O ódio intencional

Coluna de Márcio Calixto

Foto: Reprodução/Redes Sociais

 

O ódio intencional

 

Sei que esse é principalmente o campo do companheiro de redação Luis Turiba, até por toda sua história de vida, mas é impossível não ficar indignado com o recente caso de agressão a Marcelo Rubens Paiva em um bloco de carnaval em que era homenageado. Em pleno momento pré-carnaval, quando deveriam imperar os sentimentos de festa, alguém decide que o camarada Marcelo deveria ser alvo de uma mochila. O acontecimento é só mais um caso que se avoluma na esteira dos episódios que adeptos do frenesi da extrema direita têm dado no mundo inteiro.

Marcelo é filho do Deputado Rubens Paiva, que teve seu desaparecimento revivido no filme “Ainda Estamos Aqui”, do livro homônimo escrito por Marcelo. O filme, felizmente, tem sido alvo da positiva comoção coletiva em publicizar os feitos de uma Ditadura funesta e vil, persecutória, que atrasou o Brasil e o deixou profundamente marcado. O mesmo filme tem sido alvo da perseguição maledicente e imbecil daqueles que flertam com o fascismo como já vimos acontecer. É lícito não gostar do filme. Arte é passível disso, mas vermos uma renovação da onda pesarosa de tempos passados, que coloca um alvo naqueles que lutam por justiça social, a exemplo de Marcelo, ou mesmo de outros, um desejo vil de machucá-los fisicamente, é por demais estarrecedor.

Quando se viu todo o levante de 8 de Janeiro, logo depois das eleições presidenciais de 22, ali ficou claro como há uma claque profundamente manipulada e perigosamente armada, afeita a uma falsa consciência de patriotismo, em um paralelo funesto e febril com o passado que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. E mesmo com as prisões que se sucederam na atualidade, com todo o desenrolar do Golpe, das condenações, do exercício babaca e incoerente de uma tentativa de anistia àqueles que pertencem ao clã bolsonazi, há os que simplesmente odeiam. Havia um plano para matar o atual presidente e o vice. E alguém arremessou uma mochila no Marcelo.

Preocupo-me. Muito. Parece que todo e qualquer exercício de diálogo, do bom diálogo, se perde e se torna infrutífero. Vemos principalmente os mais jovens reféns desse extremismo, capitaneado por redes sociais, por empresas que parecem educar para o ódio. O lucro no ódio. O engajamento pelo ódio. A intenção é o ódio. Me cansa. Me deixa assustado. Não quero esse mundo para os meus filhos. Não quero meus filhos homens material para alguma guerra ensandecida produto do desejo desses insanos psicóticos. Não quero ser soldado. Não quero um mundo para a guerra de novo.

Porém, parece que meu desejo é pequeno e imberbe perante o caminho que o mundo trilha: após a eleição de Trump, crescimento da extrema direita na Alemanha. A cosmovisão do mundo parece inútil. A luta pela persistência da democracia será árdua. Pensei que não teria de lutar por tal ponto. Engano meu.

Agora vou dar uma de Tanussi Cardoso e dar uma bela dica cultural (não percam as Sextas Poéticas!) : estão sabendo da existência de um serviço que está no Brasil desde Janeiro? Nome dele: Dial-a-poem. Você liga para os telefones 0800 01 76362 ou para +55 11 5039 1344, se estiver fora do Brasil, e alguém vai ler um poema para você. Sim, algum pesquisador, escritor, poeta, ator lerá um poema pra você. Um alento nesses tempos de perfídia.

Aliás, Feliz aniversário, Tanussi!

 

MÁRCIO CALIXTO
Professor e Escritor

Márcio Calixto. Foto: Divulgação.



Coluna de Márcio Calixto

 

 

Author

Professor e escritor. Lançou em 2013 seu primeiro romance, A Árvore que Chora Milagres, pela editora Multifoco. Participou do grupo literário Bagatelas, responsável por uma revolução na internet na primeira década do século XXI, e das oficinas literárias de Antônio Torres na UERJ, com quem aprendeu a arte de “rabiscar papel”. Criou junto com amigos da faculdade o Trema Literatura e atualmente comanda o blog Pictorescos. Tem como prática cotidiana escrever uma página e ler dez. Pai de dois filhos, convicto morador do Rio de Janeiro, do bairro de Engenho de Dentro. Um típico suburbano. Mas em seu subúrbio encontrou o Rock e o Heavy Metal. Foi primeiro do desenho e agora é das palavras, com as quais gosta de pintar histórias.