A pergunta é exatamente essa, o que houve Bruce?
Não estou falando de um profissional que está iniciando a carreira como diretor de teatro, falo do artista que me apresentou o espetáculo a “Revolução dos Bichos”, “Tartufo”, A Outra Revolução dos Bichos”, “Raul Seixas – O Musical”, “Diário de um Louco” e muitas outras montagens absurdamente generosas.
Digo mais, foi através desse mesmo diretor que reverenciei os artistas Ricardo Lopes, Pedro de Carvalho, Victória Reis, entre muitos outros que me levaram aos céus diante de performances INESQUECÍVEIS!
E isso seria o suficiente para assistir ao espetáculo “Bonitinha, mas Ordinária” do dramaturgo Nelson Rodrigues no teatro Nelson Rodrigues, localizado no centro do Rio.
Como não fui a estreia, ouvi de alguns colegas o que era impossível ouvir de qualquer obra do diretor, o que me causou estranhamento: será possível?
Tanto nos monólogos quanto nos espetáculos com grande elenco, Bruce nos faz arrepiar, sempre com ingressos esgotados, e a perguntei para mim mesma: será possível que o artista desaprendeu sua função? Deu a louca no diretor em tão pouco tempo?
Fui ao espetáculo, e não achei a obra arrastada c omo me disseram, não dormi e muito menos me cansei ao assisti-la, mas sim, a obra não estava no nível das demais que eu já assisti. E exatamente por isso questiono: o que houve?
Ouvi de alguns colegas que Nelson Rodrigues não é para levar para a comédia, mas vamos lá, tudo pode se transformar, ter contemporaneidade, afinal nós estamos em constante evolução e para aqueles que não entendem isso, basta pesquisar a teoria da biologia que diz: migrem, se adaptem ou morram.
Independente dos achismos o que importa mesmo são bons artistas no palco, e onde estão os artistas que o diretor sempre me apresentou? Confesso que senti falta, muita. Por que minha emoção não foi tocada como as demais montagens? Caramba, ele é um dos melhores, um dos quais mais admiro!
Eu comecei a questionar-me sobre as cobranças ao diretor em questão. O diretor não pode injetar emoção em um artista( foi o que senti, a falta dela, aquela garra que o artista carrega para defender seu personagem), muito menos ser culpado por trabalhos sem sucesso de um figurinista (o que prefiro nem mencionar o que vi) e fazer milagre para transformar a voz de um artista em um som mais aveludado aos ouvidos de uma plateia.
Não importa mesmo quantos anos tem um artista de carreira, digo isso porque temos artistas experientes no elenco, mas isso não significa muito para mim, o que significa mesmo é uma atuação prazerosa, quanto a contagem de tempo de trabalho, isso serve para a aposentadoria. E nem isso, afinal Othon Bastos está lá atuando com graça aos 91 anos. Detalhe, com direção de Flávio Marinho, será que ele precisava de um diretor? Se perguntarmos a ele qual a importância do diretor, obviamente que a resposta seria: muita! E com o peso do Bruce então…
Visivelmente o espetáculo necessita de ensaios para aprimorar algumas cenas, mas de longe vi Bruce, com papel e caneta anotando tudo, acho que por isso não vi um espetáculo arrastado, com barriga (barriga é um termo utilizado no meio teatral para se referir àquela parte da peça em que tudo fica menos empolgante, menos surpreendente), como me disseram.
Mas independente do meu achar e dos demais que ouvi, o espetáculo estava cheio, e creiam, eles foram ovacionados, se não me engano era um dos dias para convidados, espero que o espetáculo continue com a plateia lotada, pois não há maior motivo entre os fazedores de teatro do que esse, isso é um fato.
Percebi que o diretor deu grande oportunidade a um elenco, evidenciando os artistas em cena, alguns souberam aproveitar a oportunidade ainda que calados, é o caso da atriz Marilia Coelho, que encarna a mãe da protagonista, que nos leva com ela em um olhar longe, distante como deveria ser, confesso que no meio das demais artistas que discutiam, foi para ela o meu olhar.
Nessa mesma cena, eu confesso que não entendi o canto da atriz Kenia Barbara, uma canção que não se enlaçou a cena, embora a atriz tenha levado a música com uma voz deslumbrante. Não houve uma explicação sobre a musicalidade empregada, cujo tema inexistia na obra.
Sirlea Aleixo roubou aplausos da plateia em cena aberta, como sempre esperamos atuações majestosas dela, mas foram papéis pequenos, uma pena.
Claudio Gabriel que é um artista fenomenal, quase no final da cena explode, mostrando sua força, o que esperei durante o espetáculo, o artista é das artes cênicas e obviamente esperamos dele atuações como essa que mencionei.
Já o casal protagonistas, me causou uma certa aflição, porque senti algo desconfortável, algo que não encaixava. O ator parecia ter mais química com a atriz Lorena Comparato, coadjuvante do que com a atriz Sol Miranda. As cenas deles não me provocaram satisfação, infelizmente. Faltou tudo entre eles.
Lorena no final do espetáculo, onde ela tem mais texto, diverte a plateia com a sensualidade trazida do texto. Ela nesse momento é bem-vinda. (Lorena é a filha do Werneck que foi “violentada” e terá um casamento arranjado com o protagonista pelos pais, devido à violência que viveu)
Jitman Vibranovski, trouxe um personagem bem colocado, harmonizado ao texto e a boa arte que queremos assistir, sem roubar cena, apenas com um trabalho bem feito.
Quanto ao Ricardo Blat, o Werneck, personagem que nada vale, pode-se dizer que é um estrondo, ele fez valer a pena ir ao teatro, brilha como uma estrela, usando bem a voz, o corpo, tudo que ele faz é sublime no espetáculo. Já tinha ouvido isso dos colegas, e acertaram precisamente. Impossível não concordar.
Para azar do iluminador ou sorte, não posso fazer qualquer menção quanto o trabalho de luz, a mesa estava com problemas no dia que fui assistir à montagem.
E quanto aos demais artistas, prefiro nada falar.
O espetáculo está vivo, claro que acredito no Bruce, na dramaturgia do Nelson e na vaidade (se houver) que será calada dos artistas em cena.
Sinopse
Na trama, Ritinha se torna um dos vértices de um perverso triângulo amoroso, formado por Edgard, personagem de Emilio Orciollo Netto, e Maria Cecília, vivida por Lorena Comparato, que tem um pai que é uma fera, Werneck (Ricardo Blat), e uma mãe subserviente, a Dona Lígia, de Sylvia Bandeira. O chefe de família deseja que a menina se case o quanto antes, após um “suposto” evento traumático.
SERVIÇO
[Teatro] Bonitinha, Mas Ordinária
- Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Teatro Nelson Rodrigues: Av. República do Paraguai, 230, Centro
- Data: 16 de agosto a 08 de setembro de 2023.
- Horário: quinta a sábado às 19h; domingo às 18h30
- Ingressos: R$ 40 (inteira plateia) | R$20 (inteira balcão) | R$ 20 (meia plateia) | R$ 10 (meia balcão) disponível no link e na bilheteria do teatro.
- (Meia-entrada para clientes CAIXA e casos previstos em lei)
Classificação Indicativa: 16 anos - Bilheteria: de quarta a domingo, das 13 às 19h
- Informações: (21) 3509-9621
- Acesso para pessoas com deficiência
Ficha Técnica:
- Texto: Nelson Rodrigues
- Idealização: Emilio Orciollo Netto
- Direção: Bruce Gomlevsky
- Elenco:
Emilio Orciollo Neto / EDGARD
Sol Miranda / RITINHA
Ricardo Blat / WERNECK
Cláudio Gabriel / PEIXOTO
Lorena Comparato / MARIA CECÍLIA
Júlia Portes / MARIA CECÍLIA (Stand-in)
Alice Borges / TEREZA
Sirléa Aleixo / D. IVETE
Marilia Coelho / D. BERTA
Sylvia Bandeira / D. LÍGIA
Jitman Vibranovski / VELHO
Kênia Bárbara / AURORA
Ágatha Marinho / NADIR
Aline Dias / DINORÁ
Junior Vieira / ALÍRIO
Vini Portella / OSIRIS
Leo de Moraes / ALFREDINHO - Assistente de Direção: Elisa Tandeta
- Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
- Cenário: Nello Marrese
- Figurino: Maria Callou
- Iluminação: Elisa Tandeta
- Assistente de produção: Vini Portella/ Junior Vieira
- Diretor de Palco: Leo de Moraes
- Camareira: Flavia Cotta
- Assistente de Camarim: Grila Grimaldi
- Assessoria de Comunicação: Barata Comunicação e Dobbs Scarpa
- Produtores associados: Emilio Orciollo Neto, Bruce Gomlevsky e Luiz Prado
- Direção de Produção: Luiz Prado
- Realização: Quereres Produções e LP Arte Soluções Culturais