NÊMESIS: uma história sobre um mundo sem vacinas

 

Acredito que um livro é bom quando ele fica com você, quando ele volta e meia retorna à sua mente e melhora a cada vez que você se lembra dele. Esse é o caso de “Nêmesis“, de Philip Roth. Que leitura impactante! Tão impactante que, há cerca de um ano e meio, tento escrever sobre esse livro. Já falei sobre ele para várias pessoas, mas não conseguia escrever. Havia tantas coisas a dizer, tantas coisas em que eu me encontrava, que eu não sabia por onde começar.

Mas eu vou tentar:
Nêmesis conta a história de um professor que, no verão, trabalha como supervisor em um parque público. Basicamente, ele supervisiona crianças que brincam em um clube aberto à comunidade durante as férias escolares. O cenário é uma comunidade judaica na década de 1940. Eu sei que pra esse autor a questão judaica é importante, mas pra minha leitura é um dado irrelevante. O que pesa aqui é a época, o que pesa aqui são as pessoas.

Em 1944, um surto de poliomielite (paralisia infantil) trouxe perdas e medo à região de Nova Jersey. A história é contada do ponto de vista desse professor, o Bucky Cantor. E toda a narrativa é construída em torno de suas culpas e medos.

O livro trata da epidemia de pólio, mas é, sobretudo, a história de como Bucky se percebe no mundo. Ele se alistou no exército para lutar na Segunda Guerra, mas foi dispensado por ser míope. Enquanto a guerra acontecia, ele tomou como missão cuidar das crianças da sua comunidade, mas a doença mais uma vez o colocou em um lugar de impotência.

A vacina contra poliomielite, aquela da ‘gotinha’, só foi desenvolvida na década seguinte. Então, em 1944, ser acometido por essa doença era algo definitivo. Os que não morriam ficavam com graves sequelas no pulmão e perda de movimento no corpo. Entre outras coisas.

Muitas coisas mexeram muito comigo ao longo dessa leitura. Acho que o mais marcante foi conhecer uma doença que nunca presenciei. Paralisia infantil é uma doença que conhecemos dos livros de ciências ou dos romances de Agatha Christie, onde frequentemente há um cadeirante sobrevivente da moléstia. Da minha perspectiva, poliomielite é como varíola, difteria, sei lá… doença erradicada.

Nêmesis, palavra que dá título ao livro, é um termo utilizado pra ser referir ao inimigo de alguém, ao adversário, ao antagonista. Na mitologia grega, Nêmesis é a divindade da vingança, da justiça. Ela personificava tudo o que era inevitável e, invariavelmente, alcançava os homens.

Livraço! Curtinho (197 páginas, na minha edição), bem escrito, último livro de um autor superpremiado e com questões que – por diversos motivos – permanecem com quem lê.

Ps: Penso que depois de ler esse livro, a pessoa vai correr no postinho de saúde pra saber se sua imunização tá em dia. Foi o que fiz!

 

DICA DA TAIS:

Nêmesis – Capa do Livro

Título: Nêmesis

 

TAIS BRITO

 

 

 

 

 

Author

Eu me chamo Tais Brito, sou professora de história e tenho um doutorado nessa mesma área. Sendo uma pessoa inquieta e extremamente curiosa, os livros me permitem ir a todos os lugares e conhecer todo o tipo de coisas. Nas horas vagas, eu gosto de falar sobre esporte, viagens e, claro, literatura.

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