Mitologias pelo mundo, além da grega: a história de todos nós – parte XII – conheça a mitologia hindu

 

“Pobres daqueles que só amam corpos, formas e aparências.
A
 morte levará tudo deles.
Procure amar as almas, você as encontrará de novo.”
Victor Hugo (1802-1885), poeta, escritor e político francês

 

Na primeira parte deste longo artigo, situamos o contexto histórico e algumas questões filosóficas, por assim dizer, sobre os quais as mitologias pelo mundo, de um modo geral, foram edificadas. Na segunda parte, a temática versou sobre a mitologia grega, talvez uma das mais famosas em todo mundo. Na terceira parte, mergulhamos em passagens mitológicas da nossa terrinha tupiniquim, com histórias dos povos originários e dos negros africanos que foram, indignamente, escravizados e trazidos para o Brasil. Na quarta parte, começamos, efetivamente, digamos deste modo, a passear pelas mitologias de vários povos, iniciando, este passeio, pela nossa América Latina, com históricas dos povos pré-colombianos e mesoamericanos. Na quinta parte, regressaremos para a Europa, com partes de histórias que, também, muito influenciaram a nossa cultura brasileira, até porque, mantiveram forte relação com a cultura da Grécia Antiga, no caso da mitologia romana, ou que nos fascinam sobremaneira, até os dias atuais, como a egípcia. Na sexta parte, falaremos, brevemente, sobre dois povos um tanto menos conhecidos dos que os gregos, os romanos e os egípcios, mas que com eles mantiveram profundas relações culturais e, especialmente, conflituosas, os frígios e o hititas. Estes últimos, com destaque especial para as várias guerras travadas com os egípcios. A despeito do espírito guerreiro, suas mitologias também são capazes de nos encantar. Continuemos, pois, nossa viagem encantada pelo mundo antigo e suas belas histórias. Na parte sétima, passeamos um pouco pelas culturas árabe e persa, diferentes, porém, um tanto conectadas entre si, bem como, por mais incrível que possa parecer para alguns, com a cultura judaica, isso, para além da localização geográfica e histórica. Na oitava parte, em nossa viagem, fomos mais para o norte do globo terrestre, mais precisamente, para as terras bárbaras (germanos, eslavos, tártaro-mongóis, vikings etc.) do deus Thor e de tantos outros queridos personagens mitológicos. Na nona parte, rumamos para o Oriente distante, para o segundo maior território nacional, que abriga a maior população do planeta e dialogamos um tanto com a mitologia do vasto, complexo e bonito Império Chinês. Fomos para o Extremo Oriente e rumamos para o Império do Sol Nascente, o Japão e sua rica cultura milenar. Mantendo a viagem pelo Oriente, conhecemos um tanto da cultura mitológica de eslavos e russos, povos tão fascinantes quanto misteriosos. E agora, dando certa seqüência no que podemos classificar, como na parte anterior, de povos misteriosos, porque com culturas bastante distantes da nossa, seguiremos viagem para a Índia, segundo país mais populoso do planeta (só perde para a China).

 

Mitologia Hindu

A mitologia Hindu tem origem nas tradições Védicas. Vedas, em Sânscrito, quer dizer “conhecimento” e, na linguística, foi também o dialeto indo-europeu falado na Índia por volta de 1.500 a.C. a 500 a.C., dando origem ao Sânscrito e, posteriormente, ao Hindi, língua majoritária na Índia já de alguns séculos, ao qual juntou-se o inglês, com a colonização britânica a partir dos séculos XVII/XVIIII, tornando-se língua oficial do país, associada ao Hindi, a partir de 1965, ainda que a independência Hindu tenha ocorrido em 1947, após campanha liderada pelo advogado e líder político e religioso Mohandas Karamchand Gandhi (1969-1948), conhecido como Mahatma Gandhi, a Grande Alma, que, mesmo tendo a não violência por princípio de vida e de ação política, foi assassinado em 1948 por um nacionalista hindu porque muitos consideravam Gandhi muito tolerante com outras religiões, como a Muçulmana.

A filosofia védica teve seu primeiro registro há cerca de 5.000 anos. Literária e culturalmente falando, Vedas são, também, 4 livros sagrados que explicam as origens do pensamento e da sociedade indiana, que falam sobre a unicidade e, ao mesmo tempo, sobre a variedade dos diversos dialetos, crenças e práticas religiosas dos Hindus. Os Vedas trazem hinos, preces e mitos, compondo parte das escrituras sagradas deste povo.

Os quatro grandes e principais livros que compõem os Vedas são: o Rigveda (hinos e versos em forma de poema); o Yajurveda (hinos em prosa, que eram recitados em sacrifícios antigos); a Sâmaveda (versos para serem cantados) e a Atharvaveda (fórmulas e encantamentos para curas físicas e espirituais). A vida após a morte é uma das crenças mais arraigadas deste povo e desta mitologia, visão expressa, também, por vários ocidentais, como pode ser visto na frase em epígrafe do intelectual francês Vitor Hugo.  Contudo, é bom ressaltar que os Vedas são, na verdade, segundo estudiosos, um compilado de vários livros e escritos e os últimos, os que mais nos chegaram, chamam-se Upanishades.

Em um desses Upanishades, afirma-se, por exemplo, que há um ser interior, dentro de cada um de nós, coisa que não compõe a crença dos budistas, que não seguem uma concepção teísta, ou seja, que Deus não é uma pessoa consciente, como nós, mas uma energia vital. Budistas acreditam na filosofia de vida inaugurada, por assim dizer, pelo asceta Sidarta Gautama, o primeiro Buda, que acreditava que, sendo donos de nossas ações, também somos donos do que nos acomete e, por esta razão, tudo o que nos acontece é resultado do que sentimos, pensamos e fazemos. No ocidente, ideias semelhantes, de mesmo ou similar princípio, podem ser estudadas em concepções como o Existencialismo dos filósofos alemães Karl Jaspers (1883-1969), e Martin Heidegger (1889-1976) e do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), dentre outras correntes filosóficas ou religiosas, como no caso do Kardecismo, que tem seu maior expoente no professor e tradutor francês Allan Kardec (1804-1869).

Os primeiros rascunhos das concepções hindus foram descritos, segundo estudiosos, pelo filósofo e monge Adi Shankara (não se sabe a sua data de nascimento, mas acredita-se que tenha morrido perto de 750 d.C.), que era um Asceta (pessoa que procura afastar-se dos prazeres da vida mundana, dedicando-se a orações, vigílias e jejuns, buscando a perfeição espiritual, no que se assemelha aos Estóicos, mais radicais, e aos Epicuristas, que admitiam prazeres moderados) e chamou-se, a teoria, Advaita Vedanta (inspirando obras de autores ocidentais, como Arthur Shoppenhauer1788-1860). Ela trabalha a ideia de “não dualismo”, ao contrário de concepções como o Zoroastrismo e as religiões que ela influenciou. A título de informação complementar, o Zoroastrismo pregava uma interpretação dualista do mundo, que seria dividido entre o bem e o mal, a partir dos ensinamentos de Zaratustra (ou Zoroastro, em grego) e afirmava a existência de um deus supremo. Definindo de outro jeito essa questão dualista, não existiria distinção entre a realidade suprema, Brahma, e o ser individual, que comporiam, deste modo, um único corpo. Os demais deuses, bem como tudo no Universo, nada mais são do que manifestações externas e diferenciadas de Brahma, o Um, a Absoluto, a Verdade Universal, unicidade para a qual, ao fim da Samsara (quer dizer “fluxo ou movimento contínuo”; ciclo de nascimentos), todos retornaremos ao Um, o ser único no Universo.

 

Os Livros Sagrados

Dois livros sagrados e que são considerados como a base da filosofia, da história e da cultura Hindu, junto com os Vedas, são o Mahabharata e o Samarangana Sutradhara.

Mahabharata quer dizer “A Grande História dos Bharatas”; é o principal épico religioso da civilização indiana, escrito em Sânscrito; é, também, o maior poema de todos os tempos e povos, com cerca de 200.000 versos (equivale a sete vezes a soma da Ilíada com a Odisséia, os dois épicos atribuídos ao poeta grego Homero que são tidos, por alguns estudiosos, como o marco inaugural da literatura ocidental – e que são bem grandes, tendo, no total, mais de 1.000 ambos). Em Sânscrito, Bharatas quer dizer, segundo algumas traduções, “saqueadores”, termo que deu nome às tribos Arianas que teriam ocupado a Índia em torno de 1.700 a.C. (invasão contestada por alguns historiadores). O livro ganhou sua forma definitiva no século II d.C., mas acredita-se que a maioria dos versos tenha sido compilada no século IV a.C. – apesar de serem bem mais antigos na tradição oral, como quase todos os textos religiosos. A coletânea é creditada ao sábio Vyasa, personagem mítico considerado o autor de outras escrituras sagradas do Hinduísmo, como os Vedas e os Puranas (narrativas mais antigas do Mahabharata), traduzido como “o livro de Deus”, também foram escritos em Sânscrito e em versos (falando sobre Geografia, História, Cosmologia, Genealogia, Mitologia etc.).

O Mahabharata narra a guerra entre os Pandavas e os Karauvas, que seriam duas famílias com laços de parentesco muito próximos, pela posse de um reino no norte da Índia. Os momentos que antecedem o confronto final, conhecido como “Batalha de Kurukshetra” (cidade dessa região), compõem o trecho mais famoso do poema, conhecido como Baghavad Gita (“Canção do Divino Mestre”; é o 9º livro do Mahabharata). É quando o príncipe Arjuna, em crise de consciência por estar combatendo amigos e familiares, cogita desistir da luta e entra em diálogo com o deus Krishna, que o convence que aquela guerra faz parte do destino do seu povo e não poderia ser evitada. Há relatos sobre Vimanas (veículos voadores), sobre batalhas que parecem guerras atômicas – e aqui, não há apenas relatos, mas algo que alguns pesquisadores consideram como indícios dessas guerras, como pedras vitrificadas que só podem ficar assim com temperaturas superiores a 1.000 graus ou como o relato de destruição de cidades inteiras, tal como teria acontecido com Mohenjo Dharo etc. Se alguém, há pouco, pensou na música clássica “Gita”, de Raul Seixas, pensou certo, Raulzito foi leitor e admirador da filosofia oriental e sim, deu o nome da música a partir do poema Hindu.

A ética do guerreiro é uma questão central nos livros sagrados, como o Mahabharata, retratando uma época em que as batalhas entre os indianos seguiam regras, talvez surpreendentes, para alguns, nesse sentido: um soldado montado em um elefante, por exemplo, não podia atacar quem estivesse a pé. Da mesma maneira, um homem que estivesse fugindo ou tivesse perdido suas armas não podia ser preso, ferido ou morto; estava desonrado, não podia ser atingido. Os confrontos, não raro, acabavam rigorosamente ao pôr-do-sol, pois à noite havia confraternizações, por vezes, entre os soldados de ambos os lados. Apesar disso, a Batalha de Kurukshetra teria sido uma sangrenta carnificina na qual, após cerca de 20 a 30 dias de conflito (as estimativas variam entre historiadores), teriam restado apenas cinco sobreviventes para perpetuar a dinastia dos Pandava, os vencedores.

Samarangana Sutradara é um texto poético do século XI, igualmente escrito em Sânscrito, cuja versão mais completa data do século XV e conta com mais de 7.500 versos, dispostos em mais de 80 capítulos que tratam sobre, por exemplo, planejamento urbano, arquitetura das casas, iconografia, decoração de palácios, pintura, escultura e preparo do solo para a agricultura.

As principais divindades expostas nos Vedas são: Indra (Deus das tempestades); Agni (Deus do fogo e da vida); Mitra-Varuna, Aryaman, Bhaga e Amsa (divindades da natureza, protetores do povo védico).

Como legado da cultura védica, temos, por exemplo, a saúde, já que o conhecimento Ayurvédico dita práticas e métodos de cura e modos de viver. Na arquitetura, o Vastu-Shastra, expõe uma técnica milenar para construir e desenhar templos, nos permite admirar as grandes construções hindus modernas. O sistema de Yoga (como a Hatha Yoga, a mais disseminada, e outros tipos, como a Ashtanga Yoga, a Raja Yoga, a Iyengar Yoga, a Kundalini Yoga ou a Tai Yoga) e meditações no geral e o Jyotishu, que fala sobre astrologia, são outros exemplos de conhecimentos que adotamos na modernidade ocidental e que são originários dos povos védicos.

A cultura Hindu, assim, nasceu da cultura védica, embora dela difira em alguns aspectos, a começar do próprio termo “Hindu”, que remonta à denominação do colonialismo britânico, nos séculos XVII/XVIII, bem posterior, aos Vedas, que assim chamaram os indianos que não eram muçulmanos e se banhavam as margens do Rio Indo (alguns até chamam o local de Hindustão).

 

Alguns conceitos

Politeísta, o Hinduísmo é, na verdade, um conjunto de tradições diferenciadas na origem e nos preceitos, embora todas tenham em comum, textos sagrados basilares e princípios fundamentais.

  • Chakras – em Sânscrito, quer dizer “rodas”; espiritualmente, são centros de energia vital que têm a função de absorver vibrações e levá-las ao organismo das pessoas, como um todo. São, no total, segundo a tradição védica, sete; quando estão em equilíbrio, a energias flui livremente; quando não, por óbvio, a energia não flui e a pessoa adoece. Tratar os doentes, mais do que as doenças, eis o princípio da medicina Ayurvédica.
  • Dharma vem do sânscrito “aquilo que mantém elevado”; é a missão de vida de cada um;
  • Samsara, no Budismo, como dito anteriormente, é a série ininterrupta de mutações a que a vida é submetida, espécie de roda infernal de que o indivíduo só se liberta quando alcança o Nirvana; existem, por este entendimento, almas iluminadas e almas não iluminadas e são estas que estão presas ao ciclo de nascimento – vida terrena – morte, ou seja à Samsara;
  • Metempsicose é a transmigração da alma, de um corpo ao outro, através dos tempos, até que a Samsara se encerre. Similar ao conceito espírita “reencarnação”;
  • Nirvana, nas religiões indianas, é o estado permanente e definitivo de beatitude, felicidade e conhecimento; deve ser a meta suprema do homem espiritualizado; Nirvana é um estado de graça, e não um lugar, e é obtido através de disciplina ascética e meditação; uma vez atingido este estado de espírito, temos a extinção definitiva do sofrimento humano alcançada por meio da supressão do desejo e da consciência individual;
  • Karma significa, no Sânscrito, “ação ou ato deliberado”; dependendo da religião, o sentido do termo pode variar, mas costuma estar relacionado às ações humanas e suas consequências. A Lei do Karma ajusta o efeito à sua causa. Isto é, o bem ou o mal que praticamos durante a vida nos trará consequências boas e/ou más nesta existência e nas próximas; dito de outro modo, um Karma é a soma das energias positivas e negativas em uma encarnação, na sucessão da Samsara;
  • Moksha é o ato de meditação e autodisciplina para o atingimento do Nirvana.

 

Supremacia da Trimurti

A Supremacia da Trimurti é composta pelos três principais deuses do Hinduísmo: Brahma, VishnuShiva, que é equivalente à Santíssima Trindade católica e outras tríades, de outros muitos povos (os celtas, os nórdicos etc.); esses deuses simbolizam, respectivamente, a criação, a conservação e a destruição;

Brahma é a força criadora do Universo e da vida, o Um, o Absoluto para o qual todos retornaremos ao atingirmos o Nirvana, cessando a Samsara; é um ente divino presente em tudo, animado ou inanimado; os Vedas teriam sido recitados, na mitologia, por Brahma; suas 4 mãos representam a autoconfiança, o ego, a mente e o intelecto e sua barba representa a sabedoria; a Flor de Lótus que carrega em uma das mãos simboliza a natureza e a essência viva de todos os seres e o livro que carrega em outra mão, representa o conhecimento.

 

Brahma. Fonte: Vedic Feed

 

Vishnu é responsável pela manutenção, proteção e sustentação do Universo; sempre que o mundo esteve sob a ameaça de alguma força do mal, Vishnu foi quem surgiu sob a forma de um de seus Avatares (encarnações) para protegê-lo e nos proteger.

 

Shiva é normalmente visto como destruidor; entretanto, ao mesmo tempo é também criador, representava a preservação do Universo em cada ciclo do Tempo, simbolizando que morte e vida, criação e destruição, seguem mais juntas do que imaginamos. Comumente, vem associado à Yoga, pois esta última e esse deus estão ligados ao conceito de transformação.

 

Shiva. Fonte: Geeta

 

Sobre Shiva Nataraja, o deus dançarino do eterno movimento. Um dos símbolos mais populares de Shiva no Ocidente

Shiva Nataraja, O Senhor da Dança. Tamil Nadu, 990 A.C., bronze. (Freer Gallery, Washington DC)

Na imagem de Shiva temos o primeiro braço, com a palma à frente, que quer dizer: “Não vos atemorizeis com a mensagem terrível que vos trago, pois também apresento a solução”.

O segundo braço segura um pequeno tambor que marca o ritmo da dança, e significa que “Tudo no universo segue um ritmo e está sujeito a uma ordem temporal”. O tambor representa também o som através do qual o universo foi criado.

Com o terceiro braço, o que segura as línguas de fogo, Shiva diz: “Aproxima-se o tempo de destruir o que se construiu, para se completar o ciclo da criação. Assim como no passado o mundo antigo acabou-se pelas águas de um dilúvio, agora ele será destruído pelo fogo”. Os fachos de fogo ao redor da figura carregam a seguinte mensagem: “A redondeza da Terra será queimada pelo fogo”.

Um pé esmaga uma figura animalesca, que representa a natureza inferior e animal do homem.

O quarto braço apresenta a salvação, ao apontar para o pé levantado, querendo dizer: “O homem não deve atender às solicitações das suas más inclinações, de suas más paixões, dos instintos bestiais, oriundos da sua natureza animal, inferior, e sim seguir sua natureza superior, espiritual: deve abster-se do ódio, dos vícios, dos excessos, obter o autocontrole”.

Seu pé esquerdo erguido mostra-nos que podemos elevar-nos e atingir salvação. Pensar em salvação é pensar na auto-elevação – do caráter, espírito, condutas, etc.

Outras divindades

Textos e práticas afirmam que existem 330 milhões de deuses (33 Crores), simbolizando a infinitude do divino. Existem 33 divindades principais. Vamos conhecer algumas dessas:

 

Rama é considerado pelos Hindus uma das encarnações de Vishnu, um Avatar (encarnação divina) assim como Jesus para os cristãos e Buda para os budistas. Para os Hindus, de tempos em tempos, nasce um ser iluminado na terra (um Avatar), cada um com uma missão a cumprir como foi com Jesus, Buda, Krishna etc.

 

Rama. Fonte: Ancient Origins

 

Krishna é um deus personificado do Hinduísmo, representante das manifestações de Deus Supremo no mundo, Brahma. Krishna também significa Verdade Absoluta, para os Hindus, e diz o mito que Krishna foi o oitavo Avatar de Vishnu.

Krishna. Fonte: Segredos do Mundo

 

obs: O cântico Hare Krishna é uma ferramenta espiritual usada por devotos do movimento Hare Krishna para alcançar um estado de consciência mais elevado. A repetição das palavras “Hare“, “Krishna” e “Rama” é uma forma de mantra, uma técnica de meditação que visa focar a mente e alcançar um estado de paz interior e conexão espiritual.  Krishna e Rama são os nomes de dois avatares do Senhor Vishnu. O mantra Hare Krishna é cantado como uma prece a Deus, e seu significado pode ser interpretado como “Ó Senhor, ó energia do Senhor, por favor, envolva-me em seu serviço”, e uma transliteração livre.

 

Parvati é uma das deusas mais importantes do hinduísmo, personificando amor, fertilidade e devoção. Esposa de Shiva e mãe de Ganesha e Kartikeya, ela simboliza o equilíbrio entre energia e compaixão. Representada em diversas formas, desde a gentil Annapurna até a feroz Durga, Parvati reflete a complexidade da existência. Seu papel abrange não apenas a vida familiar, mas também o aspecto espiritual, sendo associada à meditação e ao poder transformador. Adorada como a energia divina (Shakti), Parvati é vista como a personificação do ideal feminino e da força criativa do universo.

 

Ganesha é outra das divindades mais populares e reverenciadas do hinduísmo, frequentemente representado com cabeça de elefante e corpo humano, simbolizando sabedoria, prosperidade e remoção de obstáculos. Suas origens remontam a textos sagrados antigos, como os Puranas, onde ele é descrito como filho de Shiva e Parvati. Adorado em cerimônias de início de novos empreendimentos, Ganesha é associado a atributos como inteligência, artes, e proteção. Seus símbolos mais conhecidos incluem o rato, que representa a superação do desejo, e o doce modak, que simboliza a recompensa espiritual.

 

Ganesha. Fonte: Águas de Aruanda

 

Kartikeya é o deus hindu da guerra e comandante do exército celestial, filho de Shiva e Parvati. Frequentemente representado com uma lança e montado em um pavão, Kartikeya simboliza coragem, vitória e proteção contra forças malignas. Sua principal missão é derrotar demônios e garantir a harmonia cósmica. Reverenciado principalmente no sul da Índia, ele é associado à juventude, valentia e pureza. Kartikeya é adorado por aqueles que buscam força para enfrentar desafios e alcançar vitórias espirituais e materiais. Seu culto é celebrado durante o festival de Skanda Shasti, dedicado a suas conquistas divinas.

 

Saraswati é a deusa hindu da sabedoria, conhecimento, artes e eloquência. Representada elegantemente sentada em uma flor de lótus ou em um cisne, ela carrega uma veena, símbolo da harmonia, e textos sagrados, representando a busca pelo aprendizado. Associada à pureza e criatividade, Saraswati é invocada por estudantes, artistas e intelectuais. Sua presença transcende o material, guiando os devotos em direção à iluminação espiritual. Celebrada no festival de Vasant Panchami, Saraswati é vista como a fonte de inspiração e compreensão, indispensável para o crescimento cultural e espiritual.

 

Durga é a deusa hindu da força, coragem e proteção, venerada como a personificação do poder divino (Shakti). Representada montada em um tigre ou leão, com múltiplos braços portando armas, ela simboliza a vitória do bem sobre o mal. Durga é especialmente conhecida por derrotar o demônio Mahishasura, um ato que reflete sua capacidade de proteger o universo contra forças destrutivas. Adorada durante o festival de Navaratri, ela é uma deusa guerreira que também incorpora compaixão e sabedoria, sendo vista como a mãe divina que protege e guia seus devotos.

 

Kali é a deusa hindu do tempo, transformação e destruição, reverenciada como uma manifestação feroz e protetora de Shakti, a energia divina. Representada com pele escura ou azul, língua exposta e colares de crânios, ela simboliza a força que destrói a ignorância e os demônios internos. Apesar de sua aparência assustadora, Kali é vista como uma mãe compassiva que guia seus devotos rumo à libertação espiritual. Adorada em rituais intensos e festas como Kali Puja, ela representa a dualidade da criação e destruição, sendo uma das figuras mais poderosas e enigmáticas do panteão hindu.

Lakshmi é a deusa hindu da riqueza, prosperidade e boa fortuna, amplamente reverenciada como consorte de Vishnu, o preservador do universo. Representada com frequência sentada em uma flor de lótus, cercada por elefantes e moedas caindo de suas mãos, Lakshmi simboliza abundância espiritual e material. Seu culto é especialmente celebrado durante o festival de Diwali, quando é invocada para abençoar lares e negócios. Além de sua conexão com a prosperidade, Lakshmi também é associada à beleza, pureza e à harmonia no lar, sendo uma das divindades mais adoradas no hinduísmo.

 

Hanuman é o deus-macaco do hinduísmo, símbolo de força, devoção e serviço desinteressado. Conhecido como um fiel seguidor de Rama, ele desempenha um papel central no épico Ramayana, ajudando a resgatar Sita do demônio Ravana. Representado com um corpo poderoso e segurando uma maça, Hanuman personifica coragem e lealdade. Sua habilidade de voar e mudar de forma reflete seu poder divino. Adorado por devotos em busca de proteção e superação de desafios, Hanuman é celebrado especialmente em Hanuman Jayanti, sendo uma fonte eterna de inspiração e força espiritual.

 

Agni é o deus hindu do fogo, essencial tanto nos rituais védicos quanto na vida cotidiana. Considerado o mediador entre os seres humanos e os deuses, Agni é invocado nas oferendas e sacrifícios, sendo responsável por transportar as preces e oblações ao mundo divino. Representado com duas cabeças e chamas em seu corpo, ele simboliza a purificação, a transformação e a iluminação espiritual. Agni também está associado à energia vital e ao calor do universo. Reverenciado em diversos rituais, ele é uma das divindades mais antigas do panteão védico e um dos pilares da tradição espiritual hindu.

 

Surya é o deus hindu do sol, simbolizando a luz, a vida e a vitalidade. Representado como um ser radiante montado em uma carruagem puxada por sete cavalos, Surya é a personificação do calor e da energia solar, essenciais para o equilíbrio do universo. Ele é associado à cura, à saúde e ao poder divino que sustenta a criação. Surya é invocado para afastar a escuridão, tanto física quanto espiritual, e é reverenciado em rituais como o Surya Namaskar (saudação ao sol). Sua energia é considerada purificadora e revitalizante, sendo uma das divindades mais veneradas na Índia.

 

Indra é o deus hindu do trovão, das chuvas e da guerra, sendo considerado o rei dos deuses no panteão védico. Representado montado em um elefante branco chamado Airavata, ele segura um raio (Vajra) e é o protetor dos céus e das forças cósmicas. Indra é frequentemente invocado para trazer chuva e fertilidade à terra, além de garantir a vitória sobre os inimigos. Em várias escrituras, ele é retratado como um líder corajoso e justo, embora sua figura também contenha aspectos de desafio e transgressão. Reverenciado especialmente durante os rituais de chuva, Indra é uma das divindades centrais na mitologia védica.

 

As Castas

Um acréscimo importante sobre o povo indiano e sua cultura e mitologia criadora, é seu sistema histórico de Castas, também presentes em outros países, como no Nepal, embora um tanto diferente, a saber:

  • Brâmanes – sacerdotes e pessoas letradas, que segundo o mito, nasceram da cabeça de Brahma, e seus descendentes;
  • Xátrias – guerreiros, que nasceram dos braços de Brahma, e seus descendentes;
  • Vaixás – comerciantes, que nasceram das pernas de Brahma, e seus descendentes e
  • Sudras – servos, camponeses, pequenos artesãos e operários, que nasceram dos pés de Brahma.

É uma sociedade fortemente hierarquizada, tanto que há mais um grupamento de pessoas que, existindo e nominadas, sequer estão no sistema das castas, são os Dalits ou Intocáveis ou Párias ou Hardhans ou Haryans, que, na crença Hindu, são o resultado da poeira dos pés de Brahma, ao andar e criar as demais castas. Este sistema de divisão social não tem, há muito, o reconhecimento oficial dos governos indianos, mas permanecem vivos e ativos no seio da sociedade, por tradição cultural e religiosa; alguém de uma casta, para quem vive neste sistema, não tem como mudar de casta. Alguns estudiosos afirmam que o Budismo e que o Janismo (religião ascética  de renúncia aos desejos e prazeres mundanos e materiais, buscando a perfeição espiritual; também acreditam no Karma e que existem vários Universos diferentes, mas que não foram criados por um ser superior, tendo sempre existido, independente dos deuses) foram reações a este sistema de castas.

Uma sociedade de castas é, na verdade, o que temos no mundo todo, porém, nem sempre ou mesmo, na maior parte dos casos, esse fenômeno permaneça, na maior parte dos casos, oculto pela ilusão que muitos temos, por inocência ou manipulação por terceiros, mal intencionados, de que vivemos em uma democracia, mas que gera sociedades extremamentes desiguais, violentas, autoritárias, alienadas e alienantes e castradores do que há de melhor no ser humano, as boas almas que, felizmente, ainda existem por aí (ainda que, particularmente, ache que o número delas vêm sendo reduzido paulatinamente). Chegaremos ao Nirvana? O que temos feito, coletivamente, para melhorar superar nosso Samsara, real, para quem acredita, ou mesmo simbólico, cultural e político? Temos que criar novos Dharmas.

 

Carlos Fernando Galvão,
Geógrafo, Doutor em Ciências Sociais e Pós Doutor em Geografia Humana


cfgalvao@terra.com.br

@cfgalvao54

 

 

 

Capa do livro “Mitologia Hindu – o Universo dos Deuses e Mitos”. Reprodução: Internet.

Bibliografia de consulta e sugerida para aprofundamento

  • SARASWATI, Aghorananda. Mitologia Hindu – o Universo dos Deuses e Mitos. Rio de Janeiro: Editora Madras, 2022.

 

 

 

 

 

 

Author

Carlos Fernando Galvão é carioca, Bacharel e Licenciado em Geografia (UFF), Especialista em Gestão Escolar (UFJF), Mestre em Ciência da Informação (UFRJ/CNPq), Doutor em Ciências Sociais (UERJ) e Pós Doutor em Geografia Humana (UFF). Autor de mais de 160 artigos, entre textos científicos e jornalísticos, tendo escrito para periódicos como O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Le Monde Diplomatique Brasil, também foi colaborador do Portal Acadêmico da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) entre 2015 e 2018. Atualmente, escreve com alguma regularidade no Portal ArteCult. É autor, igualmente, de 14 livros.

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