Em meu TCC (Monografia) do curso Psicogeriatria (UFRJ IPUB período 2016 – 2018), apresento a importância da estimulação cognitiva para pessoas idosas com quadro demencial, utilizando como recurso a oficina de culinária.
A escolha pela culinária vem de minha história familiar quando, ainda adolescente, aprendi algumas receitas com minha avó portuguesa. A sua alegria ao me ensinar as “receitas de família” era enorme. Nunca me esquecerei destes momentos que foram plenos em afeto e criaram uma grande oportunidade para a manutenção de tradições culturais.
Ofereci a oficina de culinária no Centro-dia do IPUB (CDA – Centro de Doenças do Envelhecimento) na UFRJ. O projeto teve a duração de 3 meses e foi realizado semanalmente no refeitório e copa-cozinha do CDA.
A oficina proporcionou uma ampla oferta de experiências sensoriais durante o preparo das receitas e, no momento final, de degustação dos alimentos. Aromas, sabores, diferentes texturas dos alimentos, entre outros estímulos, propiciaram a produção de reminiscências com lembranças de infância, juventude e fase adulta.
Ao longo das oficinas, fiz a gravação das narrativas produzidas para analisar os aspectos subjetivos mais significativos. As rodas de conversa favoreceram a manutenção de identidade das idosas, quando foi possível trabalhar sua memória autobiográfica, a memória geracional e os traços culturais.
Os 5 principais temas analisados foram: os ciclos de vida – imigração dos pais e a migração no Brasil após o casamento, lembranças da infância e da juventude, relações matrimoniais e reflexão sobre seus cônjuges, valores morais e pensamento crítico sobre a religiosidade em suas vidas e as perdas e lutos na velhice.
Foram discutidos também aspectos nutricionais, a importância da alimentação saudável, utilizando a substituição de ingredientes mais calóricos por outros e outros itens sobre educação alimentar. Estes estímulos – a discriminação sensorial e perceptiva, a produção de narrativas e a educação em saúde – são, neste contexto, considerados intervenções cognitivas pois estimulam todas as funções neuropsicológicas.
Em resumo, foi possível estimular a reserva cognitiva trabalhando as funções executivas, a linguagem, a atenção, a organização perceptiva e sensorial, as habilidades motoras, a aprendizagem, a cognição social e a memória.
A oficina de culinária, como estratégia de mediação dos aspectos cognitivos, subjetivos e sociais, é um recurso fundamental no tratamento de pacientes com diagnóstico de demência e depressão.
Para saber mais sobre este trabalho ou para solicitar palestras, entre em contato pelo e-mail reginamurrayloureiro@gmail.com ou cel.: (21) 99752-2980