Livros sempre são bons companheiros e em tempos de isolamento social, inseparáveis. Li muitos e reli tantos outros a fim de melhor (re)avaliar minhas transformações e me permitir lançar novos olhares e perspectivas. Assim, aprendi, reaprendi, joguei fora antigos valores, adquiri outros e revivi certas emoções. Uma das leituras me tirou o fôlego. Foram os escritos do jornalista Thomas E. Ricks, especialista em assuntos militares e de segurança nacional, “Churchill & Orwell – A luta pela liberdade”, editado pela Zahar.
O autor aborda com tenacidade o cruzamento de ideais de Winston Churchill e George Orwell. Cada um ao seu modo lutou para preservar a liberdade individual em uma época em que o Estado julgava ter poder (quase) absoluto de se intrometer na vida privada de seus cidadãos – pós década de 30, do século XX.
Muito defensores da política europeia, e da britânica em particular, viam na atitude de conciliação a forma mais inteligente de conter a ascensão nazista. Churchill, ao contrário, defendia com veemência a necessidade de abortar os propósitos insanos do chanceler alemão. Em suas palavras :
“estamos lutando para salvar o mundo da pestilenta tirania nazista para defender tudo que é mais sagrado ao homem (….) para gravar, em rochas indestrutíveis, os% direitos individuais, e uma guerra para afirmar e reavivar a estatura da espécie humana”, pág 91.
Em 1936, Orwell foi ao centro da resistência à guerra civil espanhola (Barcelona), para pretensamente escrever sobre os acontecimentos locais, mas ingressou nas fileiras antidireitistas espanholas que se opunham aos fascistas de Francisco Franco. O que ele vivenciou por lá influenciou todos os seus escritos subsequentes, até atingir o ápice com “A revolução dos bichos”, publicado em 1945 e em quatro anos depois o célebre “1984”. Em ambos o poder totalitário se faz presente. No primeiro, aborda a revolta dos animais de uma fazenda contra seus donos humanos. A história termina com os rebeldes (animais) sendo escravizados pelos porcos, que estão jogando cartas e bebendo com os humanos com quem fazem negócios. No segundo (1984), por meio do Grande Irmão, o abuso totalitário pode vir de qualquer direção. O que importa é que o Estado tudo vê e decide “ao ponto de registrar uma batida do coração”, pág.231.
As lágrimas e suor de Churchill e os escritos de Orwell ajudaram a mudar a trajetória da humanidade, são figuras contemporâneas de nossos tempos.