Mitologias pelo mundo, além da grega: a história de todos nós – Parte II

Mitologias pelo mundo, além da grega: a história de todos nós – parte II 

                                                                                                                                          Qualquer virtude levada ao seu extremo converte-se no seu contrário.    Paulo Nogueira Batista Júnior, economista brasileiro

Na primeira parte deste longo artigo sobre mitologias pelo mundo, frisei que, a despeito de sermos remetidos aos gregos antigos, (quase) sempre que ouvimos ou lemos a palavra “mitologia”, há, pelo mundo, várias outras mitologias e para isso me propus, com prazer, a buscar algumas outras histórias de origem dos povos, bem como seu panteão (o conjunto de deuses de uma religião), posto que muitos, quase todos, os nossos mitos dizem respeito às histórias e lugares sociais dos deuses que cada povo cultua. Contudo, não é possível negar, ao menos na civilização ocidental da qual fazemos parte, que a mitologia da Grécia Antiga é a que mais conhecemos, a que mais nos influenciou a ser o que somos, hoje, como sociedades.

No mito grego da criação, o Deus Caos originou Gaia (Terra), Urano (Céu) e o Mar. Gaia e Urano, por sua vez, casados, geraram os famosos Titãs (12 gigantes poderosos e imortais; 6 homens e 6 mulheres, que casaram entre si e deram origem a vários seres da mitologia grega), os Ciclopes (no total de 3; gigantes imortais com um único olho no meio da testa e que auxiliavam Hefesto em seus inventos e criações, como o raio de Zeus, o tridente de Poseidon e o capacete de Hades, que o tornava invisível) e os Hecatônquiros (eram também gigantes, com 50 cabeças e 100 braços, e irmãos dos Titãs, filhos de Urano e Gaia). Os Titãs – o mais forte deles era Cronos (tempo, em latim) foram derrotados por Zeus, Poseidon e Hades, filhos de Cronos com Reia, que era sua irmã e esposa, e se tornaram os primeiros deuses a morar no Monte Olimpo, sendo por esta razão chamados de Olimpianos. É uma mitologia riquíssima.

Previamente, contudo, a mitologia grega tem uma característica muito interessante, que é o fato de que os deuses deles eram… humanos, por assim chama-los, em suas personalidades: sentiam amor e ódio; empatia e inveja; eram corajosos, porém vingativos e por aí vai. Suas características eram tão exacerbadas que praticamente tudo na mitologia grega leva às tragédias várias que conhecemos, em nítido processo de acirramento de suas personalidades, como nos mostrou a frase do professor Paulo Nogueira, em epígrafe.

Este preâmbulo é para dizer que, pelo motivo ora alegado, e depois da primeira parte do artigo em que procurei fazer certa contextualização do ambiente cultural em que as mitologias planetárias foram criadas, esta segunda parte versará, especificamente, sobre a mitologia grega. Também pelo mesmo motivo, e pelo fato de que é a mitologia que tem mais material disponível para consulta, e, de novo, não sendo eu, um especialista na área, será a parte mais extensa. Para esta parte do artigo, e apenas nesta parte, especificamente, além da bibliografia que trago ao final, me vali de um resumo que fiz, de artigos de duas pesquisadoras: a professora de Arte Educação, Fotógrafa e Artista Visual Laura Aidar e a professora Carolina Marcello, Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes. Então, sem mais delongas e, a partir dos textos das professoras, iniciemos a viagem pelas mitologias mundiais, a partir da mitologia grega. Vejamos 16 mitos gregos e outras pequenas histórias. Vamos aos helênicos!

1. O Mito de Prometeu

Os seres vivos na Terra, plantas, animais e pessoas, foram criados, por dois irmãos, dois Titãs, Prometeu (“aquele que vê antes) e Epimeteu (“aquele que vê depois”). Mais rápido, Epimeteu, ao criar os animais, deu-lhes força, agilidade e capacidade de voar, entre outros atributos, o que fez com que, ao criarem as pessoas, quase todas as virtudes estivessem indisponíveis, já que haviam sido atribuídas aos animais. Solidário com a humanidade, no entanto, Prometeu roubou o fogo dos deuses, que para muitos representou, na história, o conhecimento e a consciência humanas. Esta atitude irritou Zeus, o deus maior dos olimpianos, que acabou por condenar Prometeu, mesmo que este o tivesse ajudado a derrotar em batalha outro Titã, Cronos, pai de Zeus, a ter o fígado devorado de dia, por uma águia gigante o qual, uma vez regenerado de noite, era novamente devorado no dia seguinte. Prometeu foi acorrentado por Hefesto, Deus do Fogo e da Metalurgia, inventor e ferramenteiro, a mando de Zeus, no Monte Cáucaso, entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, que separa a Europa da Ásia. Zeus e outros deuses não admitiam que a humanidade tivesse a mesma sabedoria que eles.

Prometeu foi salvo do castigo, depois de muito tempo, pelo herói Hércules que, ao derrotar o também o imortal Centauro Quíron (ser com corpo de cavalo e Homem, da cintura para cima; filho de Cronos e de Filira, filha do Oceano), o pôs no lugar de Prometeu, embora em outra versão, Quíron tenha se sacrificado para garantir o fogo à humanidade. Como em todas as mitologias, muitas transmitidas por via oral, há mais de uma versão para a mesma história ou personagens.

Na Psicologia, Prometeu e Epimeteu representam as dualidades humanas, como aquele que faz com que uns ajam com sensatez, discernimento e previdência (os que “veem antes”) e outros, com impetuosidade, irrefletidamente e de modo perigoso (os que “veem depois”). O castigo de Zeus pode significar, segundo as professoras Laura Aidar e Carolina Marcello, a ira dos poderosos em face de desobediências várias dos que lhe são subordinados. Por fim, segundo elas, o sacrifício (“tornar sagrado”) pode, em algumas interpretações, levar à valorização desta atitude e a figuras como Jesus, na mitologia cristã. As mitologias se entrecruzam e isso ficará muito claro, já deste esta parte do artigo, e ainda mais até a última parte, que a de número 15, já no final deste ano de 2024 ou, no mais tardar, início de 2025.

2. O Mito da Caixa de Pandora

Esse mito, no entender das professoras, guardaria certa continuação com o de Prometeu porque, antes de ser castigado, ele teria alertado seu irmão, Epimeteu, a nunca, como um Titã, aceitar um presente dos deuses, posto o fato de que os deuses seriam, também, dentre outras características, vingativos. Contudo, apaixonado, Epimeteu aceitou Pandora (“aquela que tem dons”) como esposa. A mulher, segundo os gregos antigos, Pandora, no caso, a primeira mulher existente, fora criada por Hefesto, a pedido de Zeus, para se vingar dos irmãos. Ao lhe ser entregue, Pandora levou uma caixa, criada por Hefesto, tendo sido instruída para nunca abri-la, mas ao ser criada, a mulher teria recebido curiosidade infinita e certa necessidade de desobediência, daí terem, segundo o mito, que ser vigiadas (na mitologia Hindu, por exemplo, teremos uma parte dedicada apenas a ela, o deus maior indiano, Brahma, é representando em uma cabeça com 4 rostos, para poder olhar para todos lados e vigiar sua mulher). Um dia, não aguentando de curiosidade, nesta versão do mito (há outras), Pandora abriu a caixa e dela emergiram todos os males, como a tristeza, o sofrimento, as miséria, a inveja, as doenças etc. Esta foi a vingança dos deuses pelo fato de Prometeu ter entregue à humanidade, o fogo da sabedoria. Por sorte, Pandora conseguiu fechar a caixa antes que a esperança também fugisse e, assim, a esperança manteve-se conosco; os males da humanidade, deste modo, segundo o mito grego, e posteriormente, com os católicos e com os judeus, tiveram sua origem com as mulheres.

Há um paralelo possível entre Pandora, primeira mulher a viver na Terra, e  Eva, ou Lilith, ambas personagens bíblicas do Antigo Testamento Católico. A título de informação, a Bíblia é formada por um total de 66 livros, dos quais 39 pertencem ao que, hoje, conhecemos por Antigo Testamento (onde Deus era raivoso e mudou, da água para o vinho, depois) e, claro, os restantes 27 foram escritos depois de Cristo e compõem o Novo Testamento (quando Deus largou a vingança e se tornou um ser pacífico, para dizer o mínimo). Os 5 primeiros livros do Antigo Testamento, a saber, o Gênesis, o Êxodo, o Levítivo, o Números e o Deuteronômio compõem a Torá ou Torah judaica. Por esta razão, entre os católicos, a Torá também é conhecida como Pentateuco; 5 livros sagrados em comum entre católicos e judeus. Como complemento desta informação, os Evangelhos (4 no total), a palavra quer dizer “a boa nova”, foram escritos após a morte de Cristo, por João, Mateus, Lucas e Marcos (o único deles que não fora, antes, discípulo de Cristo) e versam sobre passagens da vida daquele que os católicos chamam de “filho de Deus” e que os judeus e os muçulmanos, embora assim não o considerem, o têm como um profeta, como um “homem sagrado”. As mitologias começam, belamente, a se cruzar.

3. O Mito de Sísifo

Sísifo foi um dos primeiros reis da cidade grega de Corinto e testemunhou o rapto de uma mulher mortal, chamada Egina, filha de Asopo, o Deus dos Rios, por uma águia, a mando de Zeus. Vendo o desespero do deus aquático, Sísifo relatou o que viu à Asopo e pediu em troca, uma fonte de água em suas terras, que eram muito secas. Zeus, ao descobrir o ocorrido, enviou Tânatos, Deus da Morte, para busca Sísifo que, astuto, ofertou à Tânatos, um colar, que na verdade, era uma corrente e o aprisionou. Como mais nenhum mortal morreu e foi conduzido, assim, ao Tártaro, o Submundo onde reinava Hades, Ares, Deus da Guerra, se enfureceu e libertou Tânatos para que, então, este matasse Sísifo, que escapa até a velhice, mas como mortal, não escapa da morte e de Tânatos. Assim, finalmente é punido por Zeus, sendo condenado a carregar por toda a eternidade uma enorme pedra ladeira acima; quando alcançava o topo, a pedra rolava e, mais uma vez, Sísifo deveria levá-la ao topo, em um trabalho cansativo e inútil, por toda eternidade.

Na Psicologia, segundo as autoras, este mito pode representar, além de castigo à desobediência, um alerta para trabalhos cansativos, repetidos e sem objetivos dos seres humanos. O filósofo, escritor e jornalista franco-argelino Albert Camus (1913-1960) comparou o Mito de Sísifo a uma representação da inadequação do ser humano a um mundo “sufocante e absurdo” e pregou a necessidade de libertação das pessoas ao que as oprime; Karl Marx (1818-1883) propugnava pelo fim de nossos “grilhões” que oprimia (e ainda o faz) à classe trabalhadora .

4. O Mito do Rapto de Perséfone

Perséfone (em latim, Prosérpina) era filha de Zeus e de Deméter ou Ceres (em latim, daí “cereal”), Deusa da Fertilidade e das Colheitas e era muito ligada à mãe. Um dia, saiu para colher flores, na Terra e foi raptada por Hades, encantado que ficou com sua beleza; ele a queria para sua esposa, sentindo-se solitário no Tártaro. Perséfone, que não comia há dias, com fome, acabou por comer uma romã, induzida por Hades; ela não sabia que, quem comia a comida dos mortos, jamais poderia deixar o Submundo e, por esta razão, ficou presa à Hades.

Desesperada, Deméter desceu à Terra para procurar a filha, que lá havia sido vista e Hélio, o Deus Sol, relatou que viu o rapto e onde Perséfone estava. Deméter, como deusa imortal, desce ao Tártaro para exigir a devolução da filha ao seu convívio. Revoltada, interrompeu o crescimento das plantações até que a filha retornasse ao seu convívio. Com a humanidade morrendo de fome, Zeus buscou um acordo (um tanto parecido com uma “divisão salomônica”): a moça ficaria metade do ano no Submundo, com Hades, e metade com sua mãe e assim nasceram as estações do ano. Quando com Hades, a Terra vivia o inverno e o outono; quando com a mãe, o verão e a primavera. Assim, Perséfone se tornou a Deusa do Submundo e Rainha das Profundezas, governando o Tártaro junto com Hades.

Na Psicologia, para as autoras, Perséfone representa certo arquétipo da intuição, da introspecção e da sensibilidade e o “submundo”, no caso, está associado ao inconsciente e à interiorização, ou seja, a importância de mergulharmos em nosso mundo interior, mas sempre retornar à superfície para levar aos outros, a sabedoria que construímos neste processo imersório.

5. O Mito da Origem da Medusa

Medusa era uma bela e desejada sacerdotisa de Atena, Deusa da Sabedoria, da Guerra e dos Ofícios. Atena e Poseidon, Deus dos Mares, Rios e Lagos eram deuses rivais. Um dia, para provocar Atena, uma deusa virgem e que exigia o mesmo estado de “pureza” de suas sacerdotisas, vai atrás de Medusa e com ela tem relações sexuais dentro do templo de Atena, o que enfureceu a deusa, que amaldiçoou Medusa a se transformar em um ser horrível, uma cobra ou dragão (a depender a versão do mito), com cabeça de mulher, mas com os cabelos de serpente e que transformava as pessoas que para ela olhassem nos olhos, em uma estátua de pedra. Desta união improvável, nasceu o gigante Crisaor, filho de Poseidon e Medusa; uma segunda versão atribui Criasor como cria no sangue de Medusa, ao pingar no chão, após Perseu a mata-la.

Medusa, assim, se transformou no que os gregos chamavam de “Górgona” (do grego “górgos”, que significa “terrível” ou “selvagem”; seres femininos monstruosos;). Personificando os medos e os males da humanidade, as irmãs Górgonas, Euríale, Esteno (amaldiçoadas, igualmente) e Medusa, viviam isoladas do resto do mundo, sendo vigiadas e protegidas pelas Gréias, que também eram suas irmãs e já nasceram velhas, com apenas um olho que precisavam partilhar.

Medusa foi morta pelo herói grego e semideus Perseu, filho de Zeus e da mortal Dânae. O pai da moça ou, em outras versões, o marido, não aceitou a situação a mandou matá-la, junto com o filho, Perseu, mas Zeus os salvou. Criado pelo Rei da Ilha de Sérifo, Polidecto, que, no entanto, temeu a condição de semideus de Perseu e o mandou matar a Medusa, achando que ele morreria, o que não só não aconteceu, como ainda matou a górgona. Da cabeça decepada de Medusa, nasceram, de seu sangue, Pégaso, o cavalo alado, e, como relatado acima, em segunda versão, Crisaor. Perseu usou a cabeça da górgona para vencer Atlas, outro Titãs dos tempos antigos e também um enorme monstro marinho que estava prestes a devorar Andrômeda, que se tornou sua esposa. Mais tarde, ele entregou a cabeça de Medusa a Zeus que a “colou”, em uma versão, que o pintou, em outra, ao seu escudo, criado por Hefesto, e que se chamava Égide – a palavra “égide” significa, não à toa “amparo; aquilo que oferece proteção”.

Na Psicologia, alguns atribuem o mito de Medusa ao fato de que, muitos, culpam a mulher pelo assedio sofrido e que a ela pode se transformar em um monstro, mesmo quando é tomada à força por um ser masculino. Por esta razão, muitas feministas transformaram Medusa no símbolo contra a opressão de gênero e a violência sexual. A transformação em pedra representa, para alguns, simboliza a fúria feminina contra a objetificação de mulher.

6. O Mito dos Doze trabalhos de Hércules

Hércules (ou Héracles, em latim), um dos muitos filhos de Zeus com uma mulher mortal (o apetite sexual de Zeus era enorme, simbolizando, para a muitos, a libido infindável do homem, como gênero), o que levava sua esposa, Hera, a ter várias crises de ciúme e raiva. Em um desses acessos, mandou uma serpente para matar o menino Hércules que, no entanto, mostrando sua ascendência, estrangulou o bicho. Hércules foi perseguido pela deusa por toda sua vida, até o levar a assassinar a esposa e os filhos, em um surto psicótico. Ao retornar ao normal, arrependido, Hércules procurou o Oráculo de Delfos para saber o que fazer para se redimir e recebeu como resposta que fosse até Euristeu, rei da cidade de Micenas, e a ele se subordinasse por um tempo, sem dizer, exatamente, quanto tempo seria. O soberano lhe ordenou que cumprisse doze tarefas impossíveis aos reles mortais, enfrentando terríveis criaturas, tornando-se, inclusive, a inspiração para a força que todos temos que ter e da expressão “trabalho hercúleo”. Foram elas enfrentar e matar: o Leão da Nemeia; a Hidra de Lerna; a Corça de Cerineia; o Javali de Erimanto; os Pássaros do Lago Estínfalo; as cavalariças do Rei Aúgias; o Touro de Creta; as Éguas de Diomedes; o Cinto da Rainha Hipólita; os Bois de Gérion; as Maçãs de Ouro das Hespérides e o Cão Cérbero. Esses doze trabalhos foram narrados em um poema épico escrito em 600 a.C. por Peisândro de Rodes.

7. O Mito de Eros e Psiquê

Eros ou Cupido era filho de Afrodite (ou Vênus, em latim), Deusa do Amor, que soube que, na Terra, havia uma mortal, chamada Psiquê (daí a palavra designar a mente ou a consciência humana ou, ainda, o espírito humano) que era tida, pelos homens que a conheciam, como tão bela quando ela, deusa, tanto que muitos lhe prestavam homenagens por isso. Ser comparada, pela beleza, a uma mortal, enfureceu Afrodite, que mandou, em uma versão, que seu filho lançasse contra ela uma de suas flechas, para que ela se apaixonasse pelo homem mais feio com o que se deparasse; em outra versão, a deusa teria impedido que a jovem se casasse, posto que fez saber a todos sua raiva e isso inspirou medo nos homens mortais. Na primeira versão, Cupido teria se ferido com sua própria flecha do amor, impressionado que teria ficado com a beleza de Psiquê; na segunda versão, a família da jovem, consultado uma sacerdotisa do Oráculo de Delfos, recebeu a notícia de que Psiquê deveria ser presa no alto de uma montanha para que um monstro a desposasse e, Cupido, que se apaixonou por ela, a salvou – para si mesmo, no final das contas.

Psiquê passou, então, salva por Cupido, a viver em sua companhia, em um castelo para onde foi conduzia por Zéfiro, o Deus Vento, que o filho de Afrodite mandou construir apenas para ela, Psiquê, porém, com a condição de que ela nunca visse seu rosto (de deus), para que não soubesse que seria ele seu salvador, posto o fato dele ser o filho da deusa que havia amaldiçoado e Eros não queria contrariar a mãe. No entanto, a curiosidade feminina excessiva, como a consideravam os antigos gregos, tomou a jovem e um dia ela quebrou a promessa, olhando o rosto do amado. Em outra versão, esta quebra aconteceu por influência da inveja de suas irmãs, que não moravam em um castelo tão belo quanto Psiquê. Cupido ficou desgostoso e, com raiva, a abandonou.

Em depressão, Psiquê foi até a própria deusa Afrodite pedir para que ela interviesse e lhe concedesse, novamente, o amor de seu filho. A deusa, solicitou uma série de tarefas impossíveis para os mortais, mas que foram sendo cumpridas, com ajuda de outros deuses, também enternecidos com a beleza da jovem e com a história dela com Cupido. Sem alternativa, Afrodite, ardilosamente, passou, então, uma tarefa quase impossível, que fosse até o Tártaro (o mundo inferior; o inferno, na mitologia cristã) e pedisse um pouco da beleza de Perséfone. Esta, sabedora da inveja de Afrodite, deu à Psiquê uma caixa, com parte de sua beleza, mas também com um sono profundo, caso Psiquê a abrisse, o que ela fez, ainda que fosse advertida por Perséfone para que não o fizesse. Já arrependido, Cupido foi ao Tártaro e, com grande esforço, conseguiu retirar o sono profundo de sua amada, resgatando-a novamente. Ao retornar do Submundo com a encomenda, Psiquê pode finalmente reencontrar seu amado, em face da comoção que lhe causou, bem como em outros deuses e Afrodite, ainda que um tanto contrariada, também assentiu.

8. O Mito do nascimento de Afrodite (ou Vênus)

A mitologia conta que a deusa nasceu no interior de uma grande concha. Cronos (o tempo, daí a palavra “cronologia”) o maior dos Titãs das priscas Era da Terra, era filho de Urano (o céu) e Gaia (a terra). Um dia, para tomar o lugar de seu pai, castrou Urano, inicialmente, com a ajuda de sua mãe, em uma das versões, e o membro amputado do pai caiu nas profundezas do oceano. Do contato das espumas do mar com o órgão reprodutivo de Urano, foi gerada Afrodite, que já nasceu com uma beleza inigualável.

Na Psicologia, este mito representa o nascimento do amor entre o casal, bem como dos jogos eróticos inerentes à humanidade.

9. O Mito da Guerra de Troia

Tida, por muito tempo, como lenda, achados arqueológicos, desde o século XVIII para cá, atestam a existência, tanto de Troia, um sítio arqueológico da atual cidade de Hisarlik, quanto do conflito. Troia teria sido localizada na Península da Anatólia, hoje Turquia, a sudoeste do Monte Ida. A mitologia conta que a famosa Guerra de Troia foi um grande conflito que envolveu diversos deuses, heróis e mortais. Segundo a lenda, a origem da guerra se deu após o sequestro de Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau. Páris, príncipe de Troia, raptou a rainha e a levou para Troia. Assim, Agamenon, irmão de Menelau, reuniu esforços para, a pretexto de resgatá-la, assumir, também, o trono da cobiçada Troia. Entre os heróis que participaram da disputa e, futuramente, teriam suas próprias aventuras mitológicas, estavam os heróis Aquiles, Ulisses, Nestor e Ajax. A guerra durou, segundo consta, pouco mais de dez anos e foi vencida pelos gregos, conta-se, após a entrada de um enorme cavalo de madeira em território inimigo que carregava em seu interior inúmeros soldados. Este cavalo, oferecido pelos gregos aos troianos como um “presente”, seria oco e, dentro dele, soldados gregos teriam se escondido, saindo quando os troianos dormiam e teriam aberto o portão, invadida e tomando Troia, daí a expressão corriqueira “presente de grego”, em referência à guerra.

10. O mito de Narciso

Filho de Cefiso (um rio) e Liríope (uma ninfa – ninfas eram espíritos femininos, ligados a um local ou, mais comumente, a um objeto da Natureza, como árvores; seres semidivinos, eram mortais, embora pudessem alcançar a imortalidade por benesse de algum deus), Narciso nasceu dotado de uma beleza extraordinária, o que preocupou os pais, que acharam que isso poderia causar problemas ao filho e foram consultar o famoso Profeta Tirésias, que anuncia que o garoto viveria muitos anos se não visse sua própria imagem; todos os espelhos do castelo dos pais foram escondidos. Contudo, como o garoto, o adolescente e o homem, já adulto, passou a vida ouvindo elogios à sua grande beleza, um dia, ficou curioso para ver seu rosto e, para tanto, inclinou-se em um lago nas proximidades do castelo.  Ao ver a própria imagem, a qual considerou, concordando com a opinião geral, de imensa beleza, ficou enternecido consigo mesmo e apaixonou-se pela própria imagem, uma paixão tão arrebatadora que nem quis mais sair da beira do lago, nem para comer e morreu de inanição.

Segundo Ovídio, na obra Metamorfoses, Narciso era desejado por mulheres e homens da Grécia inteira. Até as ninfas lutavam por seu amor, mas Narciso era frio e soberbo, sempre indiferente às investidas amorosas e sexuais de que era o foco. Porém, Narciso, enternecido consigo mesmo, achava que nenhuma delas estava à sua altura e seu amor era ele próprio.

Eco e Narciso

Para que Zeus pudesse se encontrar com mulheres mortais, coisa comum, havia uma ninfa chamada Eco que, por sua ordem, distraía Hera, esposa de Zeus. Ao descobrir o subterfúgio, Hera ficou possessa e, expulsando Eco do Olimpo, condenou-a, também, a só se comunicar com as pessoas na Terra através da repetição do que as pessoas diziam. Apaixonada e sempre rejeitada por Narciso, a ninfa definhou na beira do mesmo lado que ele, transformando-se em uma pedra. Suas colegas, revoltadas com o ocorrido, rogaram à Nêmesis, Deusa da Vingança, por justiça. Foi neste instante que Narciso, em versão alternativa do mito, que até então não tinha se apaixonado por ninguém, apaixonou-se, como punição, por si mesmo, até morrer. É a representação do amor impossível.

Afrodite, compadecida, transformou Narciso em uma bela flor, que leva o seu nome e que, como ele teve, tem curto tempo de vida. A flor Narciso cresce inclinada para baixo e diz a lenda que isso é para lembrar a posição em que Narciso, o grego, para ficar mais perto de si mesmo, inclinou-se no lado e, fraco, morreu afogado. Esta morte é mais outra versão sobre a morte de Narciso.

Em uma quarta versão do mito de Narciso, a vingança teria sido causada por Amínias, um homem que ficou tão apaixonado por Narciso que, ao ser rejeitado, matou-se. Uma quinta versão atribui a morte por afogamento no rio, a queda de Narciso que, na verdade, sim, apaixonara-se por sua irmã gêmea; ela teria morrido e o que Narciso viu no reflexo do lago foi o reflexo do rosto dela e não dele, daí ele tentar alcança-lo e, com isso, ter se afogado.

Na Psicologia, Narciso virou representante de um ego superdesenvolvido, do orgulho, da vaidade excessiva e da individualidade exacerbadamente voltada para si mesmo (autoconsciência), tanto que virou popular o termo “narcisismo”, na Psicanálise, em referência ao mito, para se referir a uma pessoa muito autocentrada, o que, inclusive, pode levar a dificuldades de relacionamento com as outras pessoas. Há, até, um nome para este estado existencial: Transtorno de Personalidade Narcisista.

11. O mito de Aracne

Aracne era uma jovem tecelã muito talentosa e se vangloriava disso. A deusa Atena também era uma exímia tecelã e bordadeira e ficou com ciúmes da habilidade da mortal. Sempre, na mitologia grega, as tragédias acontecem por deuses tão falhos quanto nós, humanos, como a vaidade e a inveja, neste caso. Creio que esta questão nos oferta certa identificação com a mitologia grega.

Bem, Atena desafiou a jovem para uma competição de bordado. Aracne aceitou o desafio e, bordando denuncia dos maus tratos da humanidade, pelos deuses, o venceu. Atena, claro, ficou furiosa, destruiu o trabalho da rival e a transformou em uma aranha, condenada a passar o resto dos dias pendurada e fiando. Aqui, também podemos falar, novamente, da questão do castigo pela independência de pensamento e ação, perante à autoridade.

12. O mito de Dédalo e do voo/queda de Ícaro

Greek mythology vector illustration series, Icarus, he had a desire to fly as close to the sun as possible to reach heaven

Dédalo era um famoso “faz tudo” (arquiteto, escultor, pintor, inventor etc.) que servia o Rei Minos, na Ilha de Creta, na Grécia Antiga e tinha um filho chamado Ícaro. Poseidon presentou o Rei com um lindo touro branco e, no tempo em que era esperado que fosse sacrificado ao Deus dos mares, foi poupado pelo Rei, que desejou mantê-lo, por sua beleza (sempre a beleza enternecendo, mas também causando problemas para os gregos!). Para puni-lo, Poseidon fez com que sua mulher, Persífae, se apaixonasse pelo touro. Desesperada, ela implorou à Dédalo que inventasse um jeito dela copular com o animal e ele o criou (construiu uma espécie de escultura oca de uma vaca e levou o touro até ela), mesmo considerando uma abominação. Persífae deu à luz um ser híbrido, com corpo de homem e cabeça de touro, conhecido como Minotauro (o “touro de Minos”). Por esta razão, o Rei Minos prendeu Dédalo que, junto com seu filho, foi exilado no labirinto que mandara Dédalo construir para aprisionar a criatura nascida de sua esposa. A cada sete anos os Atenienses deveriam fornecer jovens para sacrificarem-se, sendo presos no labirinto do Minotauro o qual, posteriormente, foi morto pelo herói Teseu, mas essa é outra história, mais uma específica, dentre as muitas que podemos achar na mitologia grega, tanto quanto podemos achar, igualmente, em outras mitologias.

O fato é que Dédalo pensou em um jeito de sair do labirinto, construindo asas de cera e penas de pássaros que iam caindo do céu para que ele e o filho pudessem voar para fora, já que a saída era praticamente impossível de ser achada, até mesmo para seu criador. As asas, feitas com penas e cera, não poderiam chegar muito perto do sol, pois derreteriam, segundo Dédalo. O pai alertou Ícaro para que não voasse nem muito baixo, próximo ao mar, para não ser tragado pelas ondas, nem muito alto, próximo ao sol, para a cera não derreter, mas com sua impetuosidade juvenil, Ícaro desobedeceu o pai e, com as asas derretidas, mergulhou para morte, direto no mar. Podemos pensar neste mito como uma metáfora sobre a importância da ponderação e do bom senso e como devemos guiar nossas ideias e percepções para ações que sejam sejam seguras. Também podemos entender este mito como, outras vez mais, uma advertência para a importância da obediência e, por outro lado, de modo complementar, como devemos valorizar a sabedoria do mais velhos e/ou experientes e/ou mais sábios… enfim, sobre as consequências que nossos atos podem ter e/ou nos trazer.

13. O Mito do fio de Ariadne

Ariadne era a filha do Rei Minos, de Creta, e se apaixonou por Teseu, jovem ateniense que havia se oferecido para ser um dos sacrificados ao Minotouro, mas o fizera por acreditar que poderia mata-lo e libertar Atenas da maldição. Ariadne oferece à Teseu a única forma para sair do labirinto, uma solução que o próprio Dédalo ofertara a ela: um novelo de lã para marcar o caminho de volta (mas que não pode por em prática porque não lhe deixaram levar o novelo). Eis o que alguns conhecem como o “fio de Ariadne”, expressão que denota a busca por uma solução simples para um problema complicado. Ao voltar, vitorioso, Teseu e Ariadne se casaram, em uma versão; em versão alternativa, ele quebrou a promessa e se casou com outra mulher, em versão diversa.

Este “fio de Ariadne”, na Filosofia e na Psicologia, muitas vezes, segundo as autoras, além do que acima mencionei, é abordado como uma metáfora para a importância do autoconhecimento; pode simbolizar, também, um guia que nos ajuda a vencer grandes jornadas e desafios, reais ou psíquicos.

14. Mito de Atena (ou Minerva)

Em uma versão, temendo a profecia de que um filho com Métis, deusa da saúde e da prudência, tomaria seu lugar, Zeus teria engolido a menina Atena, deusa da inteligência, sabedoria, justiça e das artes, e depois de um tempo, começou a ter dores de cabeça horríveis. Não aguentando mais as dores e o mal estar, pediu para que o deus Hefesto abrisse seu crânio com um machado a fim de curá-lo e assim, de dentro da cabeça de Zeus, nasceu Atena, já adulta, vestindo roupa de guerra e mostrando-se racional e prudente. Em versão alternativa, Atena era a preferida de Zeus, tornando-se, inclusive, sua conselheira, pela sabedoria que lhe era peculiar.

15. Mito de Ártemis (ou Diana) e Apolo (um dos deuses mais populares do panteão grego)

Filha de Zeus com a titânide Leto, Ártemis, deusa da caça e da vida selvagem, era irmã gêmea de Apolo, arqueiro e tido como o deus mais bonito, era deus do Sol, da cura/medicina, das artes, especialmente da música, com sua lira, e das profecias, comandando todos os Oráculos. Nasceu um pouco antes que o seu irmão e presenciou as dores do parto de sua mãe. Esperta e independente, Ártemis ajudou a mãe a dar à luz a Apolo, se tornando sua tutora, e prometeu ao pai manter-se virgem para sempre, o que é interpretado como um símbolo de pureza (mais do que de algum tipo de ingenuidade ou timidez), embora alguns considerem da submissão das mulheres, aos homens. Ártemis vivia nas florestas, com as ninfas.

Apolo, além das características acima, tinha certo poder junto à Hades, seu tio e Rei do Tártaro ou Submundo, ou seja, tinha certo poder sobre a morte. Por ser um tanto rebelde, Apolo foi, como castigo, e por ordem de Zeus, servir como escravo, por uma década, do Rei Admeto. Apolo teve vários relacionamentos com mortais. Mulheres, embora seu maior amor tenha sido a Ninfa Dafne, filha do Rio Deus Peneu, que fugiu tanto dele que orou ao seu pai para que a salvasse e ela a transformou em uma árvore, hoje conhecida como Loureiro. Diz o mito que Apolo era tão apaixonado pela Ninfa que não conseguiu prever este futuro sem ela; ela teria se apaixonado ao ser acertado, meio sem querer, por uma flecha do Cupido, filho de Afrodite, mas Dafne, ao contrário, teria sido acertada por uma flecha de chumbo, o que a fazia rejeitar Apolo.

O deus Apolo também amou alguns homens, como o mortal Jacinto. Diz o mito que Apolo e Jacinto jogavam um esporte popular na Grécia antiga (e até hoje) de lançar um disco para frente. Apolo, com sua força e destreza, lançou o disco muito longe, sob o olhar admirado de Jacinto. Zéfiro, o deus do vento (o “vento do oeste”), também amava o jovem mortal e, com ciúmes da preferência dele por Apolo, mudou a direção do disco e fez com que ele acertasse, direto e com força, na cabeça de Jacinto, que caiu morto. Desesperado e sentindo-se culpado, Apolo entoou sua lira e, compondo uma bela música, do sangue de Jacinto, o fez renascer como uma linda flor, que recebe, até hoje, o nome de seu amado mortal.

Para muitos, Apolo representa a valorização da beleza, mas em paralelo, o cuidado que devemos ter para não recairmos, em nossas ações diárias, em certo “narcisismo”, para reduzirmos nossa soberba e sermos um tanto mais humildes.

16. O mito de Pigmalião e Galateia

Esta lendária história foi contada pelo poeta romano Ovídio e tem origem na Ilha de Chipre, onde Pigmalião era o Rei, além de ser um habilidoso escultor. Ele passava horas de seu dia dedicado à sua arte e não era casado, já que a má fama das mulheres da região, segundo os padrões dele, tinha lhe dado um certo desencanto pelo sexo feminino ou, ao menos, com um tanto de Narciso, não considerava nenhuma das cortesãs à sua altura. Determinado, deste modo, a não se unir a nenhuma mulher, esculpiu para si uma estátua de a donzela belíssima, dotada de diversos atributos que o encantaram quando terminou a obra, considerando aquela, sua melhor obra, a mais bela e mais perfeita, a ponto de apaixonar-se por ela. À estátua, deu o nome de Galateia. Pigmalião estava totalmente envolvido pela criação, dando-lhe presentes, colocando anéis em seus dedos, colares, joias, belas roupas, ofertando o bom e o melhor para aquela que agora tornara-se como que sua esposa adorada, como a chamava. O Rei cercava sua estátua amada de carinhos, beijos e carícias e não se conformava que aquela beleza fosse apenas de marfim. O fato de ser uma imagem sem vida entristecia cada vez mais o artista.

Certa vez, indo a Palea, para um grande festival dedicado a Afrodite, deusa do amor, da beleza, do desejo e da felicidade, Pigmalião fez suas homenagens e pediu que ela encontrasse para ele uma mulher igual à Galateia. A deusa, então, comovida com o amor de Pigmalião, não encontrando na terra mulher semelhante à Galateia, concedeu vida à estátua.

Um dia, quando tocou sua criação e a beijou, Pigmalião percebeu que ela estava viva; seus dedos tocavam uma pele macia e quente, e seus lábios beijavam lábios vivos. Quando a estátua, agora uma mulher de verdade, sentiu os beijos do amado, ficou ruborizada, abriu os olhos e viu diante de si um homem que a amava e imediatamente passou a amá-lo, em correspondência. Com as bênçãos de Afrodite, Pigmalião e Galateia casaram-se e tiveram dois filhos: uma menina chamada Metarme, de tão grande beleza que encantou Apolo, e Pafos, que deu origem à cidade de Pafos, em Chipre.

O mito de Pigmalião e Galateia é utilizado na Psicologia e Filosofia quando se fala sobre a idealização do ser amado, e que quanto mais desejado e perseguido, acaba por tornar-se personificado, assim como Pigmalião que tanto amou e desejou Galateia que conseguiu, por fim, que ela ganhasse vida.

Alguns outros Deuses do Olimpo ou Olimpianos, o Panteão Grego

Zeus – era o deus dos deuses e desempenhava um papel fundamental em toda vida humana; Hera – era a deusa protetora do casamento e da família. Também era esposa de Zeus e mãe de Ares e Hefesto;  Afrodite – era a deusa da beleza, do amor, do desejo e da fertilidade, sendo, igualmente, sagrada em religiões afro, como a umbanda e o candomblé, sendo conhecida como Oxum para alguns, como Iemanjá, para outros; durante a guerra de Troia, contudo, como manteve-se ao lado do exército troiano; Hefesto – era o deus do fogo e da forja/Metalurgia; inventor, foi o responsável, por exemplo, pela confecção da armadura de Aquiles e por salvá-lo da morte em uma batalha contra o deus do rio, além de ter criado, com a ajuda dos Titãs Cíclopes (no total de 3), armas usadas pelos deuses (o raio de Zeus, o tridente de Poseidon e o capacete de Hades); Ares – era o deus da guerra, filho de Zeus e Hera; na famosa guerra de Troia, lutou pelos dois lados, primeiro pelos aqueus/gregos e depois pelos troianos; Hermes – era o deus mensageiro do Olimpo. Durante a Guerra de Troia, se posicionou ao lado do exército grego; Eris – era a deusa do caos e da discórdia. Na Ilíada, foi descrita como irmã de Ares e filha de Zeus e Hera; Atena – filha de Zeus, era a deusa da sabedoria e da guerra e se posicionou ao lado dos aqueus/gregos; Deméter – deusa da terra e da fertilidade; Dionísio – deus da festa, do vinho e do prazer; Éos – deusa do amanhecer; Eros ou Cupido – deus do amor; Hades – filho de Zeus e Reia, dois Titãs, irmão de Zeus e Poseidon, deus do Tártaro ou Submundo; Perséfone – casando-se como Hades, era a deusa do Tártaro ou Submundo; Hélios – deus do Sol; Hera – deusa dos céus, da maternidade/do matrimônio; Héstia – deusa do fogo; Horas – deusa das estações do ano; Mnemósine – deusa da memória; Poseidon – filho de Zeus e Reia, dois Titãs, irmão de Zeus e Poseidon, era o deus dos mares; Selene – deusa da Lua e Têmis – deusa das leis; dentre outros.

Seres mitológicos e algumas histórias famosos

Tifão ou Tífon – Titã original; era um monstro tão poderoso que assustava até mesmo os deus olimpianos; era filho de Gaia ou de Hera, conforme a versão, com o Deus Tártaro (que tinha o mesmo nome do Submundo), um deus primordial nascido do Caos original.

Hipogrifo – criatura lendária e selvagem, embora tida como sensível e inteligente, tinha o corpo de cavalo, asas com penas e cabeça de águia, fruto do cruzamento de uma égua com um Grifo que, por sua vez, era um ser com cabeça de águia em um corpo de leão.

Quimera – criatura lendária, filha da Hidra de Lerna e do Leão de Nemeia, seres monstruosos que foram mortos pelo herói Hércules, em seus 12 trabalhos; tinha o corpo de cabra, a cabeça de leão e a cauda de dragão.

Hidra – criatura lendária, era um monstro marinho com corpo de dragão, asas e 7 cabeças de serpente, filha de Tifão e de Equidna.

Equidna – espécie de ninfa; era uma gigante com corpo de mulher e serpentes no lugar dos membros.

Heróis – normalmente eram semideuses, ou seja, filhos de deuses com humanos. Destacam-se: Perseu (matou a Medusa), Teseu (matou o Minitauro), Hércules (matou, por exemplo, o Leão de Neméia e a Hidra) e Belerofonte (matou a Quimera).

Ninfas – belas figuras mitológicas femininas, que cuidavam das florestas e da vida que nelas existiam. Por exemplo: Alseíde, tida como a mais bela das ninfas, protegia as flores e os bosques; ou as Dríades, espíritos da terra; as Náiades, espíritos dos rios e lagos ou as Nereidas ou Nereides, espíritos dos oceanos.

Sereias – personagens femininas que, em uma versão, eram seres da cintura para cima e corpo de peixe da cintura para cima. Podiam, também, ser representadas com asas e cabeça e busto de mulher. Eram, originariamente, as 3 filhas do Deus Aquelôo e da Musa Calíope que foram amaldiçoadas após competirem para ver quem tinha a voz mais harmoniosa e bonita. Encantaria, por esta maldição, marinheiros, atraindo-os para a morte.

Hárpias – aves de rapina com seios e rostos de mulher); em uma versão, eram seres traiçoeiros e cantariam, como as sereias, para enfeitiçar marinheiros e os atrair para a morte, como as sereias; em outra versão, eram mensageiras dos deuses.

Calíope – primogênita, mais sábia e tida como a líder das 9 Musas inspiradoras, era filha de Zeus com a deusa Mnemosine, deusa da memória; ela inspirava, principalmente, a poesia, as histórias épicas, da eloquência e, em algumas versões, da ciência.

Centauros – seres híbridos e fortes com corpo metade humano (da cintura para cima) e metade cavalo (da cintura para baixo), destacando-se Quíron, tido em algumas versões como amigo de Hércules, inimigo em outras versões; foi criado por Cronos.

Sátiros – seres com corpo de homem e patas e chifres de bode; correspondem aos faunos da mitologia romana; seriam insaciáveis, sexualmente falando. Dos sátiros gregos destacava-se , o deus dos bosques.

Górgonas – figuras femininas que possuíam cabelos de serpentes, por exemplo, a Medusa ; eram monstros com corpos cobertos por escamas, braços de metal e dentes grandes e pontiagudos e quem olhasse em seus olhos seria transformado em uma estátua de pedra.

Musas Gregas – eram criaturas femininas semidivinas que os gregos veneravam, entre elas, as filhas de Zeus e de Mnemósine: Clio; musa protetora e inspiradora da história; Polímnia; musa da oratória e poesia sacra; Urânia; musa da astronomia; Erato; musa da poesia amorosa; Euterpe; musa da música; Calíope (como visto acima); Melpomene; musa da poesia trágica; Terpsícore; musa da dança e canto e Talia; musa da comédia e da poesia

A Ilíada

Ilíada é um poema épico, composto por 24 cantos, hábito à época, que narra o cerco à cidade de Troia pelos Gregos ou Aqueus, liderados por Agamenon, armado a partir da  desculpa de regatar Helena, filha de Zeus com a mortal Leda e esposa de Menelau, Rei de Esparta e irmão de Agamenon, que foi raptada em algumas versões, seduzida, em outras, por Páris, príncipe troiano filho do Rei Príamo e Hécuba. Este fato teria detonado uma guerra sangrenta que duraria 10 anos. A obra começa sua narrativa com a fúria de Aquiles, um semideus-guerreiro, filho do Rei Peleu com a Ninfa Tétis que, inicialmente, teria decidido ficar à margem do conflito porque Agamenon, com quem não se dava bem, teria lhe roubado, por assim dizer, nobre troiana Briseis ou Briseida, que havia feito prisioneira logo nos primeiros atos da guerra. Aquiles só teria retornado à guerra quando seu primo ou amigo de guerra ou amante, depende da versão, Patroclo, foi morto em combate por Heitor, o príncipe mais velho de Troia. Homero também teria composto a Odisseia, outro clássico da literatura-histórica grega antiga, mas na verdade, é uma personagem um tanto misteriosa da mitologia grega, já que não há comprovação real de que ele sequer existido.

 

E aí?

Como escrevi na primeira parte deste longo artigo, se por um lado o termo “mitologia” se refere ao panteão de todos os povos e às suas explicações sobre o mundo e sua própria cosmogênese, a mitologia grega é a mais conhecida e a que mais facilmente podemos achar material de pesquisa, sejam livros, sejam artigos, sejam verbetes na rede mundial de computadores. Esta é, para relembrar, assim, a parte maior do artigo, que terá 15 ou 16 partes, daqui até o final deste ano, início do ano que vem. As demais partes, a serem publicadas de modo mais ou menos quinzenal, serão um tanto menores do que esta parte.

Como serão as outras mitologias, assim consideradas, com assertividade? Serão parecidas com a, bastante conhecida, mitologia grega? Serão muito diferentes? Há semelhanças? Podemos tirar lições delas, como tiramos da mitologia grega? Como é o panteão dos povos, no tempo e no espaço, deste lindo, porém maltratado, planeta água? Nossa cosmogênese, digo, do povo brasileiro, é diversa da que vemos em outros povos ou temos algo em comum, algo como arquétipos cosmogônicos, que nos identifica e afeta? É o que vamos começar a ver/ler a partir daqui e até o final da 15ª ou da 16ª parte desta pesquisa sobre as mitologias planetárias. Ao diverso, pois!

 

 

Carlos Fernando Galvão,
Geógrafo, Doutor em Ciências Sociais e Pós Doutor em Geografia Humana
cfgalvao@terra.com.br

 

 

 

 

 

Bibliografia de consulta e sugerida para aprofundamento

  • BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia – histórias de deuses e heróis. 34.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
  • FERRY, Luc. A sabedoria dos mitos gregos. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2009.
  • GRIMAL, Pierre. Mitologia Grega. Porto Alegre: L&PM, 2009.
  • Dicionário Etimológico da Mitologia Grega (DEMGOL). São Paulo: online, 2013.

 

 

Author

Carlos Fernando Galvão é carioca, Bacharel e Licenciado em Geografia (UFF), Especialista em Gestão Escolar (UFJF), Mestre em Ciência da Informação (UFRJ/CNPq), Doutor em Ciências Sociais (UERJ) e Pós Doutor em Geografia Humana (UFF). Autor de mais de 160 artigos, entre textos científicos e jornalísticos, tendo escrito para periódicos como O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Le Monde Diplomatique Brasil, também foi colaborador do Portal Acadêmico da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) entre 2015 e 2018. Atualmente, escreve com alguma regularidade no Portal ArteCult. É autor, igualmente, de 14 livros.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *