Para quem já conferiu alguma obra do grego Yorgos Lanthimos, sabe que ele é um grande estudioso do comportamento humano, e é recorrente em seus filmes ele nos escancarar sua visão completamente pessimista sobre o ser humano.
Entretanto, aqui em O Sacrifício do Cervo Sagrado, ele faz isso embasado em uma tragédia, a talvez não tão conhecida tragédia de Ifigênia de Eurípedes, onde um membro da família é sacrificado em detrimento de uma vingança. Ao falar de uma tragédia escrita 400 anos a.c, ele obviamente, já começa sua crítica aqui: a humanidade não evoluiu tanto quanto acredita.
O ritmo do filme não é diferente dos demais do diretor, tanto em Dente Canino, quanto em O Lagosta, acompanhamos as mesmas atuações cadenciadas, com poucas expressões exageradas e que te convidam no inicio inclusive a interpretações maldosas do segredo entre o protagonista vivido por Colin Farrell e o garoto vivido por Barry Keoghan. E quer saber? Ele sabe que geraria essa interpretação e faz isso propositalmente, justamente para nos convidar sobre como julgamos acontecimentos sem ter a mínima noção do que está acontecendo.
Em O Sacrifício do Cervo Sagrado, temos uma família, composta pelo médico cardiologista Steven (Colin Farrell), pela oftalmologista (Nicole Kidman) e seus filhos, Kim (Raffey Cassidy) e Bob (Sunny Suljic). A medida que um relacionamento ao qual desconhecemos as motivações entre o médico e Martin (Barry Keoghan) se desenrola, os membros da família começam a ficar paralisados e se entregando a inanição.
O filme então arremessa na nossa cara que nosso pensamento inicial sobre o relacionamento de ambos talvez não era bem o que achávamos, e nos encontramos numa jornada com muitos símbolos a serem discutidos. Os que mais se destaca, sem dúvida, é como a culpa pode ser paralisadora (a partir do momento que você é confrontado por ela).
Entretanto, outros temas são abordados sem o menor pudor: estupro, necrofilia, ego, relacionamentos familiares baseados em absolutamente nada, enfim, um filme para ser visto nos detalhes.
As entregas de Nicole e Colin Farrell e até mesmo a ponta da tão sumida Alicia Silverstone são irretocáveis. Mas quem rouba a cena mesmo é Barry Keoghan. O garoto entrega uma atuação digna de um vilão extremamente poderoso, sendo que você nunca sabe ao certo se ele tem algo a ver com tudo aquilo ou não. A atuação blasé que o garoto tem, portanto, serve como uma motriz perfeita para a conclusão do filme e nos dar um novo significado da palavra vingança.
Além destas atuações divinas, de um roteiro ácido e uma direção eficiente, contamos, assim como nos outros filmes do diretor, com uma fotografia que é um elemento narrativo a parte. A preocupação com a estética é visível, e algumas cenas, ainda que tensas, são encantadoras pela decisão da filmagem, como, por exemplo, a que o garoto cai após descer de uma escada rolante, com a câmera pegando aquilo tudo de cima pra baixo, como se Deus fosse o algoz da vingança.
Para quem ainda não viu, uma forma de conferir é através do serviço de streaming da Amazon e a minha dica aqui é: veja!
Bons filmes e nos vemos em breve! 😉
JOÃO FRANÇA FILHO (@CINESTIMADO)
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