Kendrick Lamar e GNX: Bater de frente com a indústria não é para todos

 

Kendrick Lamar surpreendeu ao lançar há alguns dias, sem aviso prévio, o álbum GNX   já considerado um dos melhores lançamentos de 2024. Este feito se alinha perfeitamente à história do carro que inspirou o título do álbum: o Buick Regal GNX, que, em 1987, foi o carro mais rápido fabricado nos Estados Unidos.

Não é apenas a velocidade que une Lamar e o GNX, mas também um vínculo sentimental profundo. O rapper tem uma conexão pessoal com esse modelo, que representa tanto um marco de desempenho quanto um símbolo da época de seu nascimento. Assim como o carro, que ultrapassou limites de velocidade e se destacou no cenário automotivo da época, Kendrick também demonstra, com GNX, seu poder de surpreender e romper barreiras no universo da música, criando algo que promete ser inesquecível.

Nadando contra a corrente da indústria

Lançar música às sextas-feiras é uma prática consolidada, mas, na maioria das vezes, ela vem acompanhada de um calendário meticuloso: singles, prévias em redes sociais e anúncios estrondosos. Kendrick, no entanto, desprezou todas essas convenções. Em vez disso, confiou na força de seu nome e no impacto puro da surpresa para dominar as conversas e playlists globais.

 

Kendrick Lamar (Foto: pgLang | Divulgação)

 

Esse método não é novidade para Lamar, mas GNX eleva a estratégia ao extremo. Longe de ser um golpe de marketing vazio, o álbum é uma obra que equilibra momentos de agressividade e introspecção, sinalizando que Kendrick tem plena consciência do valor cultural de sua arte. A ausência de pré-lançamento transforma a experiência em algo visceral: o público e a crítica recebem tudo ao mesmo tempo, sem filtro ou expectativas formatadas.

 

A força da surpresa

O impacto de GNX foi imediato. Em apenas 48 horas, o álbum atingiu 74 milhões de streams no Spotify, com 44 milhões registrados nas primeiras sete horas após o lançamento. Esse sucesso absoluto reflete a enorme demanda pelo trabalho de Kendrick e reforça o poder de sua base de fãs.

Especialistas apontam que, se o álbum tivesse sido lançado à meia-noite, ele poderia ter superado 100 milhões de streams no primeiro dia, o que só aumenta a prova da popularidade imensa de Kendrick. O fato de um artista conseguir tais números sem qualquer antecipação ou promoção formal destaca a força de seu nome e o vínculo inabalável com o público.

Após o marco de sua carreira com Mr. Morale & the Big Steppers (2022), Kendrick Lamar volta a surpreender com o lançamento inesperado de GNX, seu primeiro álbum fora da TDE, agora sob o selo pgLang/Interscope. Mais do que uma coleção de faixas, o disco é um manifesto que equilibra momentos de introspecção, críticas à indústria e provocações diretas que reverberam entre seus pares — incluindo a já notória rivalidade com Drake.

 

GNX: música como arma e reflexão

O álbum, produzido principalmente por Sounwave e Jack Antonoff, combina a agressividade de faixas como “wacced out murals” com o lirismo contemplativo de “gloria”. Kendrick reflete sobre temas como lealdade, autenticidade e sua relação com o hip-hop, enquanto exalta novos talentos californianos em participações estratégicas.

Destaque também para faixas como “reincarnated,” onde Lamar recorre a samples de Tupac para explorar a reincarnação e aprendizado ao longo das gerações, e “luther,” uma colaboração com SZA que traduz seu desejo por um mundo ideal — ainda que com o toque ácido do rapper.

 

Mais um capítulo da novela com Drake

Drake (Foto: Amy Sussman/Getty Image)

Enquanto Kendrick utiliza GNX como veículo para críticas à indústria e seus desafetos, a disputa com Drake ganha um novo capítulo. A treta, reavivada pela faixa “Not Like Us” e comentários velados ao longo do álbum, transcende as barreiras do musical, gerando discussões sobre marketing, autenticidade e competitividade no hip-hop.

Em um movimento surpreendente, Drake entrou com um processo judicial contra a Universal Music e o Spotify, alegando que ambas as empresas manipularam os dados de audiência da faixa. Lançada em maio, Not Like Us é uma diss direta a Drake, repleta de deboches e acusações que acentuaram ainda mais a rivalidade entre os dois gigantes do rap. Com 29 semanas no Hot 100 e até uma indicação ao Grammy, a música rapidamente se tornou um fenômeno, mas também gerou acusações de manipulação nos bastidores.

Drake alega que tanto a Universal quanto o Spotify usaram métodos questionáveis, incluindo robôs, para inflar os números de streaming da faixa, além de campanhas pagas para promover a música. A gravadora teria até modificado a taxa de licenciamento para aumentar a distribuição no Spotify, um golpe baixo que, segundo os advogados de Drake, visaria inflar ainda mais as estatísticas.

Esse episódio não é apenas uma briga entre dois rappers de peso, mas uma janela para as complexas e muitas vezes nebulosas estratégias comerciais que movem a indústria musical. Not Like Us não é apenas uma diss, mas também um símbolo do poder que Kendrick Lamar, com seu talento e habilidade estratégica, exerce no mercado — um poder que até mesmo as grandes gravadoras e plataformas digitais tentam manipular para maximizar lucros e atenção.

Enquanto isso, a rivalidade entre os dois artistas parece longe de terminar. Com o lançamento surpresa de GNX e a repercussão de sua música, Kendrick não só reafirma seu status como uma das maiores forças da música atual, mas também alimenta ainda mais as chamas de uma disputa que já é lendária.

 

O futuro do hip-hop na visão de Kendrick

Encerrando com a faixa “gloria,” Lamar deixa claro que sua visão para o hip-hop vai além das rivalidades. Ele reivindica autenticidade e maturidade lírica, propondo um novo ciclo para o gênero, onde a música não só entretem, mas também transforma. Com GNX, Kendrick reafirma seu lugar no panteão dos grandes enquanto aponta para um futuro onde o hip-hop resgata sua essência como arte revolucionária.

 

Lançar um álbum como GNX sem aviso não é apenas uma estratégia de risco calculado; é um testamento da relação única de Kendrick com sua arte e seu público. Ele confia tanto em sua música quanto na inteligência de sua base de fãs para absorver e interpretar suas mensagens.

Kendrick Lamar redefine o significado de ser um líder cultural, mostrando que, na era do marketing excessivo, o silêncio estratégico pode ser mais poderoso do que qualquer campanha. Com GNX, ele prova que sua genialidade não está apenas no que ele diz em suas letras, mas também em como escolhe apresentar sua arte ao mundo.

Em uma indústria que constantemente flerta com manipulações e estratégias de marketing agressivas, Lamar prova que, no fim, a genialidade artística e a surpresa ainda são os maiores aliados.

Quem tem coragem de bater de frente com um carro tão veloz?

 

TICI PINHEIRO

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Author

Tici é jornalista musical, com sólida experiência no mercado da música, atuando em veículos como ROCKline e Universal Music Brasil. O foco do seu site, Vivendo de Shows, é a cobertura de shows, festivais e entrevistas. Especialista em redes sociais voltadas para o universo musical, tem contribuído para amplificar a voz de artistas e conectar fãs através de uma comunicação estratégica e engajante.

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