura, feito com um pau de porteira encontrado em Carolina/MA, até outras, mais delicadas, como o FÓSSIL (2019), feito em madeira e cobre.

Há tempo, ainda, para homenagear outros artistas, como as duas peças feitas no estilo de Mondrian.

HOMMAGE à MONDRIAN – EXPLOSION DE COULEURS CARÉES – 60 x 60cm (2021)

PETIT HOMMAGE à MONDRIAN – 40 x 40cm (2017)

PEDRO NOLETO, esse engenheiro maranhense de espírito aventureiro e amante de viagens – já andou de balão na Capadócia, fez trekking na geleira Perito Moreno na Patagônia argentina e mergulhou no Caribe, dentre inúmeras outras aventuras – traz para sua arte toda uma longa e rica trajetória de vida.

Já participou de algumas exposições, recebendo elogios pela qualidade do trabalho. Sente-se um garoto quando está no processo de criação de suas peças, em seu ateliê no bairro de Santo Cristo, no Rio de Janeiro, tamanha força criativa que nelas deposita.

Porém, não quer parar por aí, e ambiciona divulgar sua obra e o conceito RESSIGNIFICAÇÃO para todo mundo…

Visitem o Instagram do artista: @noleto.art

Author

Del Schimmelpfeng é Analista Judiciário do TJERJ, mas desde que se lembra - e coloca tempo nisso! - ama cozinhar! Apesar de ter feito as faculdades de arquitetura e direito, é se misturando aos pratos, panelas e temperos que se sente inteiro, completo, pleno. É autodidata, nunca fez curso de culinária, tampouco se imaginou um profissional da área. Considera-se apenas um curioso, que procura o conhecimento em tudo e que tenta, de todo jeito, viver da melhor forma possível - apesar de todas as dificuldades. Afinal, não haveria graça se elas não existissem... Participou da seletiva da segunda edição do Masterchef e da décima nona edição do reality "Jogo de Panelas", apresentado por Ana Maria Braga no programa "Mais Você" da Rede Globo, na qual sagrou-se campeão. Possui, ainda, textos publicados em livros de conto e poesia. Blog: http://delschimmelpfeng.blogspot.com Instagram: @del.schimmelpfeng

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