LUCIANA & MARIAS
Desde pequena em Colombo (Região Metropolitana de Curitiba no Paraná) e com o pouco que já sabia de crochê, Luciana Cortez já ensinava para as pessoas os primeiros passos com linha e agulha.
Mais tarde, após ter sofrido com o filho pequeno um sequestro relâmpago em 2007, que a afetou muito causando depressão e síndrome do pânico, utilizou o crochê como terapia. Neste período, quem passava por sua casa em Rio Bonito (loteamento popular do bairro Tatuquara de Cuiritiba) a via tricotando, acaba sendo convidado a aprender também. Luciana deu de chamar quem quisesse para rodas de crochê regadas a refrigerante, pão doce e conversa fiada, ali mesmo, na sala de casa. O mutirão logo ganhou o nome de “Lucianas & Marias”, uma ONG que é uma espécie de clube de crocheteiras hoje espalhado por oito unidades de saúde de Curitiba, com braços em escolas e a quem interessar possa. De 2015 para cá, a iniciativa atingiu mais de mil pessoas.
“Criar algo do zero traz uma realização, que faz diferença para quem passa por um problema psicológico”, diz Luciana.
Luciana conta que o projeto ajuda em três grandes frentes as famílias envolvidas: gera arte, renda e saúde mental. Com as peças que fazem, as mulheres vão além de enfeitar a casa. Vendem a produção e garantem renda extra.
Na liderança deste projeto, ela atualmente ensina crochê em postos de saúde, escolas, eventos, associações de moradores e outros locais públicos.
Através de uma técnica pessoal e uma velocidade espantosa, ela cria peças com muita facilidade, inclusive peças grandes como por exemplo umapeça que cobria um bicicleta com fios coloridos e um boneco do vocalista do Aerosmith, Steven Tyler.
CARTAS PARA MUDAR
“Luciana das Cartas” também é outro apelido que já recebeu. Inspirada no filme “Um Sonho de Liberdade“, cujo roteiro possui um detento que pede livros, através de cartas, para a direção do presídio, Luciana espalhou urnas de papelão em escolas e postos de saúde e estimulou as pessoas a fazerem pedidos para comunidade. Surgiu então também um projeto batizado de “Cartas Para Mudar”.
Como começou: assim que se mudou para o Rio Bonito, ela percebeu que as filas na Unidade de Saúde começavam às quatro da madruga. Uma dia se abalou até lá, insone, saber qual era a ladainha. Trouxe um rosário de queixas sobre falta de médicos e a odisseia para conseguir consultas. Indignou-se. Sugeriu que a turma se manifestasse por escrito. Além de ajudar na redação, levava as reivindicações à prefeitura. Diferente dos abaixo-assinados – que, tendo 500 ou 1 milhão de assinaturas, geram um único documento –, as cartas são documentos unitários e chama ainda mais a atenção das autoridades. Até a última contagem, fomos informados que as cartas do Rio Bonito somaram um lote de quase 7 mil !