Projeto Matriz. Foto: Divulgação.
Artista plástica, Paula Scamparini, faz um olhar retrospectivo de sua carreira apresentando obras inéditas em exposição no Centro Atlântico de Arte Moderno, em Las Palmas de Gran Canaria, território espanhol, até dia 3 de junho.
A pandemia de coronavírus revelou uma nova perspectiva para as pessoas, em diversas partes do mundo. E, para uma paulistana, com vivência profissional no Rio e atual residência em Búzios, a artista plástica Paula Scamparini, o ressignificado do momento, também chegou carregado pela ocupação de um novo território: a mulher que se torna mãe. Imbuída da missão da maternagem, ela, que já transitava, nos últimos anos, pelas questões poéticas do feminino, revelando a existência da mulher em multiplicação em diversos papéis sociais, potencializa a interlocução no projeto artístico Matriz, que traz aquela que dá origem a outro ser, que carrega e precisa ser carregada por outras, muitas vezes.
As obras inéditas, fruto de um mergulho na sua carreira, estarão em exposição a partir do dia 30 de março, no Centro Atlântico de Arte Moderno (CAAM), em Las Palmas de Gran Canaria, em território Espanhol. É possível conferir os trabalhos até o dia 3 de junho. A exposição tem um formato itinerante, o que possibilita a transição para novos espaços.
A exposição Matriz se apresenta em cinco salas intituladas: ‘carregadoras, brincantes, ninar’, no segundo andar do museu. O projeto artístico exibe composições fotográficas, instalações e vídeos abordando a jornada existencial feminina, em corpos nus, carregando um projeto de vida, “em busca de sentido”, como pontua a artista, culminando no arcabouço imaginário do papel materno.
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A autora que passou boa parte da carreira em residências artísticas na Europa, sempre buscando levar sua identidade nacional nas obras — que já foram expostas em espaços culturais na Áustria e Portugal — encontrou sentido para assumir o papel da maternidade, em 2018, durante um retorno ao Brasil, quando participou de um projeto que tinha como finalidade a peregrinação por partes desconhecidas de sua própria cultura, como terras de aldeias indígenas e comunidades quilombolas, transitando pelos estados do Centro e Nordeste do Brasil.
A primeira sala ‘Carregadoras’, traz uma obra que faz parte do acervo do Museu de Arte Moderna do Rio – MAM. A peça foi produzida em Gomeira, uma das ilhas do arquipélago das Canárias, onde a principal atividade da ilha é a exportação de bananas. O local foi rota marítima de Cristóvão Colombo. Na época, Paula seguiu uma trilha entre montanhas na ilha, porque, na época, estudava sobre a comunicação peculiar dos povos originários a partir de assobios que reverberam pelas montanhas.
A segunda sala, ‘Brincantes’, traz obras suspensas, revelando mulheres, em corpos nus, sustentando a outra a partir da comunicação das crianças mais genuína: a brincadeira, ambientada nas praias, em Armação dos Búzios, no Brasil. Na sala seguinte, onze vozes femininas misturadas fazem parte de uma projeção, em que elas estão cantando canções de ninar que embalaram sua maternagem. E a última sala, revela-se um audiovisual desenvolvido a partir das oficinas de cerâmica em um convento, em Portugal, produzido pela artista, em 2016. Ainda na sala, emergem peças em argila, moldadas em formato de corpos se relacionando com metal em um espaço com terra.
Paula Scamparini. Foto: Diviçgação.
“Como eu sou professora universitária, tenho muitas referências no campo das artes. Eu visito grandes exposições, como a Bienal de Veneza e, talvez, por isso, eu tenha uma inclinação para um olhar mais instalativo do que para a obra única. E também transito no universo do audiovisual e da cenografia. Gosto de refletir sobre as cenas para a construção das minhas obras, acho que isso ocorre, por conta da minha experiência com direção de arte”, explica a artista que finalizou o projeto Matriz, após a mudança física para a península ensolarada no litoral do estado do Rio no momento em que também realizava um deslocamento espacial, orbitando nas questões da maternidade.
A exposição surgiu de um olhar retrospectivo sobre seus últimos dez anos, onde Paula percorreu, a partir da fotografia e da gravura, por múltiplas mídias, com ênfase em instalações, que envolvem cerâmica, tecido e escultura. Seus trabalhos, em que ela também faz parte da montagem, exercem uma interlocução com a temática feminina sob aspectos da liberdade, nudez, multiplicidade, vigoridade e fecundidade. Obras que refletem a representatividade das mulheres.
“Nesse momento, como mulher, é desafiador reassumir o meu espaço enquanto artista de produção, sendo mãe de uma criança de três anos, buscando dar conta das ocupações profissionais e da rotina. Assim como muitas mulheres mães, que constantemente negociam as demandas rotineiras com a própria existência”, questiona.
SOBRE PAULA SCAMPARINI
Paula é professora de Artes e Composição na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, formada em artes visuais pela UNICAMP-SP. Atuou em direção artística na indústria cinematográfica por dez anos. No campo das artes, ela participou de diversas exposições nacionais e internacionais, como:
· ‘Barco sobre lona’, exposição realizada na Aura Galeria, São Paulo, 2018;
· ‘In the south, turtels do not age’ instalação na MAG3, Vienna, Austria, 2018;
· ‘Orun’, exposição no Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, 2019.
· ‘Restauros’, exposição realizada simultaneamente no Museu Nacional Soares dos Reis e no Espaço T Quase Galeria, Porto, Portugal, 2017;
· ‘Vermelhos’ projeto realizado em Oficinas do Convento Montemor-o-novo, Portugal e exposição na galeria BLAU Projects, São Paulo, 2016;
· ‘3amargem’ instalação audiovisual realizada para individual na Galeria IBEU, Rio de Janeiro, 2015; ‘Oca-oxalá: made in portugal instalação audiovisual realizada no Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa, Portugal, 2015;
· ‘Mexeu com uma mexeu com todas’, uma exposição solo realizada na galeria GPL Contemporary, Viena, Austria, 2015;
Paula Scamparini. Foto: Diviçgação.
· ‘Série palavras’ foto-instalativa produzida durante residência artística no La CourDieu em La Roche-en-Brenil, França, em 2012 e exibida em CAHO RJ, PhotoEspana em 2015, Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa, Portugal, 2015;
· ‘Verboten series’ foto-instalação exibida parcialmente na Galeria Gedok, Munique e na Kunstlerhaus em Viena, na Rathaus Galerie Munique e na GPL Contemporary em Viena, Austria, 2014;
· ‘Série elfos fotoperformativa exposta na individual ‘Por entre o breu que as folhas formam’, exposição realizada na Casa de Cultura da America Latina, Brasília, 2014;
· “As 23 noites’ de peças escultóricas em papel, exibidas no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica RJ e Galeria IBEU, Rio de Janeiro, 2011;
