
Brasil em Cannes 2025 – O Agente Secreto. Foto: GettyImages
A cena se repete, mas ainda emociona: o Brasil é destaque na Croisette. Em 2025, O Agente Secreto, filme que revisita com densidade e tensão os anos da ditadura militar, saiu consagrado com dois dos prêmios mais relevantes do Festival de Cannes – Melhor Direção para Kleber Mendonça Filho e Melhor Ator para Wagner Moura.
O feito foi histórico. O longa, uma coprodução robusta, amparada por nomes experientes, misturava thriller político, estética retrô e senso de urgência contemporâneo. A atuação contida e poderosa de Wagner Moura, aliada à direção afiada de Kleber, garantiu ao filme um lugar raro para obras latino-americanas: o protagonismo absoluto na competição principal de Cannes.
Mas esse reconhecimento não surgiu do nada. Em 2024, Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, emocionou Cannes com sua sensibilidade e humanidade. O filme foi ovacionado por 10 minutos após a sessão — um feito que ressoou forte entre críticos e público, e que consolidou a presença brasileira no festival naquele ano. Foi, de certa forma, uma passagem de bastão: Ainda Estou Aqui abriu o caminho, e O Agente Secreto atravessou com firmeza.
Na mesma edição de 2024, títulos como Baby, A Queda do Céu e A Menina e o Pote integraram mostras paralelas, exibindo a pluralidade de temas, vozes e estéticas que marcam nossa produção recente. No ano anterior, em 2023, o premiado A Flor do Buriti — um trabalho delicado e necessário sobre os povos indígenas — levou o prêmio de Melhor Conjunto na mostra Un Certain Regard. Em 2021, O Marinheiro das Montanhas, Medusa e o curta Sideral também estiveram presentes, mostrando que, mesmo em momentos difíceis no cenário político e de fomento, o cinema brasileiro continuava chegando, sendo visto e, sobretudo, ouvido.
A pergunta que se impõe, porém, vai além da celebração pontual: estamos, de fato, ocupando o espaço que poderíamos nos festivais internacionais? Ou somos lembrados apenas quando conseguimos ultrapassar, com algum esforço hercúleo, as barreiras estruturais que nos são impostas?
Cannes é, sem dúvida, o palco mais visível e mais glamouroso, mas não é o único. Festivais como Berlim e Veneza também desempenham um papel estratégico na construção de um cinema com alcance global. O Brasil já teve boas passagens por esses eventos, mas é inegável que o protagonismo alcançado em Cannes ainda não se repete de forma sistemática nesses outros territórios. A falta de estrutura para distribuição internacional, a instabilidade das políticas públicas de fomento e o enfraquecimento da diplomacia cultural ajudam a explicar por que tantas boas obras brasileiras ficam restritas ao circuito dos festivais — e não alcançam plateias maiores e mais diversas.
A verdade é que o talento existe e sobra. O que falta é sustentação. Falta uma política cultural de Estado, que compreenda o audiovisual como uma força de projeção internacional. Falta uma indústria menos dependente da sorte e mais ancorada em planejamento, em continuidade, em presença global. E falta, também, acreditar que o cinema brasileiro pode e deve estar sempre nos grandes palcos, não apenas como exceção, mas como presença constante.
A vitória de O Agente Secreto em Cannes não é ponto fora da curva é prova de que o cinema brasileiro segue vivo, pulsante e pronto para ir além. Já levamos o Oscar com Ainda Estou Aqui, premiado como Melhor Filme Internacional, e agora conquistamos Cannes com dois dos principais troféus da mostra. E por que parar por aí? O que estamos vivendo talvez seja apenas o início de uma nova fase: de grandes prêmios, com grandes filmes e, acima de tudo, com uma grande audiência — aqui e lá fora.
O cinema brasileiro vive e a pergunta que fica é: até onde mais podemos chegar?
PEDRO ROLLEMBERG
@pe_rollemberg

ArteCult – @CinemaeCompanhia
Siga nosso canal e nossos parceiros no Instagram para ficar sempre ligado nas nossas críticas, últimas novidades sobre Cinema e Séries, participar de sorteios de convites e produtos, saber nossas promoções e muito mais!













