Os blá-blá-blás do cinema

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O Vitaphone

Hoje, vamos conversar sobre um assunto que revolucionou o cinema: o som! Mais especificamente, a possibilidade de captar vozes e diálogos, criando uma trilha sonora mais verdadeira. A propósito: você sabe o que é uma trilha sonora?

Trilha sonora não é o DVD com as músicas do filme vendido nas lojas de departamento por aí. A trilha inclui músicas, diálogos, efeitos sonoros e foleys*.

*Foleys são sons feitos na pós-produção por estúdios especializados e profissionais capacitados. A diferença de um efeito de som para um foley é o modo como é criado. O sonoplasta assiste ao filme num monitor e executa simultaneamente a ação que é exibida, reproduzindo e gravando o som ideal.

Há um exemplo clássico de ótima captação, equalização e distribuição dos sons na cena “Ride of the Valkyries” no filme “Apocalypse Now” (1979). Assista abaixo:

 

 

Imagine essa cena com um som sem o devido cuidado e tratamento. Com certeza, não entraria como uma das mais marcantes da história do cinema. Há que se ressaltar que o filme é de 1979 e, comparado com os dias atuais, foi produzido com tecnologia “jurássica”e, ainda assim, teve um resultado primoroso.

Isto posto, vamos ao assunto que me leva a escrever hoje: os diálogos. Mais uma função do roteirista.

No dia 06 de outubro de 1927, foi lançado o primeiro filme falado do cinema. Curiosamente, tinha a ver com música. “O Cantor de Jazz” não é totalmente falado e apresenta cenas mudas, mas já há passagens faladas e cantadas em total sincronia, utilizando-se o Vitaphone, lançado pela Warner Bros. em 1926. Veja um trecho abaixo:

 

https://www.youtube.com/watch?v=UYOY8dkhTpUb

 

A possibilidade de realizar um filme falado causava certo desgosto nos diretores mais saudosistas e conservadores, como D.W. Griffith, provavelmente o de maior sucesso no cinema mudo. Este, aliás, dirigiu somente dois filmes falados e nenhum conseguiu sucesso. Nunca mais filmou, desde então.

A alegação destes diretores era que, com a possibilidade de gravar as falas, o filme perderia em estética. Os lindos planos abertos e iluminados, com cenários enormes e paisagens belíssimas, dariam lugar a close-ups e cenas mais próximas aos próprios personagens, denegrindo a beleza visual do cinema.

Alguns diretores insistiram em filmes mudos e não realizaram a transição; outros realizaram depois de muita resistência, mas não obtiveram sucesso. Charles Spencer Chaplin, o Carlitos, como é conhecido no Brasil, declarou, por algumas vezes, o motivo de sua “intolerância” com o cinema falado:

“A ação é geralmente mais entendida do que palavras. Assim como o simbolismo chinês, isto vai significar coisas diferentes de acordo com a sua conotação cênica. Ouça uma descrição de algum objeto estranho, um javali africano, por exemplo; depois olhe para uma foto do animal e veja como você fica surpreso.”

Essas funestas previsões, felizmente, não se concretizaram… e o som no cinema chegou para ficar.

No final da década de 1930, início de 1940, os filmes mudos tornaram-se escassos e não eram mais rentáveis. O público agora queria não só uma imagem de qualidade, mas um som que fosse mais atrativo e realista do que somente uma orquestra tocando por duas, três, quatro horas quase ininterruptas.

Temos, ao longo da história, diálogos inesquecíveis, que mexem com o nosso imaginário. Destaco aqui um dos diálogos mais reflexivos de todos os tempos. Em “O Sétimo Selo”, 1956, de Ingmar Bergman, há um exemplo do excelente uso da fala e do diálogo ao longo do filme. Nele, Antonius Block, um cavaleiro, retorna das Cruzadas para as suas terras e lá encontra a peste e a morte (em pessoa). Começa então uma batalha contra a morte. Ele a desafia para uma partida de xadrez e propõe que, caso vença, ela o deixaria em paz. A morte aceita, pois sabe que nunca perde. Abaixo, meu trecho predileto, de maior reflexão e discussão:

 

 

Eu já disse (ou escrevi aqui), mais de uma vez: não existe o certo ou errado. Com ou sem fala, com ou sem som, o mais importante é que o seu filme seja fiel à sua história, ao seu tema e à mensagem que se propõe a transmitir.

Agora, uma coisa é certa: ele tem que emocionar.

Author

Sou estudante de Cinema pela Academia Internacional de Cinema do Rio de Janeiro e de Produção Audiovisual pela Estácio de Sá. Atualmente, faço estágio na MultiRio. Trabalhei com Publicidade & Propaganda, tanto na área de Direção de Arte quanto em Redação. Em 2010, recebi 3 prêmios Colunistas com a equipe da Bloco C, grupo pertencente à Conexão Brasil Comunicação. Em 2015, fui estagiário de Direção do longa-metragem "A Glória e a Graça", produzido pela Tambellini Filmes. Pela AIC/RJ, fiz parte da equipe da comédia musical "Saudação à Melancia" e do documentário "Fantasmas da Fotografia". Como roteirista, tenho três curtas no currículo: "Maldição", filme de suspense, "Perdão", drama realizado para o Festival 72 Horas Rio - ambos produzidos pela BlackGold Produções - e "Verônica, meu último romance", realizado com amigos da Estácio de Sá.