Marcelo D2 lança Iboru, seu 9º álbum da carreira!
MD2 vem com seu novo disco Iboru: traduzido livremente do Yoruba, significa “que sejam ouvidas as nossas súplicas”, há dois anos D2 se iniciou no Ifá, religião de matriz africana, e a prática religiosa claramente influenciou sua arte. O disco mergulha nas tradições do samba de terreiro e conta com participações de artistas como Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Alcione, Mumuzinho, B Negão, Mateus Aleluia e a banda Metá Metá, além de incorporar samples dos saudosos Romildo e Monarco, compositores de escolas de samba.
D2 cai no samba sem descartar os graves do hip hop, motes explícitos do afiado afro-trap “Tambor de aço” (Marcelo D2, Nave Beatz e Tropkillaz), faixa alienígena do disco, mas também presentes ao longo de álbum pautado pelo mix de percussões e programações. D2 tampouco deixa que o samba perca a supremacia ao longo das 16 faixas de Iboru.
O registro traz também composições de nomes de diferentes gerações do samba, incluindo Moacyr Luz, Diogo Nogueira, Marcelinho Moreira, João Martins, Inácio Rios, Arlindinho e Marcio Alexandre. O trabalho conjunto com o historiador e escritor Luiz Antonio Simas em duas músicas ainda evidencia a busca de Marcelo por aprofundar suas raízes na cultura popular brasileira.
IBORU convida o ouvinte a mergulhar na “ancestralidade de futuro” – conceito que permeia o álbum e o novo momento criativo e de vida do artista. Em vez de fazer rap com toque de samba, como em álbuns À procura da batida perfeita (2003), título antológico da discografia solo de D2 que completa 20 anos em 2023, o rapper faz samba em Iboru. Sim, Iboru é disco de samba, tal como o álbum de 2010 (Marcelo D2 Canta Bezerra Da Silva) em que D2 adentrou os morros cariocas e fluminenses para abordar o repertório marginalizado do cantor e compositor Bezerra da Silva (1927 – 2005), mas Iboru tem a relevância de ser um disco de samba autoral.
O álbum flui bem. Após pedir passagem com o canto falado de Saravá (Marcelo D2 e Barba Negra), espécie de carta de intenções do disco e do artista, D2 apresenta o melhor samba da inédita safra autoral – composta por 12 das 16 músicas de Iboru – ao ecoar a ancestralidade de Clementina de Jesus (1901 – 1987) com a voz adicional de Nega Duda.
“Ando meio cansado mesmo de fazer isso mesmo (musica de protesto). Prefiro fazer um disco de fé, de esperança. Brasil merece olhar para frente”. Marcelo D2
Até clarear (Arlindinho Cruz, Diogo Nogueira, Igor Leal e Inácio Rios) soa como espécie de festa de arromba do pagode e reiterando o espírito gregário de Iboru, álbum que alinha, entre os convidados, um punhado de bambas do porte de Alcione. “Só morro quando meu samba morrer”, sentencia D2 no verso-refrão-título do partido que compôs com Marcio Alexandre. A gravação embute locução de telejornal sobre a chegada do samba à cidade do Rio de Janeiro (RJ).
“Esse disco é sobre tempo e utopia. É muito interessante descobrir essa ancestralidade do futuro que está no aqui e no agora. O ancestral é sempre contemporâneo e está aqui com a gente. Isso tem um significado muito forte para mim”, comenta Marcelo D2.
Parceria de D2 com Kiko Dinucci, Kalundu é samba assentado no terreiro mais ancestral e alicerçado pelo vocal de Mateus Aleluia, elo com a mãe África. Bamba de Sampa, Dinucci também assina com D2 Tempo de opinião – samba gravado com o toque levemente dissonante do trio Metá Metá e o canto de Juçara Marçal, vocalista do grupo paulistano – e Abrindo os caminhos (este com adesões de Cabelo e Nave Beatz na autoria).
A Vinheta falada, Pedacinhos de Paulete é réquiem de D2 para a mãe, Paulete Peixoto, morta em 2021.
“Aquela mulher que nasceu como uma estrela
Fez sua base no Catete, coração em Padre Miguel e raiz em Madureira
Levou a vida com alegriaE fez a sua estrela brilharDerramou em seu rebanho esperança e amor e coragem pra lutarO que é que somos?Pedacinhos de PauleteÉ isso que a gente éNós honramos o seu sangue, seu passado é nossa históriaE vai continuar dе pé”Salve, Dona Paulete