Quando notamos críticas seguidas de uma obra, entendemos que o espetáculo tem um diferencial, isso é incontestável.
Um ator é convidado pelo excêntrico Marquês para interpretar uma peça teatral de sua autoria (inspirada na morte de Sócrates).
Um encontro entre o Marquês – um nobre aristocrata egocêntrico – que, de forma surpreendente, passa a controlar através de um jogo psicológico o outro personagem, o ator, Gabriel de Beaumont.
Depois de muitas surpresas no decorrer do espetáculo, o Marquês revela-se um psicopata capaz de qualquer coisa para atingir seu objetivo.
Com Osmar Prado e Maurício Machado. Texto de Rodolf Sirera e tradução de Hugo Coelho. Direção de Eduardo Figueiredo. (Sinopse de O VENENO DO TEATRO )
O teatro SESI FIRJAN no Centro do Rio de Janeiro, que recebe o espetáculo, estava cheio na última sexta-feira. Também não poderia ser diferente. No palco temos duas estrelas que nos deixam boquiabertos com suas performances.
Maurício Machado é o jovem ator convidado para uma atuação teatral nessa obra, sem saber o que o aguardava. Uma das últimas peças do artista que assisti, foi no saudoso teatro Maison de France, O Beijo de Franz Kafka, uma obra sensacional, que também esteve em São Paulo, merecidamente.
Maurício é um profissional das artes cênicas, sempre nos palcos, se entregando e entregando a nós espectadores obras que chamam nossa atenção, não é diferente nessa montagem. É possível enxergar maturidade e entrega infinita. Suas expressões corporais e faciais são marcas que elevam o espetáculo, assim como sua voz, pode-se dizer que o ator é potente e está interpretando um personagem a sua altura. Uma das suas grandes características são seus olhares, muito fortes e falam com a plateia.
No início do espetáculo age como os demais artistas, que aceitam muitas vezes participar de um projeto, seduzidos pelo teatro, não se posicionam como deveriam e aceitam propostas não condizentes. Incrível como as histórias se repetem no palco. Isso sem contar a dificuldade que alguns artistas atravessam para estarem em fichas técnicas, trabalharem, somente quem conhece esse mercado sabe o que digo. Quantos artistas conheço que ao ganhar um prêmio, confessam, por exemplo, que aquele espetáculo específico não o agradou…
Já Osmar Prado é o Hannibal do teatro, de alguma forma cheguei ao personagem do Anthony Hopkins, um ser cruel. Um diretor sem escrúpulos, para que sua pesquisa, sua linguagem quanto a morte chegue com mais verdade ao palco, e não mede esforços ou maldades para que essa se realize. Sabemos que existe em alguns diretores teatrais esse personagem, mais uma vez, a arte que imita a vida. São muitas histórias que são ouvidas, infelizmente. O poder que muitas vezes é dado a um diretor artístico parece afundá-lo, quando sua vaidade fica em primeiro lugar. Quantos artistas saem de projetos diluídos em sentimentos ruins, mas seguem firmes no palco, mostrando a plateia sua capacidade de atuar, de alguma forma o teatro o acolhe. E também é assim nos demais ofícios, o cocar nem sempre faz bem para algumas pessoas que persistem em seus EUs…
Uma obra reconhecida e premiada em vários países, uma espécie de thriller, que trata de temas importantes e atuais. O texto propõe uma reflexão pertinente sobre a ética, estética, as máscaras das convenções sociais, o jogo do poder, em suma, a necessidade de autoconhecimento tão latente em todos nós, dentro dos limites da realidade e da ficção.
O artista Osmar Prado é exato e deixa claro para a plateia que aceitou trabalhar nesse projeto, mas que não foi uma tarefa fácil por se tratar de um texto grande que exige muito do ator. Mas Osmar é Osmar e isso basta. Sua atuação é linda e emocionante, sendo aplaudido em cena quando desmonta um dos seus personagens, uma graça. Osmar deixa a obra mais sofisticada, não preciso dizer por quê. E claro que seu personagem muito bem executado coopera para isso.
Eduardo Figueiredo é o diretor, espero que esse tenha sido melhor que o Marquês (personagem), o que chama atenção é que temos um texto da década de setenta levado para a década de vinte e a direção foi assertiva ao se unir ao cenógrafo e também figurinista Kleber Montanheiro. Todos os elementos visuais da obra é banhado em elegância e eloquência.
A escolha do musicista Matias Roque Fideles, apura ainda mais a obra em relação ao que se diz refinamento. Os instrumentos de cordas sempre causam efeitos nos espetáculos, quando bem colocadas e não foi diferente.
O Veneno do Teatro é uma obra inteligente, trazendo o conflito e desdobramentos inesperados, mesmo depois de um dia cansativo, no frescor do ar condicionado do teatro em um dia de grande calor no Rio, posso dizer que o sono não chegou, muito pelo contrário, eu não quis perder um minuto daquela história e daquelas performances, digo mais, que embora tivesse uma estética visual relevante, a atuação e o texto me levaram a um manjar já esperado, pois como comecei esse texto, quando os críticos se juntam em elogiar uma obra, é porque algo ótimo me espera.
Parabéns!
Segue entrevista dos artistas
Duração:
70 min
Classificação:
14 anos
Gênero:
drama
Ficha técnica:
Texto: Rodolf Sirera
Tradução: Hugo Coelho
Direção: Eduardo Figueiredo
Elenco: Osmar Prado e Maurício Machado
Músico: Matias Roque Fideles
Direção Musical e Trilha: Guga Stroeter
Assistente de Direção Musical e Trilha: Pedro Pedrosa
Cenário e figurinos: Kleber Montanheiro
Desenho de Luz: Paulo Denizot
Desenho de som: Anderson Moura
Fotografias divulgação: Priscila Prade
Programação Visual: Raquel Alvarenga
Assistente de Direção: Gabriel Albuquerque
Camareira: Charlene Soares
Técnico de Som: Henrique Berrocal
Técnico de luz: Lucas Andrade
Contrarregra: Rodrigo Bella Dona
Cenotécnico: Evandro Carretero
Administrador: Marcelo Vieira
Produção Executiva: Paulo Travassos
Assistente de Produção: Renan Correia
Assessoria de imprensa: Flavia Fusco Comunicação
Financeiro: Thais Vasconcellos
Leis de Incentivo: Renata Vieira
Idealização e produção: manhas & manias projetos culturais
SERVIÇO
O VENENO DO TEATRO
Teatro FIRJAN SESI
De 02 de maio a 02 de junho de 2024 – de quinta a domingo.
Quintas e sextas, às 19h. Sábados e domingos, às 18h.
Ingressos:
R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia)