Novo romance do escritor carioca Ricardo Bernhard explora os limites psicológicos da convivência num experimento claustrofóbico e insólito

Foto: Ricardo Bernhard

 

Em “Encomendaram um plano”, o autor e diplomata mergulha num microcosmo de confinamento, examinando como solidariedade e violência emergem entre oito personagens quando as regras do mundo se rompem

 

“Nada é gratuito. Existe um equilíbrio meticuloso na hora de construir a aura da narrativa, muito afeita à melancolia, aos não ditos e à violência – que cresce vertiginosamente, aliás, conforme dramas pessoais são revelados. A visão do outro desencadeia o inferno pessoal de um, e o inferno pessoal de um interfere na visão do outro. A posição existencialista de Sartre, exposta com maestria na peça Entre quatro paredes, é revisitada com frescor pelo experiente prosador carioca.”

 

Trecho da orelha do livro, assinada pelo escritor e editor João Lucas Dusi

Em “Encomendaram um plano”, quarto romance do escritor e diplomata Ricardo Bernhard (@_ricardobernhard), oito pessoas – um juiz de cadeira de tênis, uma psicóloga, uma joalheira, um coreógrafo, uma bióloga, um diretor de cinema, um programador e uma historiadora – são convocadas a um palácio por uma entidade misteriosa conhecida apenas como Presidência. Publicado pela editora 7Letras (256 págs.), o livro tem orelha assinada por João Lucas Dusi, que o descreve como “um romance de ideias atravessado por um pulsante – e convidativo – estranhamento”.

O ponto de partida é simples e perturbador. Dentro do palácio, um dos personagens encontra um envelope com uma missão inusitada: elaborar um plano capaz de reconciliar dois vizinhos que se odeiam. A partir dessa encomenda improvável, a convivência se desdobra em rixas, alianças e delírios, revelando o que resta de humanidade quando se perdem os filtros do cotidiano.

Ricardo Bernhard volta a atenção do enredo para o efeito psicológico do confinamento, transformando-o num laboratório das reações humanas: “Num espaço fechado, com direcionamentos mínimos, o que prevalece é a essência das relações: disputas de poder, tentativas de cooperação, afinidades, choques”, comenta o autor. O resultado é uma narrativa em que identidade e alteridade colidem, e cada personagem se vê obrigado a encarar o próprio reflexo, e o dos outros, com desconforto e fascínio.

Com uma prosa de ritmo preciso, “Encomendaram um plano” combina o absurdo e o existencial, o humor e a melancolia. “O palácio, com as suas regras invisíveis, não deixa de ser um espelho distorcido da vida comum. Ao mesmo tempo, penso que o romance tem um tom de sátira discreta”, diz o autor. “Mesmo numa história sobre isolamento e fragilidade, busquei brincar com a linguagem e encontrar a leveza”.

 

Ricardo Bernhard e a virada estética em sua ficção

Autor dos romances Um caminho particular do futuro (Reformatório, 2024), Os Vilelas (7Letras, 2022) e Litoral Noir (Editora Madrepérola, 2021), Ricardo Bernhard nasceu no Rio de Janeiro em 1986 e é diplomata de carreira. Serviu em Brasília, Ottawa e Dublin e trabalha hoje na Embaixada do Brasil na África do Sul.

Seus três primeiros romances se filiam, cada um ao seu modo, à tradição do realismo. “Encomendaram um plano” marca, porém, uma guinada estética. “Quando me surgiu a ideia de escrever sobre o desafio da convivência, do trabalho em conjunto, senti que precisava mudar de registro”, conta o autor. “O absurdo, gênero que sempre admirei como leitor, me pareceu uma via natural. Para mim, o absurdo, ao exagerar, ilumina. Ao distorcer, revela.”

As influências que perpassam a obra incluem autores consagrados do gênero, como Kafka, Beckett e Campos de Carvalho, mas sobretudo um conjunto particular de títulos contemporâneos que, embora nem sempre absurdistas, partilham um mesmo impulso especulativo ou insólito:  “Bel Canto” (Ann Patchett); “My Petition for More Space” (John Hersey); “The Hundred Brothers” (Donald Antrim); e “The Thing in the Snow” (Sean Adams).

Atualmente, o autor revisa o manuscrito de um novo romance, em que uma história de amor se entrelaça a uma investigação psicológica. Em seguida, pretende retomar a vertente mais especulativa de sua ficção.

 

 

FICHA TÉCNICA

 

 

 

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