O homem realizado procura o que existe dentro de si. O homem frustrado, o que aparece nos outros. Confúcio (551 a.C. – 479 a.C.), filósofo e político chinês
Na primeira parte deste longo artigo, situamos o contexto histórico e algumas questões filosóficas, por assim dizer, sobre os quais as mitologias pelo mundo, de um modo geral, foram edificadas. Na segunda parte, a temática versou sobre a mitologia grega, talvez uma das mais famosas em todo mundo. Na terceira parte, mergulhamos em passagens mitológicas da nossa terrinha tupiniquim, com histórias dos povos originários e dos negros africanos que foram, indignamente, escravizados e trazidos para o Brasil. Na quarta parte, começamos, efetivamente, digamos deste modo, a passear pelas mitologias de vários povos, iniciando, este passeio, pela nossa América Latina, com históricas dos povos pré-colombianos e mesoamericanos. Na quinta parte, regressaremos para a Europa, com partes de histórias que, também, muito influenciaram a nossa cultura brasileira, até porque, mantiveram forte relação com a cultura da Grécia Antiga, no caso da mitologia romana, ou que nos fascinam sobremaneira, até os dias atuais, como a egípcia. Na sexta parte, falaremos, brevemente, sobre dois povos um tanto menos conhecidos dos que os gregos, os romanos e os egípcios, mas que com eles mantiveram profundas relações culturais e, especialmente, conflituosas, os frígios e o hititas. Estes últimos, com destaque especial para as várias guerras travadas com os egípcios. A despeito do espírito guerreiro, suas mitologias também são capazes de nos encantar. Continuemos, pois, nossa viagem encantada pelo mundo antigo e suas belas histórias. Na parte sétima, passeamos um pouco pelas culturas árabe e persa, diferentes, porém, um tanto conectadas entre si, bem como, por mais incrível que possa parecer para alguns, com a cultura judaica, isso, para além da localização geográfica e histórica. Na oitava parte, em nossa viagem, fomos mais para o norte do globo terrestre, mais precisamente, para as terras bárbaras (germanos, eslavos, tártaro-mongóis, vikings etc.) do deus Thor e de tantos outros queridos personagens mitológicos. Nesta nona parte, rumamos para o Oriente distante, para o segundo maior território nacional, que abriga a maior população do planeta; vamos dialogar um tanto com a mitologia do vasto, complexo e bonito Império Chinês.
Mitologia Chinesa
A mitologia chinesa é formada por elementos de três religiões diferentes: o Confucionismo, o Budismo e o Taoísmo e segue os mesmos princípios rígidos e hierárquicos da sociedade como um todo; alguns autores comparam o panteão chinês a um Estado, em face da rígida hierarquia que propugna. A maior parte dos deuses chineses, segundo diz a mitologia local, tem origem humana, tornando-se divindades após sua morte, a depender de suas virtudes e boas ações, em vida; outra parte teria origem diretamente divina. Sobre o Taoísma e sobre o Confucionismo, já falaremos. Vale, contudo, um pequeno passeio sobre o Budismo (e sobre o Hinduísmo, que não é forte na China, mas que guarda a mesma origem e semelhanças com o Budismo).
O Budismo é uma doutrina filosófica, mais do que uma religião, embora tenha sim, embutido em seus princípios, valores e buscas espirituais, que surgiu na região hoje conhecida por Índia, aproximadamente no século VI a.C., estimam estudiosos. A base do Budismo é alcançar a iluminação, não raro, por privações dos prazeres mundanos, no que se aproxima, por exemplo, dos gregos Estóicos e mesmo dos Epicuristas. O principal pensador do Budismo foi Siddartha Gautama, considerado como o Primeiro Buda, ou seja, o Primeiro Iluminado ou Despertado, o primeiro ser a ter atingido o Nirvana, que no Budismo significa algo como “eliminar o sofrimento”, que não é um lugar, mas o estado de graça da alma humana.
No Hinduísmo também existe o Nirvana, com o mesmo significado, mas com uma compreensão adicional, a de que para chegar a esse estado de espírito, a “não ação” não é eficaz: devemos buscar o conhecimento do verdadeiro “”Eu”, que os hindus chamam de Atman. Após a última reencarnação, a Atman, para os Hindus, retorna ao grande “Eu” Universal, ou seja, a Deus, a Brahma ou Brahman. Para Hinduístas e Budistas, a vida é um sopro de Deus em cada um de nós. De todo modo, a alma, individual, como no Hinduísmo, ou universal, como no Budismo, é devolvida ao Universo, ao “Um”, quando fica livre do ciclo (de sofrimento) de “nascimento, morte, renascimento”, chamado Samsara. Outra característica importante do Budismo é que há o Karma ou Carma, que é a ideia de que nossas ações na vida, as boas e as ruins, influenciarão as vidas futuras, o que, por óbvio, influencia a busca pelo Nirvana.
Segundo o Budismo, são quatro, os ensinamentos básicos, Quatro Verdades, como chama, a seguir (os outros decorrem destes): 1 – a vida é sofrimento; 2 – o sofrimento é fruto do desejo; 3 – acabar com o desejo é acabar com o sofrimento e 4 – o fim da Samsara chega com os ensinamentos de Buda. O Budismo, talvez, seja a maior influencia filosófica do povo chinês.
O Mito da Criação ou a História de Pangu ou Panku
No início havia o caos (para variar!), que era tido como se fosse matéria ainda não formada no interior de um ovo, segundo comparação com a qual me deparei na pesquisa remota e que achei interessante trazer para a pesquisa e este artigo. Deste caldo caótico inicial, nasceu Pangu ou Panku, o primeiro de todos os seres, um ser híbrido entre homem e fera, com pelos no corpo e cornos (chifres). Entediado por não ter o que fazer, ordenou ao caos que se dividisse em duas metades: Yin (que representa a escuridão, o passivo, o feminino, o frio e o noturno) e Yang (que representa a luz, o ativo, o masculino, o quente e o claro); ambos, conceitos do I Ching. Este fenômeno, contudo, não ocorreu de modo pacífico, senão com Pangu usando toda sua força para separar as duas partes e, mesmo assim, estava difícil de o fazer. Para concretizar seu plano, assim, Pangu criou quatro seres celestiais, quatro divindades mágicas, que o ajudaram a criar o Universo em que vivemos e tudo o que nele existe, quatro dragões (mais à frente voltarei a este ponto), além de uma tartaruga e dois seres quiméricos e que, por isso, nos são bastante estranhos, o Qilin e o Fenghuang. Passados milhares, milhões, de anos, não há precisão, Pangu foi envelhecendo, até morrer (no que se parece com os deuses gregos e, especialmente, nórdicos, também eles mortais, como vimos em partes anteriores deste longo artigo); de suas últimas respirações nasceu o vento; de seus olhos, o Sol e a Lua; de sua cabeça, as montanhas; dos seus músculos, os campos férteis; das pulgas que o habitavam, os animais e cada parte de seu corpo foi originando outros elementos do Universo, a partir da ação dos seres místicos acima mencionados, os dragões.
A título de informação, I Ching, que quer dizer “Livro das Mutações”, uma importante obra literária da filosofia chinesa tradicional que teve seus primeiros volumes compilados por volta de 1.200 a.C., composto por 64 complexos hexagramas (figura geométrica composta pelo entrelaçamento de dois triângulos). O I Ching é tão importante que influenciou duas das maiores filosofias de vida chinesas, além do Budismo, que são tidas e vividas quase como religiões:
1 – o Taoísmo, que significa “caminho do equilíbrio”; prega que o ser humano deve viver em harmonia com a Natureza, posto ser parte dela e não deve, por isso, dissociar-se dela unilateralmente; no mais, o Taoísmo prega ideias comuns a várias religiões, como humildade, generosidade, simplicidade e não violência e
2 – o Confucionismo, que é, segundo seu criador, por assim dizer, o filósofo Kun Fu Tzu ou, como o conhecemos, Confúcio (estima-se que tenha vivido entre 550 a.C – 478 a.C), uma filosofia de vida, muito mais do que uma espécie de religião, que estabeleceu um elaborado sistema moral e ético de vida individual, política e social, em geral, e de reverenciamento da ancestralidade e dos valores tradicionais (em artigo passado, neste Portal ArteCult, publicamos uma série de artigos, “A vida e as religiões”, onde este tema, e outros correlatos, podem ser um tanto mais aprofundados).
Visões alternativas e complementares
Os deuses chineses moravam no céu, mas em níveis diferentes e tanto mais alta seria a moradia de um deus, quanto maior fosse o seu nível hierárquico no panteão. Yu-ti ou Augusto de Jade ou Pai do céu era o Supremo Imperador e residia com sua corte em um suntuoso palácio localizado no topo do andar das moradias dos deuses a ele subordinados. Yu-ti criou os demais deuses e deusas, bem como todo o universo, a Terra e a vida. Ele também aparece, em algumas versões, como Shangdi ou Tian.
Para criar os homens, a partir do barro/argila (tal como na bíblia católica, para os Maias etc., conforme visto em partes anteriores deste longo artigo); os homens foram moldados e deixados para secar ao Sol. Neste meio tempo, começou a chover e Yu-ti correu para retirar suas criaturas das águas; as que conseguiram ser salvas, ficaram saudáveis, e as que não conseguiram, originaram as doenças que nos afetam até os dias de hoje. Yu-ti era casado com Wang-um-niang-niang, chamada de “Rainha Mãe Wang”, que adorava servir pêssegos especiais em seus banquetes, que amadureciam a cada 3 mil anos, daí os pêssegos serem considerados, até hoje, símbolo de longevidade para os chineses.
Outro deus importante chamava-se Lei-kong ou “Senhor do Trovão” (como Zeus e Thor) e é representado como um ser de corpo azulado, com garras no lugar dos dedos dos pés, asas, um rosto disforme e armado com uma machadinha e com uma adaga. Era um deus que castigava os criminosos, sendo associado, assim, à justiça. Todos os que faziam o mal, homens encarnados, espíritos ou animais que tivessem assumido a forma humana, todos eram por ele punidos. Conta a lenda que um caçador foi pego de surpresa em uma floresta por uma forte tempestade. Olhou para uma árvore muito alta e viu uma criança segurando um estandarte de pano e madeira que estava sujo e foi posto, pela criança, entre ela e Lei-kong, que odiava sujeira. O caçador, achando que o Senhor do Trovão iria punir a criança, resolveu intervir e acertou o estandarte, abrindo caminho para o trovão destruir a árvore e a criança junto. O raio foi tão forte que o caçador desmaiou; quando acordou, não viu a criança, mas sim um lagarto morto e descobriu que ele havia assumido a forma de uma criança para a prática do mal. O lagarto passou, deste modo, para alguns, a ser um símbolo do mal.
Cheu-sing era o Deus da Longevidade, que concede, ou não, a privilégio do envelhecimento; é sempre representado como um homem baixinho, gordinho, careca e com longos bigodes; em algumas imagens, aparece segurando um pêssego, que, como visto, é o símbolo chinês da imortalidade e/ou acompanhado por animais como a tartaruga, que vivem muito tempo. A crença era a de que o deus registrava, já no nascimento de cada ser humano, a data da sua morte, mas ele poderia prolongá-la ou antecipá-la, conforme seu desejo e o estilo de vida que a pessoa levava, pois, como diz o ditado popular chinês, tudo o que é escrito pode ser apagado. Conta o mito, por exemplo, que um garoto que estava destinado a morrer aos 19 anos, ganhou vida até os 90, pois, além de ter tido uma existência justa, ofereceu uma garrafa de vinho ao deus. Em cada aniversário é comum um chinês rezar e acender velas e/ou fazer oferendas à Cheu-sing para que sua vida seja alongada.
Wen T´chang era o Deus da Literatura e do Conhecimento. Diz o mito que um rapaz rezou ao deus por conhecimento para uma prova, para uma segunda prova, posto que na primeira havia se dado mal. Ele teria sonhado com o deus ateando fogo em muitos papéis e, em seguida, lhe mostrado um texto, que o rapaz decorou. No dia da prova, dia seguinte ao sonho, o rapaz soube que a casa onde as testes haviam sido guardados pegara fogo. O rapaz, então, ao transcrever o texto do sonho, foi aprovado.
Kuan-yin ou Pi-hia-yuan-kiun é uma deusa vinda do Budismo. O mito diz que, sentada em uma Flor de Lótus, era a Deusa das Mulheres e da Fertilidade; também conhecida como “Princesa das Nuvens” ou “Santa Mãe”. Era tida como espécie de curandeira e, por esta razão, era, igualmente, Deusa da Saúde, da Cura e da Misericórdia.
Cai-shen era o Deus da Prosperidade e da Riqueza; muitos rezavam para o deus os ajudar nos caminhos do enriquecimento e da fartura; no 5º dia do calendário lunar chinês e no ano novo chinês, recebe, até hoje, várias oferendas.
Os Reis-Dragões
Depois de Yu-ti, são quatro, os deuses mais importantes, dentre os dragões eram Nagao Kuang, Nagao Juen, Nagao Chen e Nagao Chin, cada um responsável por um dos quatro mares terrestres (assim conhecidos pelos chineses antigos) e, por esta razão, seus exércitos eram formados por criaturas marinhas; eles também controlavam as chuvas e por isso eram associados às águas, base da vida. Até hoje venerados, recebiam, antigamente, sacrifícios de animais para a garantia de chuvas para as plantações. O povo chinês, em boa parte, se diz, até os dias de hoje, descendente de dragões.
Alguns outros dragões, também importantes: Yinglong (dragão, Deus da chuva); Huanlong (dragão amarelo, o sábio); Fucanlong (dragão do submundo que guardaria tesouros; sua saída para a superfície provocava as erupções vulcânicas); Dilong (dragão da terra, da superfície); Tianlongs (dragões celestiais que puxariam as carruagens dos deuses e guardariam seus palácios); Li (dragão dos mares) e Jiao (dragão dos pântanos).
Animais Celestiais. Assim eram os guardiões dos pontos cardeais; eram muito importantes no panteão chinês, por serem os responsáveis pelas estações do ano.
1 – Dragão Azul do Leste – também chamado de Qinglong; associado à primavera e às florestas; é tido como o mais nobre dos animais, sendo, por isto, o líder deste grupo; tem como características a justiça, a benevolência e a fartura.
2 – Pássaro Vermelho do Sul – também chamada de Zhuque; é associado à Fênix (Egípcia e Grega, conforme vimos em partes anteriores deste longo artigo), ao verão e ao fogo; tida como representante do feminino, fazia par com Qinlong e, por isso, os imperadores chineses tinham em seus brasões e quimonos, Qinglong, enquanto as imperatrizes e concubinas favoritas, bordavam a Zhuque; era e é símbolo da sorte.
3 – Tigre Branco do Oeste – também chamado de Baihu, ligado ao outono e aos metais, era símbolo da força e da coragem; por esta razão, também era associado às forças armadas; pelo mesmo motivo, também protegia os espíritos bons, dos maus.
4 – Tartaruga Negra do Norte – também chamada de Xuanwu ou Pak Tai ou Bei Di, ligada ao inverno e à água; poderia, também, proporcionar sabedoria e longevidade; retratada com uma serpente envolvendo seu corpo, tinha poderes de adivinhação e de previsão do futuro e por isso havia Oráculos (lugares sagrados) em sua homenagem; seu casco era um portal para o oculto.
Na China, ao contrário do Ocidente, os dragões eram e são tidos como seres bondosos e generosos, e não malvados. Híbridos de serpente, tigre, peixe, veado e água, eram seres, como visto acima, nobres, tanto que ornavam imperadores e imperatrizes, além de outros membros da classe dominante chinesa. Yu-ti, o Deus maior chines teria, segundo algumas versões mitológicas, ele próprio, um dragão.
A “rainha mãe do oeste” chamava-se Wi Wangmu, que detinha o segredo da vida eterna e guardava as portas do paraíso; era uma deusa feroz, uma tigresa e que costumava enviar pragas para o mundo; vivia em um palácio de Jade (bela pedra preciosa verde).
Houve oito imortais, reverenciados na Dinastia Yuan ou Sung como líderes do Taoísmo: He Xiangu; Cao Guojiu; Tie Gualili; Lan Caihe; Lu Dongbin; Han Xinag Xi; Zhang Guo Lao e Zhongli Quan.
Quatro imperadores sagrados, tidos como reis celestes no Taoísmo: 1 – O Imperador de Jade (governante do universo); 2 – O Imperador Beiji Dadi (governante das estrelas); 3 – Tianhuang (governante dos deuses) e 4 – Imperatriz da Terra.
A China antiga passou por várias Eras, como a que ficou conhecida como dos “Três Augustos e Cinco Imperadores”, que se constituíram em um lendário grupo de legisladores que atuou, estima-se entre 3.000 a.C. e 2.000 a.C. Os três augustos teriam sido: Fu Xi; Shennong (“fazendeiro divino”, teria ensinado aos homens a agricultura e a medicina) e Huangdi (“imperador amarelo”, teria sido o primeiro soberano do país unificado). Os cinco imperadores eram: Shaohao (era o líder do povo “Dongyi” ou “Bárbaros do Leste”); Zhaunxu (era neto do Imperador Amarelo), Ku (era bisneto do Imperador Amarelo e sobrinho de Zhuanxu), Yao (filho de Ku) e Shun.
A mitologia chinesa é mais uma a compartilhar com as mitologias católica, judaica, muçulmana, grega, maia e sumeriana, entre outras, de um tempo passado quando a humanidade foi dizimada por um dilúvio ou por uma grande enchente. O soberano chinês Da Yu, com a ajuda da deusa Nu Wa, ajudou a escavar os canais que controlaram a inundação e permitiram à população aprender a cultivar a terra. Todo este arcabouço mitológico vigiu, inquestionável, até o final da monarquia chinesa (1911), mas ainda hoje, muitos acreditam nele.
Algumas divindades importantes, de origem budista, são: Guan ou Kuan Yin (deusa da compaixão e da piedade); Hotei (Deus da alegria e da fortuna); Dizang (Deus da morte); Yanluo ou Yama Raja (governante do submundo/inferno) e Shi Tennô. Essas divindades são tidas como os quatro reis celestes, guardiães da humanidade. O número “4” aparece bastante na mitologia chinesa.
Algumas (outras) criaturas mitológicas (importantes)
Fenghuang (é a Fênix chinesa); Ji Guang e Jian (aves místicas com um só olho e uma só asa; uma dependia da outra; era uma simbiose); Jingwei (pássaro místico que tentou encher os oceanos com gravetos e seixos; originariamente, era uma princesa, filha do Imperador Yandi, que morreu afogada no mar do leste; ela decidiu renascer como pássaro para levar os gravetos e os seixos para evitar que outros morressem como ela); Shang-yang ou Jiu Tou Niao (ave de nove cabeças que sequestrava crianças); Shi Shuang (ave aquática mitológica, similar ao Grou – ave penosa de grande porte, com pernas e pescoços longos, em geral, brancas, cinzas e morrons; é tida como símbolo de sorte e longevidade); Peng (ave mitológica gigante); Qing Niao (mensageiro dos deuses); Zhu (ave de mau presságio; algo como o Corvo); Ba She (cobra mitológica que engole elefantes); Qilin ou Kirin (animal quimérico que traria boa sorte, com aparência semelhante à uma girafa); Kui (monstro parecido com um touro, tendo, contudo, uma só perna); Jiang Shi (vampiro chinês); Luduan (fera que pressenteria a verdade; por isso, vários imperadores tinham sua representação acima de seus tronos); Yaoguai (espírito maligno; demônio); Hulijings (espíritos de raposas e podiam assumir a forma humana); Nian (animal marinho e que vinha à Terra no ano novo para devorar humanos; alguns estudiosos afirmam que os fogos de artifício foram criados para assustá-los, e a outros monstros, e dizia-se, também, que eles não gostavam de vermelho); Cabeça de Boi ou Cara de Cavalho (mensageiros do submundo); Rui Shi (leões que protegiam a entrada de palácios, tumbas e templos, dos espíritos dos nobres e suas riquezas; o macho protege a propriedade e a fêmea, as pessoas); Pi Xie (tem muito apetite por ouro e prata, atraem boa sorte; semelhantes, na aparência, aos Rui Shi); Xiao (espírito das montanhas); Xiezhi (fera de um único chifre) e Xiag Tian (gigante sem cabeça, que foi decapitado pelo Imperador Amarelo, como punição por desafiá-lo; o rosto foi posto em suas costas e devorava pessoas).
Alguns lugares mitológicos
Xuanpu (montanha chinesa encantada); Yaochi (morada dos imortais); Fusang (ilha mitológica; alguns interpretam como sendo o Japão); Que Qiao (ponte natural formada por pássaros, ao longo da Via Láctea); Penglai (ilha lendária no mar da China, onde ficaria o paraíso); Longmen (portão do paraíso, guardada por um dragão) e Di yu (submundo chinês).
Os mitos chineses são narrados em vários textos antigos: Shan Hai Jing; Shui Jing Zhu; Hei´na Zhuan; Shangshu, shiji, Liji, Lushi e Chunqiu. Como um todo, as crenças orientais, no geral, e a chinesa, em particular, trabalham bastante com a ideia de energia universal, como bem o demonstram a Acupuntura (complexa forma de tratamento de doentes, mais do que de doenças, baseada em introdução de agulhas em pontos energéticos do corpo, ou do Feng Shui, que é uma antiga prática chinesa que tem por objetivo eliminar as energias negativas dos ambientes em que vivemos, mudando a chave, digamos assim, para que nossos espaços de vivência sejam mais harmônicos, baseando nos cinco elementos fundamentais: terra, água, ar, fogo e metal).
O povo chinês compõe uma das principais nações do mundo atual, e a presença humana naquela região remonta ao período Neolítico. A Antiguidade chinesa foi marcada pela existência de diversas dinastias que governaram o país até o começo do século XX. As primeiras três dinastias da China foram as seguintes: Xia (2070–1600 a.C.); Shang (1600–1046 a.C.) e Zhou (1046–256 a.C.). Outras dinastias importantes foram a Han (2026 a.C), a Ming (1368-1644) e a última, a Qing (1644-1912).
A China é o resultado, hoje, da História de uma das mais antigas civilizações humanas que, constam de pesquisas, remonta ao período Neolítico, que vigiu, por assim dizer, aproximadamente entre 7.000 e 2.500 anos antes de Cristo e foi um período muito rico para a humanidade, com transformações que nos levaram a sermos sedentários, a partir da agricultura, com rica profusão de arte rupestre, dentre outras muitas mudanças que nos moldaram, enquanto seres humanos, tanto que alguns pesquisadores chegaram a cunhar o termo “Revolução Neolítica”.
Passando pelas muitas dinastias e outras, passando pela Revolução Comunista, até os dias atuais, quando muitos a intitulam como um “Capitalismo de Estado”, ainda que Comunista, nominalmente, sendo governada de modo bastante centralizador, a China é, hoje em dia, a segunda maior economia do mundo e um dos países mais poderosos do planeta. Porém, nada disso impediu de ser um povo com rica história e que muito nos influencia.
Para onde vamos viajar, agora? Continuaremos nosso passeio pelo Extremo Oriente. Japão, nos aguarde!
Carlos Fernando Galvão,
Geógrafo, Doutor em Ciências Sociais e Pós Doutor em Geografia Humana
Bibliografia de consulta e sugerida para aprofundamento
SEGANFREDO, Carmen. As melhores histórias da Mitologia Chinesa. Porto Alegre: Editora L&PM, 2013.