Mesmo que eu não gostasse desse espetáculo, iria escrever. Tenho devoção por Nelson Mandela, por sua história, por todos os seus feitos.
Ainda era menina, quando eu ouvia falar do inaceitável apartheid na África do Sul. Na escola, nas aulas de história, alguns filmes eram levados para assistirmos. Eu estudei na Fundação Bradesco e o meu professor se chamava Eduardo, hoje eu entendo mais aquele professor do que naquela época. O visual dele, era diferente dos demais, menos almofadinha, acho que combinaríamos.
Em 1988, a banda Simple Minds lançou a música “Mandela Day”, dois anos depois Mandela estava livre. A música foi profética.
“Se as lágrimas estão fluindo, enxugue-as de seu rosto
Eu posso sentir a batida do coração dele movendo bem fundo
Há 25 anos eles levaram embora aquele homem
E agora o mundo vem e diz, ‘Nelson Mandela está livre'”
https://www.youtube.com/watch?v=U_8B_9fTxoo
Mandela é icônico, sempre será.
“Nascido numa família de nobreza tribal, numa pequena aldeia do interior de onde possivelmente ocuparia cargo de chefia, recusou esse destino aos 23 anos ao seguir para a capital, Joanesburgo, e iniciar sua atuação política. Passando do interior rural para uma vida rebelde na faculdade, transformou-se em um jovem advogado na capital e líder da resistência não violenta da juventude, acabando como réu em um infame julgamento por traição. Foragido, tornou-se depois o prisioneiro mais famoso do mundo e, finalmente, o político mais galardoado em vida, responsável pela refundação do seu país como uma sociedade multiétnica.
Mandela passou 27 anos na prisão — inicialmente em Robben Island e, mais tarde, nas prisões de Pollsmoor e Victor Verster. Depois de uma campanha internacional, foi liberto em 1990, quando recrudescia a guerra civil em seu país.”
Quando a África do Sul foi sede da Copa do mundo em 1995, lembro com tamanha emoção, aquele homem unindo pela primeira vez em um estádio, brancos e negros. Mandela não pode ser esquecido e por isso falar sobre esse espetáculo é cumprir com a minha obrigação de manter a sua memória, incentivando as crianças a conhecê-lo. Se de um lado foram 27 anos esperando a liberdade desse honroso ativista, do outro lado, foram 25 tentativas de trazer esse espetáculo por meio de um patrocínio.
A obra “Menino Mandela” é uma graça, um pouco mais inclinado para o infanto juvenil em alguns momentos.
O espetáculo esteticamente é belo, isso é inegável, com cores menos quentes. Um grande pé de baobá parece estar no alto do palco, pendurada em uma vara cênica, não tenho certeza. Nas raízes tinham lâmpadas, chamou muito a minha atenção. Vale lembrar algo que aprendi faz pouco tempo. Se a árvore baobá é considerada sagrada e simbolo de resistência para os negros, no livro “O Pequeno Príncipe” é visto como um caos, algo ruim, o que desencadeia hoje estudos sobre esse olhar no clássico infantil.
Os figurinos não nos levam as cores africanas, cores fortes e calorosas, mais sim ao preto e branco, com padronagens diferentes. No vestido da professora, não sei se estou certa, vi algumas figuras tipo ideogramas africanos, confesso que curti. Ficou elegante, não se confundiu com o cenário que trazia tapetes em um tom ocre, por exemplo.
A direção musical do Wladimir Pinheiro ganha pontos com a Flávia Chagas e o seu violoncelo e Geiza Carvalho com sua percussão. Sem contar as músicas africanas, que amo, trazidas para o espetáculo.
O teatro de animação chega ao palco, e não de qualquer maneira, o fera, Dante, roubou meu coração com a avó e o próprio Nelson Mandela por meio de bonecos, que emoção meu Deus! A preparação de bonecos é realizada por outro Fera, Marcio Nascimento, o mestre, a meu ver, do teatro de animação, Marcio é uma referência no assunto e eu o reverencio por seus trabalhos.
A professora do Mandela, que também está presente no palco em outras cenas, fez a triangulação do olhar com perfeição. É bom ressaltar. A crítica aqui estudou com Márcio para poder estar apta a escrever sobre.
Em um dos momentos os personagens vão a um acontecimento na África, na tribo que fazem parte, e o inesperado acontece, animais africanos chegam ao palco, não posso contar, mas adianto que é belíssimo, um presente para nós e um tributo a beleza da África. O Aramista é responsável por essa criação, não o conheço, mas agora virei fã.
As coreografias de Fernanda Dias, estão ótimas, as danças africanas, os movimentos são de excelência, e ela os trouxe belissimamente ao palco.
Já a iluminação é dela, Ana Luzia. Com o importante prêmio Shell de teatro nas mãos, a Paty Lopes não tem nem o que falar, claro que ela soube trazer uma iluminação agradável, que faz bem aos olhos, nada gritante. Ana é assim, sempre equilibrada em seus raios de luz, assertiva!
Sara, Tati e Vanessa. São elas que me abriram os olhos. A menina Sara interpreta a neta de Mandela, que viaja no futuro para encontrar o avô ainda menino. Tudo em Sara é perfeito, movimento, tom de voz, uma atriz leve, consciente em seu fazer teatro, gostei muito dela. Principalmente para o teatro infantil.
A Tati, faz a Mãe do nosso amado Mandela. Claro que com sua voz, desperta o espectador, nos leva a sonhar, ela tem a voz das princesas, a conheci no espetáculo Nina, e posso dizer que ouvir Tati é sempre prazeroso, ela é perfeita!
Vanessa, quando ela encena a professora, a vontade que nos vem, é que ela não saia do palco. NUNCA.
Divertidíssima, se entrega ao papel e nós amantes do teatro nos deliciamos.
Enfim, a obra merece ser vista, se repassada para os filhos por trazer esse homem tão importante na história do mundo. Trazer Nelson Mandela, falar dele, é levantar bandeira, não aceitar a falta de humanidade no homem, é sempre seguir o caminho da diversidade, é mais que isso, é saber que as crianças estão no caminho certo!
Vamos ao teatro, vamos levar nossas crianças para assistir essa obra, para que essa representatividade entre na cabeça delas, para que elas tenham afeto e cresça saudável em todos os sentidos!
SINOPSE
Zoe, neta de Nelson Mandela, precisa fazer um trabalho de escola sobre seu avô e contar como foi sua infância na aldeia sul-africana Qunu. Conversando com o avô e revolvendo suas memórias, uma “fenda no espaço-tempo” transporta Zoe para 1926, onde ela encontra o menino Rolihlahla, que se desdobra para aproveitar ao máximo a vida entre brincadeiras, obrigações e o aprendizado com os anciões de sua tribo. Quando começa a frequentar a escola, recebe de sua professora um novo nome, Nelson. Às voltas com um mundo repleto de hábitos e saberes novos, o menino vai enfrentar a perda precoce do pai e a despedida da mãe, que precisa entregá-lo aos cuidados de seu tutor, o Rei Jongintaba. A partir daí, o pequeno Nelson terá que desbravar um mundo desconhecido e pautado pela desigualdade racial.
FICHA TÉCNICA
Texto – Ricardo Gomes e Mariana Jaspe
Direção Artística e Idealização – Arlindo Lopes
Direção Musical, Arranjos e Música Original – Wladimir Pinheiro
Coreografias e Preparação Corporal – Fernanda Dias
Assistência de Direção e Preparação em Yoga – Vanessa Pascale
Elenco / Personagem
Abraão Kimberley / Rolihlahla, Mandela Menino
Sara Hana / Zoe, neta de Mandela
Wladimir Pinheiro / Nkosi Gadia (pai de Mandela), Rei Jongintaba e Mandela adulto
Tati Christine / Noseki Fanny, mãe de Mandela
Vanessa Pascale / Professora Mdingane, Vó Tituba e Reitor
Musicistas – Flávia Chagas (violoncelista) e Geiza Carvalho (percussionista), Wladimir Pinheiro (piano) e Abraão Kimberley (trompete)
Figurino – Tereza Nabuco
Cenário – Mauro Vicente Ferreira
Iluminação – Ana Luzia Molinari de Simoni
Bonecos – Dante
Visagista – Joana Seibel
Design de Som – Lucas Campello
Design Gráfico – Gilberto Filho
Trancista – Bruna Santanna
Fotografias – Renato Mangolin
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
Direção de Produção – Arlindo Lopes
Coordenação de Produção – Carol Piccoli
Produção Executiva – Carlotta Romanelli e Gilberto Filho
Realização – Pássaro Azul Produções Culturais
SERVIÇO
ESTREIA: dia 16 de março (sábado), às 16h
ONDE: Teatro Futuros / Futuros Arte e Tecnologia
Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo / RJ Tel: (21) 3131-3060
HORÁRIOS: sábados e domingos às 16h / INGRESSOS: R$40 e R$20 (meia) / FUNCIONAMENTO BILHETERIA: não há bilheteria física – a validação dos ingressos é feita a partir de meia hora antes do espetáculo no térreo / / VENDAS ONLINE: www.sympla.com.br / CAPACIDADE: 63 espectadores (sendo 1 assento para cadeirante/PDC e acompanhante cadeirante, e 1 cadeira para obeso) / DURAÇÃO: 60 min / GÊNERO: musical infantil / CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: livre, e recomendada para a partir de 03 anos / TEMPORADA: até 14 de abril
Paty Lopes
