
O ator Lucas Figueiredo pelo olhar de Kamilly Dória
Por Cristiana Lobo
Lucas Figueiredo tinha seis anos quando subiu pela primeira vez no palco da sua cidade natal, Saquarema, na Região dos Lagos. Hoje, aos 28, já são 22 anos dedicados ao teatro e ele acaba de receber, no último dia 18, um “diploma de honra ao mérito”- uma merecida homenagem da prefeitura pela sua contribuição à cultura local.
“Foi uma grande emoção revestida de surpresa e esperança”, diz. “Com quase 30 anos, nunca tinha visto autoridades do município reunidas para falar sobre teatro e seus agentes culturais.”

Prefeita Lucimar Vidal, Lucas Figueiredo e Priscila
Apesar de jovem, ele já tem longa trajetória no ofício, desde os 13 anos atua com frequência. Formado em Artes Cênicas pela CAL (Rio), Lucas atualmente mora no Rio e já integrou o elenco de mais de 25 peças, atuando ao lado de nomes como Tânia Alves, Diogo Vilela, Rose Abdallah, Giulia Bertolli, Isabela Marano, entre outros. Trabalhou com diretores como João Fonseca, Luiz Furlanetto, Marcus Alvisi e Marcos França. Ele já se apresentou em diversas montagens pelo Brasil, passando por cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis, São Luís e Fortaleza.
Com a rotina apertada entre ensaios, viagens e produções, ele segue para Brasília na semana que vem com a peça “O Bem-Amado”, uma adaptação de Dias Gomes. Volta a tempo para a estreia no Rio, na próxima sexta, dia 03 de outubro, de “Minha mãe é um espírito – a comédia”, no Cine Teatro Joia, em Copacabana. O texto é de Paulo Fernando Mello e a direção leva a assinatura da premiada Ticiana Studart, professora da CAL. O espetáculo inaugura o Grupo Ânima, criado por Lucas e pela atriz Ana Carolina Rainha, sua parceira de longa data — os dois viajaram o país com a peça “Allan Kardec – Um Olhar para a Eternidade”.
Na nova peça, Lucas vai interpretar Rick, um filho hipocondríaco e desnorteado, que tenta lidar com a presença da mãe Lindaura (Ana Carolina Rainha), uma mulher perspicaz, manipuladora e aterrorizada pela morte. A peça retrata cenas e conflitos do cotidiano com humor e toques de absurdo, usando uma linguagem contemporânea inspirada em Almodóvar. A montagem conta também com o trabalho de Cybele Alonso (direção de movimento), Kamilla Rufino (direção de arte) e Aurélio de Simoni – o grande mestre da iluminação dos palcos cariocas.
“Eu e Ana Rainha temos uma equipe tão vocacionada e apaixonada nesta montagem, é lindo demais. Só temos a agradecer”, celebra Lucas.
Teatro como missão
Mas o palco não é o único lugar onde o ator construiu a sua história. Durante anos, Lucas deu aulas de teatro em escolas públicas de Saquarema, levando sua experiência a jovens em situações de vulnerabilidade.
Ele conta que alguns dos alunos que chegavam às aulas marcados por abusos, sem água potável em casa ou já usuários de drogas e muitas vezes encontravam na arte uma forma de reorganizar a própria dor.
“Não posso nem mensurar quantos deles me emocionaram ao canalizarem suas dores na arte e equacioná-las de alguma forma. Vez por outra, quando vou à minha casa em Saquarema, encontro com alguns deles por acaso e percebo na expressão do olhar como o processo vivido foi importante.”
Lucas também auxiliou estudantes com dificuldades de fala a encontrarem uma nova forma de se comunicar.
“Este trabalho é um mergulho muito bonito, não vejo sentido na vida se não for dessa forma.”
O futuro do Ânima
O Grupo Ânima, fundado por Lucas e Ana, nasce com a proposta de ir além do teatro e experimentar outras linguagens artísticas.
“Queremos um grupo vivo, que dialogue com as transformações do nosso tempo”, diz o ator.
Apesar da agenda lotada, ele sempre encontra tempo para uma outra paixão: ler e estudar.
“Além do prazer de ler obras de grandes dramaturgos, considero essencial investir tempo e energia na busca permanente pelo conhecimento, faz parte da minha construção como ator e da minha formação como professor. Dois ofícios que caminham juntos, alimentando tanto a minha arte no palco quanto o aprendizado que levo aos meus alunos.”
Para Lucas, o palco é mais que trabalho: é território de afeto, de risco e de reinvenção — e ele parece disposto a habitá-lo enquanto houver histórias para contar.
O público agradece.









