Inspirado pelo poema Opiário, do heterônimo mais impetuoso de Fernando Pessoa, Lannes transporta a ebulição do texto para o seu repertório visual
A galeria Galatea apresenta a individual “Paraísos”, do artista plástico Daniel Lannes. A exposição, que será inaugurada no dia 11 de maio, às 18h, reúne cerca de 20 obras produzidas em diálogo com o poema “Opiário”, escrito por Álvaro de Campos, heterônimo do poeta português Fernando Pessoa. As pinturas capturam o torpor e o movimento sugerido pelo texto, em uma espécie de deriva entre o mundo real e imaginário. A mostra conta com texto crítico de Tomás Toledo e depoimento de Beatriz Milhazes sobre o percurso do artista.
Lannes, que foi apresentado à obra de Fernando Pessoa por um primo, tem se inspirado no poeta em diversas produções. Em “Paraísos”, oferece uma interpretação visual do poema, sem se propor a ilustrar de forma linear o que está lendo, mas permitindo que o espectador preencha as lacunas da narrativa em uma espécie de viagem-deriva.
Dentre as obras apresentadas na exposição, destaca-se “Vadum Monialium” (que significa “vau das freiras”, em latim), em que Lannes combina elementos da história portuguesa com suas próprias vivências familiares. Outro trabalho que chama a atenção é “Bisão”, que ele revela ter pintado nu, explorando como o aspecto primitivo implicado no gesto de pintar sem as vestes se imprime no resultado final da pintura. A água também é um elemento recorrente em suas telas, mesclando tons frios e principalmente o azul, que é uma das cores favoritas do artista.
Considerado um dos artistas mais relevantes de sua geração, Daniel construiu ao longo das últimas décadas um universo visual que abrange diferentes influências culturais e promete surpreender os amantes tanto da arte contemporânea quanto da literatura com a mostra. O público pode esperar uma experiência inédita e enriquecedora.
Sobre o artista
Daniel Lannes (Niterói, RJ, 1981) vive e trabalha em São Paulo. O artista se formou em Comunicação Social pela PUC-Rio (2006), tendo mestrado em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012). Pintando desde a sua infância, Lannes passou a se dedicar profissionalmente à produção artística em 2003, ano em que começou a cursar pintura com Chico Cunha e João Magalhães na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Na mesma instituição também foi aluno de Fernando Cocchiarale, Anna Bella Geiger, José Maria Dias da Cruz, Reynaldo Roels e Viviane Matesco.
A pintura de Lannes se debruça sobre o corpo físico, cultural e histórico, sendo a tríade sexo, poder e violência assunto fundamental para a sua poética. Transitando na fronteira entre o figurativo e o abstrato, suas composições podem trazer ora um nítido retrato de uma figura histórica, ora manchas difusas que sugerem um evento a ser completado pela nossa imaginação. Seu colorismo, fatura e composição, construídos por pinceladas largas, constituem uma produção que demonstra apuro técnico e vigor experimental na mesma medida. Segundo Lannes, uma pintura bem-sucedida é aquela na qual o acidente processual e a intenção narrativa intercalam-se na construção da imagem. Revela-se, então, o leitmotiv de sua obra: narrar, não explicar.
Daniel Lannes foi ganhador do Prêmio Marcantonio Vilaça 2017/18, selecionado para a residência artística do programa LIA – Leipzig International Art Programme 2016/17, em Leipzig, na Alemanha; e para a residência Sommer Frische Kunst 2015, em Bad Gastein, na Áustria. Em 2013, foi indicado à 10ª edição do Programa de prêmios e Comissões da Cisneros-Fontanals Art Foundation (CIFO). Por duas vezes foi indicado ao Prêmio PIPA, em 2011 e 2013.
Entre as suas principais exposições estão as individuais Jaula, Paço Imperial, Rio de Janeiro (2022); A Luz do Fogo, Magic Beans Gallery, Berlim (2017); República, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio (2011); e as coletivas Contramemória, Theatro Municipal de São Paulo (2022); Male Nudes: a salon from 1800 to 2021, Mendes Wood DM, São Paulo (2021); Perspectives on contemporary Brazilian Art, Art Berlin, Berlim (2018); e Höhenrausch, Eigen + Art Gallery, Berlim (2016).
Suas obras fazem parte de diversas coleções privadas e públicas, entre elas: Instituto Inhotim, Brumadinho, Minas Gerais; Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro; Coleção Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio; e Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Sobre a Galatea
A Galatea é uma galeria que surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin esteve à frente por quase uma década como sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita é marchand e colecionador, especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo é curador e contribuiu ativamente para a histórica renovação institucional do MASP, de onde saiu recentemente como curador-chefe.
Tendo a arte brasileira moderna e contemporânea como foco principal, a Galatea trabalha e comercializa tanto nomes já consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Tal amplitude temporal reflete e articula os pilares conceituais do programa da galeria: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.
Além dessas conexões propostas, a galeria também aposta na relação entre artistas, colecionadores, instituições e galeristas. De um lado, o cuidado no processo de pesquisa, o respeito ao tempo criativo e o incentivo do desenvolvimento profissional do artista com acompanhamento curatorial. Do outro, a escuta e a transparência constante nas relações comerciais. Ao estreitar laços, com um olhar sensível ao que é importante para cada um, Galatea enaltece as relações que se criam em torno da arte — porque acredita que fazer isso também é enaltecer a arte em si.
Nesse sentido, partindo da ideia de relação é que surge o nome da galeria, tomado emprestado do mito grego de Pigmaleão e Galatea. Este mito narra a história do artista Pigmaleão, que ao esculpir em marfim Galatea, uma figura feminina, apaixona-se por sua própria obra e passa a adorá-la. A deusa Afrodite, comovida por tal devoção, transforma a estátua em uma mulher de carne e osso para que criador e criatura possam, enfim, viver uma relação verdadeira.
SERVIÇO
PARAÍSOS
- Local: Galatea
- Endereço: Rua Oscar Freire, 379, loja 1 – Jardins, São Paulo – SP
- Abertura: 11 de maio, quinta-feira, às 18h
- Período expositivo: 12 de maio a 17 de junho
- Funcionamento: Segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábados, das 11 às 15h
- Mais informações: https://www.galatea.art/
- Estacionamento: Estacionamento no local