Roberto Bernardo nasceu no Rio de Janeiro em 1965. Morou em Londres por quatro anos, quando decidiu largar a carreira de economista e se tornar artista visual. Vive e trabalha em São Paulo desde 2007.
Já participou de inúmeras exposições nacionais e internacionais, entre elas, a Bienal das Artes de Florença, Itália, uma das mais importantes do mundo.
“Continuo forte na relação corporal com a pintura, na liberdade de improvisação e de expressão, e na intuição e no inconsciente como alimento da criação artística.”
Como começou a pintar?
O mercado de artes começou a fazer parte da minha vida muito cedo, porque meu pai era marchand. Antes mesmo a levar a sério a profissão de artista visual, eu trabalhava junto com ele.
Comecei a fazer cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, no início dos anos 90, e fui conhecendo mais artistas, galeristas, me aprofundando, lendo como um louco, e me apaixonando cada vez mais, mas ainda faltava coragem para encarar a arte como opção profissional.
Acabei me formando em Economia (!), mas continuava fazendo cursos de artes, e sempre cercado de gente do métier. Quando conheci alguns museus no exterior, em 1995, a vontade de mudar cresceu. E, em 1999, quando fui morar em Londres para fazer um mestrado de Economia na Universidade de Londres e visitei as galerias e museus de lá, decidi largar tudo e comecei a estudar. Os quatro anos que vivi lá foram decisivos para minha vida como artista visual. E até a Economia acabou me ajudando a administrar a nova carreira.
Em 2007, voltei para o Brasil e me mudei para São Paulo, e foi outro impacto. Tudo o que eu tinha visto na Europa e nos Estados Unidos em termos de grafite – quando ainda nem se pensava em tratar esse movimento como arte, aqui tinha uma pegada mais artística, não era apenas um demarcador de território ou de protesto. Acabei assimilando muita coisa no meu trabalho.
Como é o seu processo de criação?
Nesta fase do meu trabalho, fotografo, em alta definição, detalhes das minhas próprias pinturas, e essas imagens são tratadas e modificadas com Photoshop e reproduzidas em impressora inkjet. Essas impressões são então rasgadas e coladas sobre tela. Depois, passo a fazer outras intervenções com tinta acrílica, canetas para grafite, pastel oleoso, lápis, etc.
Finalmente, o trabalho é lixado e resinado várias vezes, para evitar bolhas e proteger o papel contra fungos.
Esse processo autofágico, isto é, essa apropriação e intervenção dos meus próprios trabalhos para a criação de um trabalho totalmente novo (e não uma releitura), me permite uma fonte inesgotável de ideias.
Nessa nova série from scratch (do zero, do início), uni várias influências que tive nesses últimos anos, como a arte urbana, o grafite, o Pop e o expressionismo abstrato, que foi a minha escola inicial. A quantidade enorme de informação permite ao observador uma “viagem” constante sobre o plano pictórico, em que novos detalhes vão sendo descobertos.
Continuo forte na relação corporal com a pintura, na liberdade de improvisação e de expressão, e na intuição e no inconsciente como alimento da criação artística, sem mensagens veladas ou leituras induzidas.
Seu trabalho passou por fases?
Na verdade, venho insistindo na mesma pesquisa há bastante tempo, na busca de novos materiais, novas maneiras de usá-los, mas sempre em suportes bidimensionais, seja tela ou madeira.
Quanto à parte técnica, o uso de colagem sempre foi predominante nos meus trabalhos e hoje tem uma posição de destaque, porque ainda brinco um pouco com o lance da “mass production” usando a impressora inkjet, algo que remete ao Warhol.
Mas, mesmo neste momento da pesquisa, quase toda feita com colagem, ainda considero a pintura (action painting), que sempre foi a minha praia, ainda que as coisas aconteçam quase de forma autônoma.
Que artistas influenciaram o seu trabalho?
Ainda acredito na pintura como meio poderoso, e minha escola é toda de expressionismo abstrato. Claro que sofri forte influência da arte urbana e do grafite. Além da influência de um monte de outros artistas como, Basquiat, Paladino, Tàpies, Rauschenberg, De Kooning, Moore, Khalo, Richter, Viale, Baselitz, e por aí vai. Esses caras fazem parte de um campo imagético que fica na memória da gente e que é parte dessa bagagem, assim como os livros que leio, os filmes, etc.
O que te motiva a pintar?
Sou peão. Comigo não tem essa de inspiração. Já fiquei 19 horas em pé trabalhando. Fico, no mínimo, 10 diárias no estúdio. A disciplina é muito necessária nesse tipo de profissão porque, a princípio, temos todo o tempo do mundo, o que é uma grande balela. Acordo supercedo, tenho hora de almoço, não durmo à tarde, e trabalho incessantemente, além da parte social de frequentar as exposições que rolam e a parte teórica, na leitura de livros. Tenho dias mais fáceis e outros que parecem que o universo todo vai contra, mas as coisas só acontecem se a gente encarar o batente todos os dias.
Claro que rola um jazz (sempre!), um vinho no final do dia, mas é ralação física de verdade. Chego a trabalhar 4 semanas em um quadro apenas. Amo o que eu faço.
Quais são os projetos para este ano?
Tenho uma coletiva grande marcada para o Rio, que está sendo coordenada pela curadora Paula Darriba e, além disso, tenho outra expo individual grande que deve rolar em São José do Rio Preto ainda este ano, mas ainda estamos definindo o espaço, tamanho da exposição, etc.
E qual é o seu sonho profissional?
Realizo o meu sonho profissional todos os dias quando encaro as telas, os materiais, o som do pintar… adoro ficar sozinho. Temos, todos nós, fases mais fáceis e outras mais complicadas da vida, mas o segredo é fazer o que amamos… e não é papo furado, não, porque para acordar cedo e repetir a mesma tarefa durante anos tem que ser algo que realmente nos faça feliz e nos complemente. O resto vem naturalmente, seja lá o que for.
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